Descrição de chapéu Selic copom juros

Bolsa ganha força, mas patamar 'mágico' da Selic para saída da renda fixa ainda está distante

Combinação de cenários no Brasil e nos EUA sustenta alta do Ibovespa, mas aceleração ainda tem limites

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São Paulo

Apesar da alta volatilidade dos ativos globais, com o mercado reativo a qualquer dado de atividade nos Estados Unidos, a Bolsa de Valores brasileira vem ganhando força e registrou três recordes seguidos na semana passada, em um movimento sustentado, principalmente, por estrangeiros, segundo analistas.

Ainda assim, a migração da renda fixa para o mercado acionário não deve acontecer tão cedo.

O Itaú BBA fez um levantamento com 130 investidores institucionais nacionais do chamado "by side", ou seja, que atuam no lado comprador dos ativos para seus clientes, e perguntou qual seria o "número mágico" da taxa básica de juros, a Selic, que justificaria uma saída da renda fixa em direção à Bolsa.

A resposta geral foi 9%. Atualmente, a taxa está em 10,50% ao ano, e já há expectativas de elevação no próximo mês.

A postura mais dura adotada pelo Banco Central do Brasil, que colocou a possibilidade de volta do ciclo de alta dos juros na mesa, reforça um otimismo com a Bolsa brasileira, porque mostra compromisso com a meta de inflação e abre espaço para uma queda maior da Selic no próximo ano.

Operadores extremamente reativos a dados nos Estados Unidos e a falas de diretores do BC no Brasil trazem volatilidade aos mercados
Operadores extremamente reativos a dados nos Estados Unidos e a falas de diretores do BC no Brasil trazem volatilidade aos mercados - Michael Nagle/Xinhua

Segundo Daniel Gewehr, estrategista-chefe de ações do Itaú BBA, mais do que os juros de curto prazo, o que mais impacta no Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do país, é a precificação do mercado para a curva mais longa, principalmente as taxas dos contratos que vencem em dez anos.

Por isso, uma alta da Selic neste ano, projeção que vem crescendo entre bancos e casas de análise segundo levantamento da Folha, dá um fôlego para a Bolsa. Afinal, o movimento traz credibilidade em relação à política monetária e à trajetória da inflação e dos juros no futuro, atraindo investidores com apetite ao risco.

Esse cenário, somado à queda de juros nos EUA aguardada pelo mercado, reforça ainda mais a atratividade de um país emergente como o Brasil, já que, aí sim, os investidores estrangeiros tendem a sair da renda fixa americana, que agora deve pagar um prêmio menor, e migrar um pouco mais para ativos de maior risco, que trarão um retorno mais interessante.

Essa análise pode ser traduzida em números. Entre julho e agosto, houve entrada de cerca de R$ 11 bilhões de aportes estrangeiros no mercado de ações do Brasil, sem contar o que a privatização da Sabesp trouxe para a Bolsa nesse período.

O movimento se configura como uma reversão de fluxo, após a saída de quase R$ 40 bilhões no primeiro semestre, segundo Jennie Li, estrategista de ações da XP.

Mas, por outro lado, se de fato o BC do Brasil subir juros neste ano, os investidores brasileiros vão continuar a encontrar boas oportunidades em títulos de renda fixa domésticos, o que deve dificultar por ora uma migração para o mercado de ações.

"O investidor local vai perder o senso de urgência de comprar a Bolsa se os juros curtos subirem. Então, todo aquele financial deepening [aprofundamento financeiro] de entrar X bilhões em Bolsa porque a pessoa vai tirar da renda fixa, eu acho que isso não deve acontecer de maneira relevante", diz Daniel Gewehr.

O economista Yuri Alves, da Guide Investimentos, chama atenção para o fato de as taxas de remuneração dos títulos de renda fixa se manterem ainda muito altas, mesmo após um forte movimento de elevação visto desde o ano passado no Brasil.

"Muita gente do mercado diz que IPCA + 6% [prêmio pago por alguns títulos do Tesouro indexados à inflação] é imbatível. Mas ainda vejo um potencial prêmio na curva de juros, tanto na ponta longa como na ponta curta", diz Alves.

Segundo o economista, os juros longos devem se manter mais altos devido à percepção de risco que ainda paira em relação às contas públicas. Quando isso acontece, o mercado cobra taxas mais altas para compensar o risco de tomar dívida do governo.

Em junho, a Bolsa brasileira acumulou no ano o pior desempenho entre as principais economias do mundo após o governo não demonstrar comprometimento com as metas fiscais que haviam sido estabelecidas para o próximo ano.

Agora, porém, muitos analistas estão enxergando uma melhora após esforços da equipe econômica em demonstrar compromisso fiscal, não apenas ao incrementar a arrecadação, mas também ao apresentar medidas de corte de gastos.

"Vejo um certo ponto de reversão para o risco fiscal. Na quinta-feira [22], por exemplo, a gente viu os dados de arrecadação fortes. Isso tende a amenizar o tamanho do rombo fiscal e fica mais provável que o governo cumpra a meta fiscal deste ano", diz Rafael Vitória, economista-chefe do banco Inter.

"O governo agora elabora o Orçamento de 2025. É um Orçamento mais crível, com algum controle de gastos, o que também pode reduzir esse risco fiscal", diz.

A economista vê espaço para uma valorização do real ante o dólar neste ano. Além de um cenário fiscal melhor, ela cita o ambiente externo mais positivo em relação a uma queda dos juros americanos e a balança comercial brasileira que se mostra robusta.

Apesar dos temores no exterior de uma recessão nos EUA, o que tem levado a uma alta volatilidade nos mercados, Rafaela Vitória diz que o Inter não tem expectativa de que isso ocorra.

No ambiente doméstico, a economista afirma que o desempenho da economia brasileira, com crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) maior do que o esperado no início do ano pelos analistas, tende a se refletir nos resultados financeiros das empresas do país, o que reforça o movimento de alta da Bolsa.

"A economia brasileira está bastante robusta. Entre os dados de atividade que a gente monitora, o que mais chama atenção positivamente é o mercado de trabalho, que está bastante dinâmico. O crescimento do emprego e renda acima do esperado tende a manter o consumo em alta para o segundo semestre, o que de novo se reflete em um desempenho melhor para as empresas."

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