Dólar estende perdas e Bolsa avança com dados de inflação dos EUA abaixo do esperado

Mercado também aguarda novas falas de Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo em eventos nesta terça

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São Paulo

O dólar tinha queda nesta terça-feira (13), enquanto investidores analisavam os dados de inflação ao produtor nos Estados Unidos e aguardavam novas falas de membros do BC (Banco Central).

Às 14h17, a moeda norte-americana recuava 0,40%, cotada a R$ 5,476 na venda, também em linha com a valorização de divisas de outros mercados emergentes. Já a Bolsa brasileira tinha alta de 0,86%, aos 132.251 pontos.

A imagem mostra uma nota de um dólar dos Estados Unidos, com o retrato de George Washington no centro. O texto 'THE UNITED STATES OF AMERICA' está acima do retrato, e 'ONE DOLLAR' está na parte inferior. O número '1' e o símbolo do dólar '$' estão presentes, assim como o número de série e a assinatura do secretário do Tesouro.
Na segunda-feira, a moeda fechou em queda de 0,28%, aos R$ 5,498, e a Bolsa subiu 0,38%, aos 131.115 pontos - Dado Ruvic/REUTERS

A inflação ao produtor dos Estados Unidos (PPI, na sigla em inglês) veio abaixo do esperado nesta terça-feira. O indicador —que serve de termômetro para o custo de vida das famílias nos próximos meses— avançou 0,1% em julho, ante projeção de 0,2% de economistas consultados pela Reuters.

Em 12 meses, o PPI teve alta de 2,2%, depois de ter subido 2,7% em junho.

Os números reforçam o argumento de que a inflação está cedendo em meio ao ciclo de aperto monetário do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), em um momento em que os investidores se mantêm atentos a qualquer sinalização sobre a taxa de juros norte-americana.

"Acho que no front externo o PPI ajudou e aliviou o dólar... isso em movimento global. Me parece um movimento bem alinhado", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

A expectativa, agora, é pela inflação ao consumidor dos EUA, medida pelo CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês). Os dados serão divulgados nesta quarta-feira.

Agentes financeiros dão como certo o início do afrouxamento na taxa de 5,25% e 5% pelo Fed na próxima reunião de política monetária, em setembro, ainda que a magnitude do corte seja incerta. As apostas medidas pela ferramenta CME Group FedWatch projetam que há chances iguais de corte de 0,25 ou 0,50 ponto percentual.

Na semana passada, o de maior tamanho chegou a ser consenso entre os investidores em meio a temores de recessão na maior economia do mundo, após a divulgação de dados de emprego mais fracos do que o esperado em julho. Essa perspectiva arrefeceu com números mais favoráveis e falas apaziguadoras de autoridades do Fed.

Em tese, quanto mais o banco central dos EUA reduzir os juros, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos atrativo para investidores estrangeiros, gerando um redirecionamento de capital para locais com ativos mais rentáveis, como o Brasil.

Na cena doméstica, autoridades do BC participam de eventos nesta terça. O presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, compareceu a uma audiência pública na Câmara dos Deputados pela manhã e afirmou que não houve uma "disfuncionalidade grande" que justificasse intervenção no momento de forte alta do dólar nos últimos meses.

Campos Neto ainda rebateu as críticas, que vieram particularmente do governo, afirmando que a decisão do Banco Central sobre a não-intervenção foi tomada de maneira colegiada e acrescentou que o diretor responsável pelo setor na instituição foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —no caso, Gabriel Galípolo, favorito para assumir a presidência da autarquia após a saída do atual mandatário.

Na véspera, em evento na FGV (Fundação Getulio Vargas), Campos Neto também reforçou que o compromisso de fazer a inflação convergir à meta será cumprido, independentemente de quem for o próximo presidente do BC. "Temos emitido mensagem inequívoca e consensual, isso está sedimentado", disse.

Na análise de Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, a fala abre espaço para a interpretação de que o BC pode aumentar novamente os juros do país, mesmo que signifique ir contra o presidente Lula.

"Isso demonstra que a situação fiscal do país está sendo gerida de perto e com muita cautela, tanto pelo BC, quanto pelo governo que está se empenhando para entregar os cortes de gastos prometidos."

Já Galípolo, que afastou a percepção de interferência política em decisões de diretores indicados por Lula, em evento na quinta-feira (8), esteve em uma palestra da Warren Investimentos na segunda e comparece hoje ao "Finance of Tomorrow", no Rio de Janeiro.

Segundo ele, não há um problema de liquidez no mercado de câmbio à vista brasileiro e que o BC também avaliou que não seria correto fazer uma atuação extraordinária no mercado de derivativos nos momentos de pico do dólar.

Galípolo ainda reforçou que o atual cenário é desconfortável para o cumprimento da meta de inflação e apontou que dados mais recentes do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) levantaram alertas e pontos de preocupação.

Na sexta-feira, o indicador oficial da inflação no país acelerou de 0,21% em junho para 0,38% em julho, o maior patamar para o mês desde 2021. O resultado ficou acima da mediana das expectativas de analistas consultados pela Bloomberg, que projetavam variação de 0,35%.

No acumulado de 12 meses, IPCA acelerou de 4,23% até junho para 4,5% até julho. É justamente o teto da meta do BC para o final do ano, que persegue uma inflação em 3% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Atualmente em 10,5% ao ano, a taxa básica de juros do país, a Selic, é o principal instrumento do BC para o controle inflacionário. Na ata da última reunião de política monetária da autarquia, os dirigentes deixaram claro que não hesitarão em aumentar os juros caso necessário.

O mercado tenta antever os próximos passos do BC. De um lado, há quem aposte em uma nova alta na Selic; de outro, alguns agentes esperam manutenção.

No Boletim Focus desta semana, especialistas consultados pelo BC mantiveram a projeção de que a Selic continuará em 10,50% ao ano até o final de 2024. Eles também subiram as expectativas de inflação após os dados do IPCA, a 4,20%, ante 4,12% na semana passada.

Na cena corporativa, Natura desabava 12,09%, após reportar aumento no prejuízo no segundo trimestre, além de pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos da subsidiária não operacional Avon Products, da qual é a maior credora.

MRV caía 1,95%, também na esteira da divulgação do balanço do último trimestre. Petrobras e Vale caíam 0,50% e 0,05%, respectivamente.

A ponta positiva era liderada pela CSN Mineração, que avançava 6,69% com alta de 47,4% no Ebitda ajustado ano a ano, para R$ 1,6 bilhão.

Bancos subiam em bloco: Itaú tinha valorização de 2,08%, seguido por Santander (1,86%), Bradesco (1,70%), Banco do Brasil (1,44%) e BTG Pactual (1,40%).

Na segunda-feira, o dólar fechou em queda de 0,28%, aos R$ 5,498, e a Bolsa subiu 0,38%, aos 131.115 pontos.

Com Reuters

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