Dólar fecha em queda firme e Bolsa sobe antes de decisões de juros no Brasil e nos EUA

Economistas esperam aumento da taxa no Brasil e redução nos Estados Unidos

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São Paulo

O dólar fechou em queda firme de 1,01% nesta segunda-feira (16), aos R$ 5,509, com investidores à espera das decisões de juros do Brasil e dos Estados Unidos.

A moeda enfrentou uma sessão de desvalorização global diante da expectativa pelo início do ciclo de afrouxamento monetário pelo Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), em movimento amplamente aguardado pelo mercado.

Já a Bolsa fechou em alta de 0,17%, aos 135.118 pontos, em pregão também marcado pelo avanço da Petrobras contrabalançando as fortes perdas da Embraer.

Notas de dólares enroladas ao lado de gráfico
Na sexta-feira (13), o dólar fechou em queda firme de 0,90%, a R$ 5,566, e a Bolsa avançou teve alta de 0,63%, aos 134.881 pontos - Dado Ruvic/Reuters

A semana reserva a chamada "super quarta", dia em que o BC (Banco Central) brasileiro e o Fed decidirão sobre juros. Ambas as reuniões terão início já na terça-feira, 17 de setembro.

A expectativa é oposta nos dois países —e grande nos mercados. Por aqui, economistas esperam que o Copom (Comitê de Política Monetária) eleve a Selic para 10,75%, um aumento de 0,25 ponto percentual. Já nos EUA, a projeção é de corte na taxa, ainda que não haja consenso entre os operadores sobre o tamanho do afrouxamento.

Se até quinta-feira passada as apostas majoritárias eram de uma redução de 0,25 ponto percentual, diante de dados de inflação acima do esperado e números benignos no mercado de trabalho, o cenário mudou de figura de lá para cá.

Após Bill Dudley, ex-presidente do Fed de Nova York, declarar que via fortes argumentos para um corte maior e veículos de imprensa chamarem a decisão de "apertada", agentes financeiros passaram a colocar a possibilidade de uma redução de 0,50 ponto percentual no páreo.

Agora, o afrouxamento menor tem 37% de probabilidade, enquanto o maior tem 63%, segundo a ferramenta FedWatch. Na semana passada, as proporções eram de 70% e 30%, respectivamente.

Desde que o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a hora de reduzir os juros havia chegado, a dúvida sobre o ritmo dos cortes ditou o comportamento dos mercados. A taxa americana está na faixa de 5,25% e 5,50% desde julho do ano passado —o patamar mais restritivo em duas décadas. Qualquer corte nesta reunião será o primeiro do banco central em mais de quatro anos.

O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e trabalho para decidir sobre os juros. O objetivo é atingir o chamado "pouso suave", quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos à empregabilidade do país.

Um corte de 0,50 ponto permitiria ao Fed retornar os custos de empréstimos a níveis normais mais rapidamente, removendo restrições à economia e protegendo o mercado de trabalho de mais fraqueza.

Por outro lado, poderia gerar interpretações de que o banco central está preocupado com uma desaceleração mais acentuada da economia, levando o mercado financeiro a precificar uma redução mais dramática nas taxas a partir do corte desta semana.

"Pode-se argumentar por 0,50 ponto, mas as comunicações em torno disso são complicadas e não há uma razão convincente para assumir esse desafio", disse Loretta Mester, que se aposentou como presidente do Fed de Cleveland em junho.

Com o cenário indefinido, "a Bolsa deve seguir em compasso de espera até quarta", destacam analistas do BB Investimentos em nota a clientes.

Já o dólar costuma se depreciar à medida que os juros nos Estados Unidos caem, conforme o rendimento dos ativos ligados à renda fixa americana se depreciam. Isso costuma levar operadores a investimentos de maior risco, como moedas emergentes e mercados acionários, pela possibilidade de rentabilidade maior.

Para o real, outro fator de relevância ainda entra na conta: o possível novo ciclo de aperto na Selic.

Na reunião de julho, o Copom manteve a taxa básica de juros no atual patamar de 10,50% ao ano pela segunda vez consecutiva. Desde então, os dirigentes têm reiterado que novas altas estão à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

O mercado financeiro dá como certo que a Selic terá uma nova alta de 0,25 ponto nesta reunião. Dados indicam que a economia brasileira está aquecida e resiliente, o que tende a se traduzir em pressões inflacionárias nos meses seguintes.

As projeções de alta não arrefeceram nem mesmo com a leitura de agosto do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, que mostrou que a inflação teve queda de 0,02% em relação ao mês anterior. No acumulado do ano, passou a registrar alta menor, de 4,24% —uma desaceleração dos 4,5% de julho, o teto da meta do BC.

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de "carry trade" —isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Já na cena corporativa, os papéis preferenciais e ordinários da Petrobras subiram 1,38% e 0,99%, respectivamente, na esteira da alta do barril de petróleo no exterior.

O avanço da petroleira conteve as perdas de 5,29% da Embraer, líder da ponta negativa por causa da conclusão do acordo com a Boeing. A empresa norte-americana terá que pagar US$ 150 milhões à empresa brasileira, o que, segundo analistas, ficou abaixo das estimativas de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões do mercado.

A Azul ainda disparou 10,90%, estendendo os fortes ganhos de sexta-feira, com a confirmação de que está negociando com arrendadores de aviões uma "potencial" troca de dívida por participação societária na empresa.

Com Reuters

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