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Em investimentos pessoais, candidatos à Prefeitura de SP são conservadores; veja diferentes estratégias

Imóveis são o principal ativo nas carteiras declaradas à Justiça Eleitoral

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São Paulo

A atual disputa pela Prefeitura de São Paulo reúne candidatos que são muito diferentes entre si, mas têm uma característica em comum: são conservadores quando se trata dos investimentos pessoais.

Segundo as declarações dos postulantes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a maioria dos investimentos se concentra em imóveis ou em ativos imobiliários, na renda fixa tradicional e em instrumentos de previdência privada. Por outro lado, ativos de maior volatilidade, como os de renda variável, têm aparição discreta.

Para a análise, foram considerados os candidatos com as maiores intenções de voto, segundo o último Datafolha: Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB); Ricardo Nunes (MDB), José Luiz Datena (PSDB) e Marina Helena (Novo). Não foi possível incluir a candidata Tabata Amaral (PSB) porque a deputada não especificou em sua declaração quais investimentos possui, apenas que tem R$ 799 mil investidos e R$ 8.508 em conta corrente.

Montagem com os retratos dos três candidatos
Boulos, Marçal e Nunes lideram a corrida pela prefeitura de São Paulo - Pedro Ladeira e Bruno Santos/Folhapress

Para especialistas, os candidatos se destacam positivamente pela diversificação do patrimônio, regra de ouro ao se investir, mas pecam ao não incluir ativos um pouco mais arriscados, de modo a obter um possível maior retorno, especialmente os mais jovens.

"Quando aceitamos correr mais risco, aumentamos a possibilidade de retorno no longo prazo", diz Danilo Silva, da consultoria Ticker Wealth.

Com R$ 199,6 mil declarados, Boulos, 42, tem o menor patrimônio entre os candidatos. A maior parte, 86%, diz respeito à sua casa no Campo Limpo, na qual o político detém 50%. O seu carro Celta corresponde a 8%. O restante, R$ 11,9 mil, está aplicado em um CDB (certificado de depósito bancário), com R$ 816 em conta corrente.

Segundo os analistas, a estratégia de investimento do candidato está correta, dado o seu nível de capital. O CDB, neste caso, é uma reserva de emergência que acompanha a taxa Selic (atualmente a 10,5% ao ano) e pode ser acessada a qualquer momento.

O recomendado é passar a diversificar os investimentos após a reserva de emergência contar com o valor correspondente a, pelo menos, seis meses de gastos.

"Pela idade, ele ainda está longe de ter liberdade financeira que o permita viver de investimentos. 40 anos é fase de acumulo de patrimônio", afirma Jayme Carvalho, economista e sócio da SuperRico.

Para Carvalho, o próximo passo indicado seria a previdência privada, para garantir uma renda futura além do INSS.

A modalidade é o principal investimento de Datena, 67. São R$ 25,7 milhões em VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), plano de previdência no qual a incidência do Imposto de Renda é apenas sobre a rentabilidade dos ativos, porém, sem dedução no IR, como o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre).

"Possivelmente, ele deve ser contratado como pessoa jurídica, então não há sentido em escolher o PGBL, pois não seria possível obter o desconto no IR", diz Mara Bernardes, especialista em planejamento financeiro.

Além disso, a previdência privada é uma escolha comum para quem acumula uma grande herança, pois, diferentemente de outros bens, ela não depende de burocracias para ser transferida e pode até ser utilizada para pagá-las, como o inventário. Atualmente, outra vantagem do produto é a isenção de ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos).

O atual prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes, também tem boa parte de seus investimentos em previdência (R$ 999 mil). Seu maior patrimônio, porém, está em imóveis (R$ 1,5 milhão), e ele ainda financia a compra de mais um via consórcio, com uma cota de R$ 59 mil.

O segundo maior peso da carteira de Nunes, 56, são Fidcs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios), com R$ 1,1 milhão investido. Esses fundos geram uma rentabilidade acima de 100% do CDI (índice que acompanha a Selic), com um retorno mensal aos cotistas. Porém, há riscos envolvidos, já que o recebimento depende do pagamento dos créditos que pertencem ao fundo.

O recomendado, segundo especialistas, seria que Nunes diversificasse mais o patrimônio e priorizasse a previdência privada e a renda fixa tradicional, na qual ele tem R$ 114 mil. Participações em empresas também compõem o capital total divulgado pelo prefeito, que conta ainda com um trator de R$ 176 mil.

As empresas também são boa parte do patrimônio declarado por Pablo Marçal, 37, no TSE, somando R$ 80,9 milhões. Reportagem da Folha, porém, localizou empresas, imóveis e aeronaves em nome do influencer Marçal e de suas pessoas jurídicas que não constam da declaração à Justiça Eleitoral. No total, elas representam um patrimônio de até R$ 168 milhões.

Na declaração do TSE, a maior parte do capital de Marçal se localiza em aplicações financeiras, não detalhadas, que somam R$ 62,6 milhões. Outros R$ 19,2 milhões estão em LIG (Letra Imobiliária Garantida), instrumento que se assemelha à LCI (Letra de Crédito Imobiliário), mas sem a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) e usualmente ofertado apenas a investidores qualificados (com mais de R$ 1 milhão).

"Normalmente, a LIG tem um retorno mensal, de 0,8% a 0,9%, mas é um investimento de longo prazo, geralmente de cinco anos, e não tem liquidez antes disso", afirma Silva.

"Marçal tem o perfil de alguém que está acumulando recursos e LIG é um investimento bom para isso, no médio prazo. Mas ele já deveria estar fazendo seus primeiros investimentos em previdência", diz Carvalho, da SuperRico.

O influencer tem ainda R$ 5 milhões em imóveis e R$ 706 mil em fundos de Venture Capital, que investem em startups. A modalidade é considerada arriscada, mas de alto potencial de retorno no longo prazo. "Ele tem muito patrimônio e pode correr riscos", diz Mara.

Segundo o planejador financeiro Marlon Glaciano, o perfil de Marçal é atípico no Brasil. "Ele tem uma carteira mais agressiva, com um perfil bem longe da maioria, que é mais imediatista. Ele é novo e pode correr risco."

Já Marina Helena tem uma carteira mais conservadora, com R$ 8 milhões em imóveis e R$ 928 mil em renda fixa tradicional. "Ter 83% da carteira em imóveis talvez tenha a ver com o fato de ela ter recebido alguma herança, mas é conservador para idade dela não ter previdência", diz Carvalho.

Ela também tem R$ 585 mil em Fidc e R$ 99,8 mil em FII (fundo de investimento imobiliário), que funciona de maneira semelhante, só que com recursos vindos de contratos imobiliários, e é considerado mais seguro.

A candidata declarou ainda ter R$ 100,3 mil em diversos fundos: de ações, atrelados a índice de mercado, mútuos de privatização (que permitem alocar os recursos do FGTS em ações de empresas em processo de desestatização), e de investimento em empresas emergentes (companhias tenham faturamento líquido anual inferior R$ 30 milhões).

"É uma estratégia focada na preservação de capital e aversão ao risco, mas a falta de diversificação em outros ativos pode representar um risco em termos de flexibilidade e capacidade de responder a mudanças econômicas adversas", diz Glaciano.

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