Mercado de plantas renasce com volta de eventos

Empreendedores do setor têm alta demanda, mas lidam com aumento de preços de insumos e falta de mão de obra

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Ana Paula Pereira
São Paulo

A retomada no setor de flores e plantas ornamentais, impulsionada pela volta dos eventos presenciais, tem esbarrado na alta dos preços de produtos e na escassez de mão de obra.

Na capital paulista, os preços das flores mais usadas na decoração de eventos subiram quase 10%, segundo dados da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo).

A demanda aquecida é um dos motivos para esse aumento, mas há outras variáveis, como a escalada nos custos de adubos e fertilizantes. Os preços de insumos agropecuários cresceram mais de 100% em 2021, de acordo com números compilados até setembro pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Arquiteta Fávia Fonseca, que trabalha há 13 anos com decoração de eventos. Durante a pandemia, seu negócio foi duramente atingido pelas restrições de circulação e, como alternativa, ela apostou em arranjos de flores e cartões personalizados sob encomenda.
Arquiteta Flávia Fonseca, que trabalha há 13 anos com decoração de eventos - Adriano Vizoni/Folhapress

O impacto nos custos atinge diferentes elos da cadeia de flores e plantas. Das estruturas de ferro e aço usadas nas estufas aos acessórios plásticos que acompanham arranjos, a variação nos preços pode chegar a 60% em alguns casos, conforme o peso dos produtos importados na composição final, diz Renato Opitz, diretor do Ibraflor (Instituto Brasileiro de Floricultura).

A escassez de mão de obra também tem pressionado o setor, já que muitos fornecedores fecharam as portas ou migraram para outras atividades nos últimos meses.

"O custo do transporte também subiu. Cotei há algumas semanas um frete para dez itens a uma distância de 400 km e me cobraram R$ 3.000. Antes da pandemia, pagaria R$ 600 ou R$ 700", diz Flavia Fonseca Moraes, arquiteta que há 15 anos trabalha com flores e decoração de eventos.

Para fazer frente aos preços altos e atender a demanda dos clientes, os profissionais da área têm apostado no diálogo ao aprovar orçamentos. "Antes, a pessoa dizia a cor que queria a festa e dávamos as opções de flores. Agora precisamos escolher o que tem.

Para se manter ativa na pandemia, Flavia começou a vender arranjos de flores e cartões em aquarela personalizados. "Os meus clientes passaram a me contratar para presentear outras pessoas. Assim, tive a oportunidade de iniciar uma linha de produtos que eu já desejava criar, mas nunca tinha tempo."

Com essas vendas, a arquiteta conseguiu ter alguma renda no período mais crítico da quarentena. Além disso, fidelizou a clientela e aumentou a presença da empresa nas redes sociais.

O contexto mudou há cerca de dois meses, com o retorno gradual das festas em São Paulo. Até junho de 2022, a agenda de Flavia já tem eventos de todos os portes confirmados. A demanda por arranjos e cartões, por sua vez, já é menor, mas os produtos devem continuar entre os serviços oferecidos.

Aproximadamente 80% da produção nacional de flores de corte tem como destino o mercado de eventos, conforme números do Ibraflor.

No país, a indústria de flores e plantas ornamentais gera cerca de 190 mil postos de trabalho, embora muitas dessas vagas tenham desaparecido durante a pandemia. "Muitos deixaram a atividade e outros tentaram alternativas para escoar a produção", diz Renato Opitz.

Encontrar novos compradores foi uma das estratégias criadas pelo comitê de crise da Veiling Holambra, cooperativa que reúne mais de 400 produtores na cidade do interior paulista, a 134 km da capital. O destino de boa parte da oferta nacional foram os supermercados.

Segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), a demanda por plantas e flores registrou crescimento de 36,8% entre janeiro e outubro de 2021.

"Com a incerteza de quanto tempo iria durar o home office, o consumidor passou a decorar a casa com vasos de plantas e a comprar mais flores para criar uma identificação com seu espaço", afirma Marcio Milan, vice-presidente de relações institucionais da associação.

Adriano van Rooyen, 61, cooperado da Veiling e produtor de rosas e hortênsias de corte há 30 anos, viu nas mudanças dos hábitos dos consumidores uma oportunidade para diversificar seu negócio. Ele introduziu flores em vasos nos nove hectares de estufas que antes abrigavam apenas as de corte.
Para as próximas safras, a expectativa do produtor é aumentar a participação das flores envasadas para 30% da produção.

Adriano teve uma queda próxima de 80% em seu faturamento durante o ápice da crise, enquanto os custos operacionais subiram entre 40% e 50% nos últimos meses.

Apesar dos desafios, o setor projeta crescimento de 9% no faturamento deste ano em relação a 2020, quando houve expansão de quase 10% e cerca de R$ 10 bilhões foram gerados em receita. Para as vendas de final de ano, a Veiling Holambra estima um crescimento de cerca de 10% no volume de produtos comercializados na comparação com 2020, quando foram negociadas 26 milhões de unidades.

Victor Ferreira, analista de agronegócio do Sebrae Nacional, diz que a expansão do segmento vai além da firme demanda por plantas e reflete também a forte digitalização da cadeia produtiva.

"Essa reinvenção já estava acontecendo, mas a pandemia fez o produtor se conectar mais ao digital, ampliando o leque de canais de comercialização, participando de rodadas de negócios e vendendo nas redes sociais", afirma o especialista.

A crise também favoreceu a modernização de operações logísticas e de distribuição dos produtos. De acordo com o Ibraflor, o processo entre a saída da estufa e a chegada ao consumidor é agora um dia mais rápido, quando comparado a 2019.

"Todo mundo teve que se mexer. Nas grandes cooperativas agora é possível comprar flores 24 horas por dia, sete dias na semana. As vendas pela internet ganharam um impulso extraordinário. Nada disso existia antes da pandemia e deu uma agilidade gigante para o mercado", afirma Opitz.

Para 2022, o Sebrae projeta que esse mercado deve se beneficiar da demanda por paisagismo com a entrega de imóveis comprados na planta nos últimos meses. Os sinais de um cenário mais equilibrado entre oferta, demanda e custos de produção, no entanto, devem aparecer apenas no segundo semestre.

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