Apresentações ao mesmo tempo presenciais e digitais devem marcar retomada das atividades

Em seminário realizado pela Folha, especialistas apontaram a necessidade de o setor se reinventar

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Belo Horizonte

Com a volta do funcionamento normal das casas de espetáculos, a tendência é que as apresentações culturais adotem modelo híbrido: abertas ao público e transmitidas para quem ficou em casa. O formato já tem nome: “figital”, junção de “físico” e “digital”.

O formato híbrido foi levantado na segunda edição do webinário Vida Cultural na Pandemia e no Pós-Pandemia, organizado pela Folha, em parceria com o Itaú Cultural, na última quarta-feira (18).

Foram discutidas formas de garantir uma retomada segura do setor cultural, tanto em termos físicos quanto econômicos, a partir do perfil do brasileiro, mapeado na pesquisa Hábitos Culturais 2.


Assista ao seminário


Marlene Treuk, gerente de atendimento do Datafolha, destacou obstáculos que podem impedir a volta imediata aos eventos presenciais.

Segundo ela, por mais que os entrevistados apresentem preferência pela experiência presencial, isso pode não se traduzir na realidade. “A preferência é o que eu desejo fazer, mas, na prática, será que o evento vai estar no meu bairro? Vou ter dinheiro para pagar? Nas atividades online há comodidade, flexibilidade de horários, segurança física e a questão econômica.”

Na pesquisa, 32% dos entrevistados pretendem frequentar atividades no próprio bairro e 51% desejam ir para outras regiões, enquanto 9% destacaram ambas as opções e 8% disseram não saber ou não ter nenhuma intenção.

É nesse cenário que aparece o “figital”. O empresário Luiz Calainho, sócio de espaços como o Blue Note (RJ e SP) e o Teatro Prudencial (RJ), destacou o interesse em tornar o musical ‘‘Seu Neyla’’, sobre a carreira do ator Ney Latorraca, um exemplo dessa mistura.

“Vamos abrir um canal digital para que o indivíduo que esteja em Manaus, por exemplo, possa assistir ao musical a preço popular. O ingresso do musical está a R$ 10. O primeiro efeito é extrapolar geograficamente seu espaço e, ao fazer isso, você o democratiza.”

No debate, a cineasta Laís Bodanzky alertou sobre a situação das salas de cinema do país, que já vinham enfrentando crise mesmo antes da pandemia.

“As produções independentes já estavam sofrendo um esvaziamento do espaço de suas salas. Não acho que os cinemas vão acabar, mas precisam se readaptar”, disse.

A pesquisa Itaú Cultural/Datafolha apontou que a ida ao cinema é a atividade da qual o brasileiro mais sentiu falta na fase de restrições.

Como forma de atenuar essa falta, as pessoas se apoiaram em um hábito já presente antes da Covid. O estudo mostrou que 75% dos entrevistados viram produções audiovisuais na internet.

Apesar do número considerável, não houve aumento desse hábito em relação ao período anterior à pandemia. No entanto, em todo o mundo, a Netflix ganhou, só em 2020, 37 milhões de novos assinantes, superando a marca de 200 milhões.

Bodanzky compartilhou sua preocupação com a sobrevivência dos cinemas de rua.

“As grandes redes de cinema quase quebraram; existe uma crise muito grande que vai demorar, e poucos vão sobreviver, principalmente os cinemas de rua. É uma pena, porque são eles que transmitem filmes diferentes desses que arrasam quarteirões.”

Os debatedores discutiram a necessidade de o governo federal ajudar o setor. A Lei Aldir Blanc, sancionada em junho de 2020, destinou R$ 3 bilhões para a cultura na pandemia.

No ano passado, o setor perdeu 458 mil postos de trabalho formais e informais, em comparação com o último trimestre de 2019. Só no primeiro semestre de 2020 —antes da sanção da lei—, 870 mil profissionais já haviam perdido seus empregos.

“A Lei Aldir Blanc foi fundamental. O governo precisa olhar para as atividades culturais porque, se quebrarem, vai demorar muito tempo para voltarem a ficar de pé. O poder público precisa interferir nos momentos de crise, e não só no auge, mas também no pós, o retorno é complexo. Precisa ter um amortecedor para todo mundo se reestruturar”, defendeu Bodanzky.

Calainho acredita que a paixão pela cultura facilitará a retomada. “Esse entusiasmo e amor do povo brasileiro pela arte, pela cultura e pela música me faz ser muito otimista. A arte e a cultura podem sair desta pandemia não com os números que tinham até então, mas fortalecidas do ponto de vista criativo”, disse.

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