Influenciadores narram vida e falam sobre consumo na periferia

Produtores de conteúdo usam redes sociais para mostrar realidade na favela

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São Paulo e Rio de Janeiro

A primeira Expo Favela, realizada em abril em São Paulo, reuniu 350 negócios e público de 30 mil pessoas para mostrar o potencial de empreendedores das periferias. De acordo com pesquisa pesquisa do OSI (Outdoor Social Inteligência), as favelas têm potencial de movimentar R$ 168 bilhões por ano.

Nas redes sociais, influenciadores digitais expõem o dia a dia nas comunidades e compartilham ideias e talentos com milhares de seguidores. São influencers que produzem conteúdo sobre o lugar de onde vêm com o objetivo de dar destaque a pessoas e iniciativas da periferia, para além dos estereótipos. Conheça alguns:

'Queremos pôr pessoas da quebrada em foco'

Andreza Delgado, 26, sócia-fundadora da Perifacon, de São Paulo

Em 2013 eu me entendi enquanto mulher negra e jovem. Participar de movimentos sociais e ler o livro ‘Mulheres, Raça e Classe’, da Angela Davis, contribuíram para a minha formação política, assim como bell hooks, Patricia Hill Collins e Winnie Bueno, também feministas negras.

Em 2019 criei a Perifacon [Comic Con das favelas] com amigos, a maioria gostava da cultura nerd, geek e pop. Hoje a Perifacon é um braço da Irmãos Delgado Produtora e as coisas estão rolando melhor [a edição de 2022 será em julho]. Eu me profissionalizei. A monetização das minhas redes sociais fez caixa para a empresa. Sou criadora de conteúdo, mas entendi que a grana de publicidade pode ser investida de outra forma.

Já fiz publi para o Itaú no Instagram. Com a EBAC [escola de artes] fizemos permuta, todo mundo que trabalha comigo ganhou curso lá. Procuro outras formas de parcerias, troca de serviços. E apresento o podcast Lança a Braba. Queremos colocar as pessoas da quebrada em foco, hoje a periferia é o centro. (Thaís Magalhães Manhães)

'Meu nicho é lifestyle de baixa renda'

Nathaly Dias, 29, a Blogueira de Baixa Renda, do Rio

Em 2018 eu lancei meu Instagram inspirada nas criadoras de conteúdo sobre casa. Estava me mudando para um apartamento no morro do Banco [zona oeste do Rio] que era muito bonitinho, com acabamento em gesso, aquela coisa que quem não vive na favela acha que não tem aqui. As pessoas ficaram curiosas para ver mais, e na época não existia o hype de mostrar a vida como ela é.

Meu nicho é lifestyle de baixa renda, porque falo de tudo. Sobre coisas do meu cotidiano, economia, finanças, ciências sociais. Quero ser a ‘front girl’ [representante] da favela. Acho lindo quando vejo alguém falando ‘você é do morro e olha onde você está chegando por causa do seu trabalho’.

Eu ganho dinheiro fazendo publicidade que tenha a ver com a minha vivência, fecho projetos com empresas que fazem sentido para mim. As marcas não enxergavam pessoas da favela, da periferia, como pessoas que consumem. Hoje elas entendem que a comunidade é forte porque mostra a realidade da maioria dos brasileiros. (Luany Galdeano)

'Sonho fazer uma série com minha família'

Raphael Vicente, 22, do Rio, tem 2,6 milhões de seguidores no TikTok

Comecei fazendo vídeos na internet aos 14 anos, e em 2020 conheci o TikTok, que levou meu trabalho para mais gente. Mas eu não ‘bombei’ sozinho, porque minha família participa dos vídeos. Minha inspiração para criar vem deles, acho que as pessoas gostam de me acompanhar porque eu retrato situações que toda família brasileira passa.

Hoje, vejo o peso que tenho para o pessoal [do Complexo] da Maré. As pessoas acham que, para produzir conteúdo, precisam ter dinheiro, uma câmera boa. Tento mostrar que é possível fazer um conteúdo bom com o básico. Vivo de publicidade e sou procurado por empresas de streaming, porque também faço conteúdo sobre filmes e séries. Sonho algum dia ter uma série com minha família. E quero que conheçam meu lugar de origem. (Luany Galdeano)

'Dá para mostrar outra realidade na favela'

Rene Silva, 28, fundador do Voz das Comunidades, do Rio

Fundei o Voz das Comunidades em 2005, quando tinha 11 anos. A gente ficou conhecido na época da ocupação do Complexo do Alemão em 2010, quando usei o Twitter para narrar em tempo real o que estava acontecendo.

Hoje a gente atua em outras favelas do Rio de Janeiro, no impresso e no digital. Tem pouco espaço na grande mídia [para falar] sobre os projetos sociais e culturais na favela. Na maioria das vezes, os assuntos são violência, tráfico e morte. É possível mostrar uma outra realidade. A gente quer mostrar para crianças e adolescentes que conseguimos ter conquistas mesmo vindo de um lugar tão discriminado. O conteúdo que produzo é sobre a nossa realidade. A favela respira potência, empreendedorismo e esperança de um mundo melhor. (Luany Galdeano)

'Faço conteúdo sobre como sair e gastar pouco'

Tiê Vasconcelos, 28, artista e produtora de conteúdo, do Rio

Em 2016 eu postei vídeos da minha rotina de transição capilar em alguns grupos no Facebook. Depois passei a mostrar a minha realidade. Na pandemia eu cresci muito [hoje são 102 mil seguidores no Instagram]. Apareci em várias matérias, apareci no Fantástico.

Hoje, as marcas que me procuram são aquelas com as quais eu já me identificava. Já recusei muitas que não condiziam com a minha verdade. Fiz publicidades de produto de pele, [curso] pré-vestibular e faculdade, produtos de limpeza. Nas redes, mostro uma vida mais ativa e faço conteúdo sobre como sair e gastar pouco, por exemplo. (Luany Galdeano)

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