Descrição de chapéu MPME

Proximidade de concorrentes estimula movimento em galerias de arte e atrai público

Empresários chegam a criar circuitos e conciliar as aberturas de exposições em trabalho coletivo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Fernanda Ravagnani
São Paulo

Abrir uma galeria perto de outra pode potencializar o público de ambas. "Existem até circuitos que as galerias montam e conciliam as aberturas de exposições. É uma forma de trabalhar colaborativamente", afirma Victoria Zuffo, sócia-diretora da galeria Lume, de São Paulo e presidente da Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea), entidade que reúne cerca de 60 galerias no Brasil.

"A galeria é um ponto de encontro, de troca de conhecimento. Por isso levamos a Verve para a região central de São Paulo, um local onde os artistas se encontram, moram ali. A inserção da galeria na cidade também é importante", afirma Ian Duarte, sócio da Verve, em São Paulo.

Leonardo Leal, da galeria Leonardo Leal de Fortaleza, em estande na SP-Arte
Leonardo Leal, da galeria Leonardo Leal de Fortaleza, em estande na SP-Arte - Lucas Seixas/Folhapress

"Eu até faço campanha para que uma galeria abra na frente da minha", brinca Leonardo Leal, dono da galeria que leva o seu nome, em Fortaleza (CE). "Uma galeria, sozinha, não dá conta de preencher todas as paredes do cliente, as pessoas são plurais."

Para Leal, a chegada de galerias de arte a uma cidade fora do eixo Rio-São Paulo agita o mercado e tem poder educativo. "O cearense viaja, entra nos museus, mas o que ele vê no Louvre é inatingível. Precisamos mostrar que ele pode ter uma obra de arte em casa. É um trabalho de formar público, criar um circuito."

Para fomentar os artistas locais, Wanessa Cruz pelo sexto ano organiza a Fargo, Feira de Arte de Goiás, em Goiânia, programada para 15 a 19 de maio. "Muitas vezes os artistas do Centro-Oeste vão despontar no eixo Rio-São Paulo, porque o mercado local é muito precário", diz.

Como representa o artista, o galerista tem que vender seu trabalho, promovê-lo e apoiá-lo. "A responsabilidade com o artista é de curto, médio e longo prazo", diz Duarte.

"A galeria se valoriza junto com o artista. É preciso manter relações com os museus locais e com instituições de fora do país."

"O que me faz vibrar é colocar meus artistas em museus, em instituições públicas. Não é que eu não goste de vender para colecionador, mas é mais democrático", afirma Fernanda Resstom, da Central.

Os museus compram de galerias, e seus curadores visitam as feiras, por isso ela recomenda ficar em contato com essas instituições. Existe até a alternativa de convencer um colecionador a comprar a obra e doá-la a um museu.

A exposição de uma obra em museus e espaços públicos valoriza o artista, o que por sua vez dá mais força à galeria e agrada aos compradores, pois agrega valor ao que adquirem para suas coleções pessoais. É uma forma de conseguir o tipo de endosso que sustenta o mercado.

"Infelizmente nosso meio ainda depende muito da validação, de que alguém que tenha influência preste atenção no seu trabalho", diz Duarte.

"Não é que seja panelinha", afirma Tamara Perlman, da SP-Arte, "mas existe sim uma rede de validação. O mercado é formado por gente apaixonada por arte, por isso muitas vezes as pessoas atendem quem quiser tomar um café, trocar ideias. Eu aconselho: procure quem você admira."

Victoria Zuffo reforça também que mesmo as galerias que ainda não têm porte para se associar formalmente à Abact podem procurar a entidade para receber orientações e participar de workshops.

"O mercado da arte é muito cristalizado, são as mesmas famílias trabalhando há 30, 50 anos. Não há mais como aceitar esses padrões, é preciso pensar em um caminho com estratégias inclusivas para que as pessoas possam viver de arte", diz Micaela Cyrino, diretora artística da Hoa, galeria inaugurada em 2020 pela artista Igi Lola Ayedun.

A Hoa começou como uma galeria tradicional com foco racial e decolonial. No início, representava artistas, mas migrou para um modelo colaborativo, oferecendo apoio, orientação e estrutura para que eles possam produzir, sem contrato de exclusividade.

Alvo de interesse no exterior, a Hoa abriu uma unidade em Londres. A internacionalização é um passo que as galerias de arte jovens podem dar participando de feiras fora do Brasil.

O projeto Latitude, da Abact, em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), incentiva o intercâmbio com o mercado de arte de outros países.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.