Descrição de chapéu Páscoa Chocolate MPME

Ovos de Páscoa veganos e sem açúcar buscam inspiração no sabor e aparência dos tradicionais

Confeitarias voltadas para pessoas com restrições alimentares buscam derrubar resistências e conquistar público em geral

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São Paulo

Confeitarias que surgiram para atender públicos específicos, como veganos, celíacos e diabéticos, têm buscado ganhar espaço também entre quem não tem restrições alimentares. A estratégia é investir no sabor e na aparência de seus produtos e surpreender pessoas que nem chegariam a provar os doces caso soubessem que, por exemplo, são veganos ou não têm açúcar.

O objetivo não é competir com marcas tradicionais, mas promover uma alimentação mais inclusiva, em que a pessoa com algum tipo de restrição possa compartilhar um bolo de aniversário ou um ovo de Páscoa com familiares e amigos sem dieta específica.

"Uma das grandes queixas de quem tem suas restrições é não poder consumir várias coisas", diz Debora Romanel, 50, à frente da Confitness Confeitaria, focada em doces sem glúten e sem açúcar, além de linhas sem lactose, lowcarb e veganas.

Ovo de pistache recheado cortado ao meio
Ovo de pistache da Confitness, de Curitiba (PR), que tem como foco o público de diabéticos e celíacos - Divulgação/Confitness

Cansada do mundo da engenharia, ela resolveu criar a marca em 2016 em Curitiba (PR), inspirada pela própria intolerância à lactose e pela experiência do pai, diabético, que não encontrava muitas opções saborosas de doces.

"A partir do momento em que você faz um bolo festivo gostoso, todo mundo vai comer, independentemente de ter ou não aquela dieta", acrescenta. Hoje, ela fatura cerca de R$ 275 mil por ano, sendo de 25% a 30% só na Páscoa. Neste ano, os ovos terão valores de R$ 135 a R$ 195.

Criadora da Nectare Vegano, que começou em 2017 com bolos e docinhos e hoje tira também quase um terço do faturamento anual com seus ovos de chocolate, Ana Beatriz Sousa, 34, escuta com frequência que "ninguém desconfiou que aquele não era um bolo tradicional".

Acredita que seu diferencial seja o sabor e, principalmente, a decoração. "Eu quero que seja o mais próximo possível [do tradicional] para que o público não vegano não sinta diferença, que não tem leite, manteiga ou ovo."

Metade de ovo de Páscoa sobre um prato preto; o ovo tem casca de chocolate meio amargo, é recheado com ganaches branca e ao leite, além de uma geleia de framboesa e bombons de framboesa cobertos com chocolate branco e meio amargo, que aparecem inteiros e cortados na metade sobre o ovo
Um dos destaques da Nectare Vegano é o visual dos doces, segundo a proprietária Ana Beatriz Sousa, que aposta no ovo de franuí para o catálogo de Páscoa deste ano - Lucas Seixas/Folhapress

Por ter trabalhado anteriormente em um restaurante vegano, Ana Beatriz aprendeu a cozinhar sem esses ingredientes à disposição. Ela utiliza água, óleo ou leite vegetal para a parte dos líquidos em uma massa de bolo ou creme de leite vegetal para fazer cremes ou ganache para os recheios dos ovos de chocolate.

Segundo a empresária de São Paulo, a maior parte do seu público não é dos veganos, mas das pessoas que não podem consumir leite e derivados —seja por intolerância, seja por recomendação médica—, que representam hoje mais da metade de seus clientes

Para a Páscoa, ela aposta no ovo de franuí, doce argentino de framboesa com chocolate, que tem feito sucesso nos últimos meses. "É uma sobremesa tradicional que não tem opção vegana [nos mercados]." O ovo recheado, de 500g, é vendido a R$ 149,90.

No caso da Confitness, há muitos celíacos e diabéticos entre os clientes, mas a maior fatia é representada por pessoas que não têm restrição e buscam, por opção, os doces sem açúcar e glúten. Também há veganos, mas em menor quantidade, porque "o vegano está mais preocupado em ser vegano, não se [o produto] tem açúcar ou glúten", explica Debora.

A confeitaria de Curitiba utiliza algumas farinhas lowcarb, como as de amêndoas e de castanha de caju, e um mix feito com farinha de arroz, fécula de batata, polvilho doce e fubá.

Os chocolates comprados para fazer os ovos de Páscoa são adoçados com maltitol e stevia. Em outras receitas, Debora adiciona principalmente o eritritol e o xilitol.

De acordo com Melanie Rodacki, vice-presidente do departamento de diabetes mellitus da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, não há distinções significativas entre os tipos de adoçantes do ponto de vista da saúde. "O que faz diferença mesmo é você comer uma quantidade pequena."

Quem tem diabetes precisa estar atento também à quantidade de carboidratos, o que às vezes é mais difícil no caso de marcas artesanais que não dispõem de tabelas nutricionais nos rótulos. "Há menos conservantes, por outro lado, a gente tem menos detalhes da composição calórica", complementa a endocrinologista.

Apesar de não haver contraindicações, pessoas com o sistema digestivo mais sensível devem evitar exagerar no chocolate adoçado com os polióis —maltitol, eritritol, xilitol e sorbitol, por exemplo.

Segundo a nutricionista Marlice Marques, que é coordenadora do departamento de nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes, não há um limite específico de ingestão diária, mas excessos podem causar diarreia, estufamento e dores abdominais.

Nas cozinhas das duas lojas da Confeitafit, em Betim (MG) e Belo Horizonte, a lista de ingredientes exclui tudo que tiver glúten ou lactose. São usadas farinhas low carb, como a de amêndoas e de coco, e outras com teor mais alto de carboidrato, como a de arroz integral.

Com público forte de praticantes da lowcarb e diabéticos, o negócio criado em 2017 por Jessica Lana, 31, tem duas linhas principais: a lowcarb e a funcional. Os doces funcionais são feitos com açúcar demerara e mascavo, enquanto os de baixo carboidrato, com os adoçantes stevia, eritritol e taumatina.

Os ovos de Páscoa, vendidos entre R$ 80 e R$ 170, incluem três marcas de chocolate, que contêm alto teor de cacau. Para os recheios, são usados leites vegetais e cremes de leite zero lactose ou de castanha de caju.

Os ingredientes, em geral, mais caros refletem nos preços dos ovos. Um quilo de farinha de arroz, por exemplo, pode chegar a custar cerca de três vezes mais do que um quilo de farinha de trigo, encontrado nas gôndolas por valores a partir de R$ 4.

Na visão de Jessica, o pulo do gato está em atrair os clientes de forma mais assertiva. "Não adianta você oferecer um ovo sem glúten, sem lactose e sem açúcar para uma pessoa que não sabe valorizar o ingrediente que você usa ali." A Confeitafit fatura cerca de R$ 1,9 milhão por ano.

Outra estratégia, adotada pelas três confeiteiras nessa Páscoa, é preparar os produtos para pronta entrega. "O brasileiro é assim, não tem jeito. O povo chega aqui desesperado, porque esqueceu de alguém ou não sabia que tinha restrição alimentar. Nossa aposta é deixar alguns ovos recheados, pré-prontos", diz Debora, da Confitness.

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