Linhas de crédito acessíveis dão fôlego financeiro ao pequeno empresário

Empréstimo deve estar ligado à expansão do negócio, segundo especialista

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São Paulo

Um empório de bairro, com um pouquinho de cada coisa, como um minimercado central de produtos mineiros de qualidade. Em 2017, a empreendedora Ritha Jacome deu continuidade à iniciativa do irmão, que abriu a primeira loja assim um ano antes, e levou para o bairro Cidade Jardim, em Belo Horizonte, o Empório Du Carmo.

O negócio no ramo alimentício seguiu bem mesmo durante a pandemia e, segundo Jacome, cresceu 34% no período em relação a 2019. Porém, o aumento repentino da folha de pagamento de três para seis funcionários e a decisão de não repassar reajustes de preços dos produtos para os clientes elevaram os custos operacionais.

Em 2021, ela pegou dois empréstimos. Um do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), do governo federal, no valor de R$ 90 mil. O outro, de R$ 50 mil, veio pela linha de crédito Capital de Giro, criada pelo Sebrae para ajudar os pequenos empresários a equilibrar o fluxo de caixa.

Uma mulher sorridente de meia idade, vestindo um avental preto com o nome "Empório Du Carmo" estampado, apresenta um grande queijo artesanal. Ela está em uma loja gourmet, cercada por produtos alimentícios, transmitindo uma atmosfera de tradição e qualidade
Ritha Jacome, proprietária do Empório Du Carmo, em Belo Horizonte (MG) - Marco Antônio de Carvalho - Divulgação

"A gente precisou de dinheiro porque teve prejuízo. O custo do produto chegou a consumir 80% do meu faturamento", afirma Jacome. "Eu poderia ter buscado novos produtores com preços mais baratos e manter a minha margem, mas a qualidade para mim era o principal. Conheço o local de produção de todos os meus fornecedores", diz.

O Brasil tem hoje 15,5 milhões de microempreendedores individuais (MEI); 6,6 milhões de microempresas e 1,2 milhão de empresas de pequeno porte. Para reestruturar o mercado de crédito, o governo federal lançou em abril o programa Acredita visando melhorar o acesso desse público ao sistema financeiro.

Fora do programa, a principal barreira para empreendedores ao buscar um empréstimo é a ausência de garantias a serem oferecidas às instituições, o que eleva as taxas de juros praticadas pelos bancos.

Segundo o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, por meio do Acredita o governo disponibiliza um fundo garantidor que aumenta o interesse dos bancos em emprestar para os pequenos com juros baixos.

Com a política de estímulo Procred 360, destinada às empresas com faturamento de até R$ 360 mil anual, é possível pegar um valor emprestado com juros fixados pela Selic mais 5% ao ano. Essa taxa representa menos da metade da que é praticada pelo mercado para esse público e é ainda menor que a do Pronampe.

Com as novas linhas de crédito mais baratas, os pequenos podem também substituir empréstimos caros contratados em outros momentos e ganhar mais fôlego financeiro.

Um exemplo é o de empreendedores endividados com cartão de crédito, com juros altos. Eles podem renegociar as dívidas bancárias por meio do Desenrola, ação voltada para empresas inadimplentes com faturamento bruto anual de até R$ 4,8 milhões, e pegar um empréstimo por meio do Procred 360 com as taxas mais baixas.


De acordo com o professor de economia Hugo Garbe, convidado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, há vários momentos na vida do empreendedor para se pedir um auxílio financeiro. Mas o melhor está ligado a uma oportunidade de negócio.

"O empréstimo sempre tem que estar associado a uma produção. Eu estou comprando mais máquinas, equipamentos, estou aumentando a minha fábrica, vou vender mais, vou faturar mais. Esse é o bom empréstimo", diz Garbe.

Por outro lado, o ruim é aquele que entra no capital de giro da empresa para cobrir outras dívidas e só aumenta o endividamento. "Daí para a falência é um processo muito rápido", afirma.

"No Brasil, infelizmente, os empresários não têm uma boa educação financeira. É muito empírico, ou seja, aprende fazendo, aprende errando. E isso, infelizmente, aumenta a taxa de insucesso do empreendedorismo", avalia o professor.

No programa Acredita, para evitar dívidas, o crédito é limitado a 30% do faturamento do ano anterior, para pequenos negócios em geral, e de 50% para as empresas lideradas por mulheres.

Uma mulher sorridente, vestindo um uniforme preto, está de pé em frente a loja "Empório Du Carmo". Há prateleiras visíveis e variedade de itens expostos na frente, incluindo vinhos e produtos frescos
Ritha Jacome, do Empório Du Carmo, recebeu a consultoria Checkup Finanças, do Sebrae - Marco Antônio de Carvalho - Divulgação

Além disso, segundo o ministério, o programa aposta na orientação financeira para o melhor uso dos recursos e conta com a parceria do Sebrae para isso. Ritha Jacome, do Empório Du Carmo, recebeu da entidade a consultoria Checkup Finanças.

"A gente conseguiu projetar o que estava fora do caminho correto. Margem de produto, custos internos, prazos de pagamento, produtos que não giravam e empatavam o capital há muito tempo. A consultoria deu uma visão muito clara da nossa rentabilidade", diz a empreendedora.

A loja, com produtos do dia a dia como doces, biscoitos, queijos, charcutaria, azeites, vinhos e linhas gourmet a preços acessíveis, agora está com a saúde financeira estabilizada. A empresária conclui o pagamento dos dois empréstimos em agosto deste ano.

Jacome investiu em mídias sociais e retomou as vendas pelo ecommerce. No começo de 2023, saiu de um espaço de 30 metros quadrados para uma loja de esquina, com 110. "A gente começou em 2017 com um faturamento anual de R$ 380 mil e fechou o ano passado em R$ 1,6 milhão", diz.

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