Assim como em outras áreas do mercado, o número de mulheres à frente de grandes redes de franquias ainda é pequeno. Ao ganharem propulsão e passarem pelo processo de franqueamento de suas empresas, elas despertam outras mulheres ao mundo dos negócios, com atrativos como a identificação com a marca e a troca feminina.
Quando engravidou da filha, a publicitária Patrícia Ribeiro Lima, 44, começou a se questionar sobre o legado de seu trabalho na moda e decidiu passar por uma transição de carreira. "Pesquisei por mais de um ano, até entender que moda e beleza estão relacionadas e descobrir que o nicho da beleza natural estava engatinhando no Brasil", conta.
Ao identificar o crescimento do ramo em países como Estados Unidos, com produtos feitos a partir de matéria-prima orgânica, origem vegana e sem crueldade animal, ela criou a marca digital Simple Organic, em 2017. "Mas comecei a sentir falta [do contato com o público], porque a gente trabalhava com o sensorial, e a brasileira quer sentir o cheiro, ver na pele, testar a base."
Foi aí que, após aparecer em uma reportagem, ela começou a receber emails de empresários interessados em adquirir uma franquia e decidiu se abrir à possibilidade.
Patrícia, que é CEO da marca, diz ter se sentido sozinha ao longo da carreira. "O empreendedorismo já traz uma solidão e, quando você é mulher, é mais solitário ainda." Em 2020, quando começou a receber propostas de aquisição da empresa, o sentimento cresceu. "Eram sempre homens nas reuniões." Ela fechou o negócio na 17ª proposta, a única feita por uma executiva —que amamentava um bebê de três meses durante a chamada por vídeo.
Ela vendeu parte da empresa para rede de farmácias Hypera Pharma, visando ampliar o negócio e aumentar sua troca com mulheres em cargos executivos.
Segundo ela, a maioria das franquias é comandada por mulheres. "Acho que tem a identificação com as bandeiras que a Simple levanta, de igualdade de gênero, diversidade racial e liberdade sexual."
Para Luciana Faluba Damásio, doutora em administração de empresas e estratégia organizacional pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e professora na Fundação Dom Cabral, não é surpreendente que marcas lideradas por mulheres tenham mais franqueadas, já que atuam em setores onde elas costumam ser mais bem aceitas.
"Quando orientamos alguém que quer abrir um negócio, a primeira coisa é escolher um ramo com o qual se identifique. Então é natural as mulheres irem para a moda, os cosméticos e a beleza", diz.
Fundadora e presidente do conselho administrativo da Adcos, Ada Mota, 69, viu sua empresa de dermocosméticos atrair cada vez mais homens.
"Era uma rede muito feminina no início, formada por mulheres que queriam ter um negócio e se sentiram capazes de se desenvolver com a nossa ajuda. Depois que o negócio começou a crescer, maridos começaram a se aposentar e vieram ajudá-las. Hoje temos antigos funcionários que se tornaram franqueados."
Ada se formou em farmácia bioquímica e fez mestrado na França, na época em que surgiu o conceito de dermocosméticos —produtos com ação cosmética e dermatológica, voltados para a beleza e a saúde da pele. De volta ao Brasil, foi sócia de uma farmácia de manipulação.
"Tive quatro filhos e, com dez anos de farmácia, comecei a sentir falta da pesquisa, de avaliar a eficácia dos produtos e da fundamentação científica. Então desenvolvi a Adcos, que se propõe a levar eficácia dermatológica com revestimento cosmético." A marca foi fundada em 1993, em Vitória (ES), e hoje tem como CEO um dos filhos de Ada.
No início, a empresa tinha revendedores, e a ideia de se tornar franquia surgiu de forma orgânica. Em 2012 ela decidiu formatar a empresa. Ada conta que, geralmente, oferece uma cidade para cada franqueado. A rede tem 33 donos de franquias, com três a quatro lojas cada.
Vanessa Vilela, 46, fundadora e CEO da Kapeh Cosméticos e Cafés Especiais, escolheu o café como centro de seu negócio. Ela fundou, em 2007, uma rede de franquias que reúne, no mesmo espaço, uma cafeteria e uma loja de cosméticos feitos do grão.
"Temos mais de 200 produtos que apresentam o café de diferentes formas, sempre pautados em inovação, sustentabilidade, responsabilidade socioambiental e reciclagem das nossas embalagens. Tudo isso faz parte aí do DNA da empresa", diz ela, que é farmacêutica e
bioquímica.
Simple Organic
Investimento inicial A partir de R$ 175 mil
Prazo de retorno do investimento 18 a 36 meses
Adcos
Investimento inicial A partir de R$ 500 mil
Prazo de retorno do investimento 36 meses
Kapeh
Investimento inicial A partir de R$ 178 mil (modelo quiosque)
Prazo de retorno 24 meses
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