Lateral Roberto Carlos ainda quer seleção e mira carreira de técnico
Após 11 anos de serviços ao Real Madrid e mais de uma década como titular quase absoluto da seleção brasileira, o lateral-esquerdo Roberto Carlos vive fase diferente na carreira, longe dos holofotes para o público brasileiro e europeu, mas idolatrado na Turquia, onde defende as cores do Fenerbahçe ao lado de uma legião brasileira.
Ouça a entrevista de Roberto Carlos
Roberto Carlos fala sobre seleção brasileira
Fatih Saribas /Reuters |
Roberto Carlos transmite sua experiência e curte bom momento no turco Fenerbahçe |
Mesmo aos 35 anos, o lateral diz ainda não estar contente com a galeria de títulos que possui, que inclui uma Copa do Mundo e três Copas dos Campeões, entre outros, e quer sempre mais. "Eu acho que sempre posso melhorar. Quero sempre um título ao fim de cada temporada", disse o jogador.
Apesar de admitir não ter chances de disputar a próxima Copa do Mundo, em 2010, o titular da lateral-esquerda da seleção nos Mundiais de 1998, 2002 e 2006 disse que ainda se imagina na equipe e que uma "emergência" o faria atuar no Mundial da África do Sul.
O ex-jogador de União São João, Palmeiras, Inter de Milão e Real Madrid evita falar sobre o momento de encerrar o ciclo como atleta, mas já faz planos para uma carreira como treinador e já tem inclusive um projeto de "estágio" com Zico, seu ex-treinador no Fenerbhaçe.
Confira a íntegra da entrevista
Folha Online - Depois de 11 anos em um clube de grande pressão e cobrança como o Real Madrid, como estão sendo estes seus dois anos no futebol turco? Como é a convivência com um grupo com muitos brasileiros, é muito diferente dos tempos de Real?
Roberto Carlos - Aqui na Turquia é muito diferente, para se trabalhar no futebol é muito bom, o torcedor é apaixonado e se parece muito com o brasileiro. Istambul é cidade muito boa, tem uma boa gastronomia e tem um turismo forte. É muito gostoso [trabalhar com brasileiros], tanto para o jogador como para o time. Os turcos aprendem muito com a gente e nos usam como exemplo. No Real, infelizmente não tivemos êxito. Nas vitórias, era o grupo quem ganhava, e quando perdíamos a culpa era dos brasileiros porque eles não uniam o grupo. Aqui eles veem o brasileiro como alguém que traz experiência, qualidade e alegria.
J.J. GuillØn/Efe |
Pelo Real, foram três Copas dos Campeões e dois Mundiais |
Folha Online - Um jogador que tem no currículo três Copas dos Campeões, dois Mundiais Interclubes, uma Copa do Mundo, dois Campeonatos Brasileiros, entre outros, além de ter sido eleito um ano o segundo melhor jogador do mundo pela Fifa, pode se dizer já realizado com sua carreira e que não falta mais nada?
Roberto Carlos - Não, no futebol sempre falta, você nunca consegue ganhar tudo. Eu nunca ganhei a Copa do Rei [da Espanha], por exemplo. Eu acho que posso melhorar ainda mais, o dia que o ser humano achar que sabe tudo, a vida perde a graça. Você tem sempre que correr atrás do algo mais. Cada ano que eu jogo procuro manter a regularidade para ganhar um título no fim da temporada.
Folha Online - O que aconteceu que o time dos "galácticos" do Real Madrid não conquistou muitos títulos?
Roberto Carlos - Quando o Florentino [Pérez] foi o presidente do Real Madrid, ele só trouxe jogadores importantes, como Figo, Zidane, Beckham e Ronaldo. Assim, os outros clubes quando jogavam contra o Real encaravam a partida como se fosse contra a seleção brasileira. Existia aquela coisa de que éramos o melhor time da Europa, que tínhamos os melhores jogadores, éramos o clube mais rico do mundo, e isso acabava prejudicando muito para o sucesso. Com a chegada do Florentino, todo mundo pegou um pouco de raiva da gente, pois o Real gastava muito dinheiro, e os outros gastavam menos. Os caras queriam mostrar que eles poderiam ser do mesmo nível do Real.
Folha Online - Os jogadores testados pelo técnico seleção brasileira, Dunga, na lateral esquerda, ainda não se firmaram no time. Você acha que ainda teria lugar neste time? Sonha em disputar a Copa de 2010 ou já vê seu ciclo encerrado na seleção?
Roberto Carlos - Eu acho que sim [ainda teria lugar no time], eu poderia jogar sim. Não porque não tenham outros bons jogadores, temos alguns, como o Gilberto, o Kléber, o Marcelo, temos bons laterais. O problema dos laterais é que eles querem jogar mais como meio-campistas, mesmo usando a camisa 6. Os laterais não se firmam na seleção porque eles têm mentalidade de jogadores de meio-campo. Vi o jogo do Brasil outro dia, eu acho que tenho condições de ajudar a seleção. Mas não dá mais tempo, se fosse no começo [do ciclo do técnico Dunga], logo após a Copa de 2006 [seria possível], a não ser que aconteça como o Romário, um caso de urgência. Mas a seleção está bem servida com estes jogadores.
Folha Online - Como um time que tinha craques como você, Kaká, Ronaldinho, Robinho, Adriano e Ronaldo fracassou no Mundial de 2006? A preparação foi mesmo mal feita?
Roberto Carlos - Existe aquele ditado, de que sempre que as coisas começam mal, elas terminam mal. Saímos do Brasil já como campeões do mundo, o melhor time do mundo e que tinha os melhores jogadores do mundo; falavam que a seleção ia arrasar. Nossa preparação não foi adequada. Quando se perde sempre procuram desculpas, falaram que o time não jogou bem, depois o Kaká disse que não jogou na posição que deveria. Mas acho que no geral começamos a preparação mal e não fomos um time que foi para participar de uma Copa do Mundo.
Antônio Gaudério/Folha Imagem |
Após três Copas do Mundo pela seleção, Roberto Carlos vê Mundial de 2010 distante |
Folha Online - Quais são seus planos após o final de sua carreira? Pensa em virar treinador ou abandonar o futebol de vez?
Roberto Carlos - Tenho a possibilidade de trabalhar aqui no Fenerbahçe quando eu parar, mas minha vontade mesmo é de ser treinador. Eu falei com o Zico [ex-técnico do time turco e agora no CSKA, da Rússia], e perguntei se quando eu parasse eu poderia trabalhar com ele em algum clube, e ele disse que não tem problemas. Quero aprender alguma coisa, ver o estilo de trabalho dele, viajar com ele e ver o sistema que ele joga para depois começar o meu trabalho como treinador. Mas tenho que ter experiência para não tomar um tombo.
Folha Online - Qual foi o melhor treinador que você já trabalhou?
Roberto Carlos - No Brasil eu acho que foi o Vanderlei [Luxemburgo], não tem igual a ele. Por mais que o Muricy [Ramalho, técnico do São Paulo] esteja em um grande momento. O Vanderlei tem títulos, facilidade na adaptação com os jogadores, ele foi o melhor que tive em termos de clube. Mas trabalhei com muitos outros bons, como Zagallo, Parreira, Felipão, Capello, Del Bosque, e agora o Aragonés. Todos foram bons para mim, mas o Vanderlei foi o mais diferente.
Folha Online - Você pensa em voltar a jogar no Brasil futuramente? Que clube escolheria?
Roberto Carlos - Penso sim em voltar, todo jogador pensa. Mas não penso em qual clube. Pretendo ficar mais dois anos aqui no Fenerbahçe e depois pensar sobre isso.
Folha Online - Após a Copa do Mundo de 2006, você e o Cafu chegaram a sofrer algumas críticas pelo desempenho na competição. Você acha que chegou a faltar reconhecimento pelo que vocês dois fizeram na história da seleção, sobretudo você, por uma suposta falha ao arrumar o meião no gol da França nas quartas-de-final?
Roberto Carlos - No meu caso não. No começo, logo quando acabou a Copa, foram muitas críticas sim. Mas depois viram na TV que foi tudo uma invenção e me trataram como sempre, não analisaram apenas por causa de um jogo. O brasileiro me elogiou na hora certa e me criticou na hora certa. Eu e o Cafu não podemos nos preocupar com as críticas. Não posso reclamar da torcida.
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