Descrição de chapéu Governo Trump

Sob controvérsia, governo Trump insere pergunta sobre cidadania no censo

Para especialistas, medida pode diminuir taxa de respostas e afetar estimativas de população

Apoiadores do presidente dos EUA, Donald Trump, fazem ato contra imigração ilegal e pelo muro na fronteira com o México em San Diego, na Califórnia
Apoiadores do presidente dos EUA, Donald Trump, fazem ato contra imigração ilegal e pelo muro na fronteira com o México em San Diego, na Califórnia - John Gastaldo - 13.mar.2018/Reuters
Washington

O governo de Donald Trump decidiu inserir, no questionário do próximo censo dos EUA, em 2020, uma pergunta sobre a cidadania do entrevistado. Para especialistas, isso pode diminuir a taxa de resposta e afetar as estimativas da população.

 

A inserção, que ocorre em meio ao endurecimento da política migratória, foi confirmada na noite desta segunda (26) e atende a pedido do Departamento de Justiça.

O governo alega necessidade de obter dados precisos sobre o eleitorado do país, formado apenas por cidadãos americanos (incluindo naturalizados). O objetivo, segundo o secretário da Justiça, Jeff Sessions, é garantir e promover o acesso às urnas.

Especialistas em estatística e organizações de defesa dos imigrantes temem que a pergunta seja usada para identificar e perseguir estrangeiros sem documentação, o que inibiria a participação.

"É uma decisão cara e desastrosa", disse Arturo Vargas, diretor da Associação Nacional de Autoridades Latinas, que estimula a participação política. "Só vai inflarmar o medo e a descrença no censo."

Para a presidente da Associação Estatística Americana, Lisa LaVange, "há enorme chance de a qualidade do censo ser afetada. 

A organização lembra que o questionário foi submetido a testes e que uma amostra do levantamento já está sendo realizada no estado de Rhode Island sem a pergunta sobre cidadania. Uma mudança de última hora poderia comprometer a confiabilidade dos resultados.

Segundo a associação, relatórios mostram aumento da desconfiança de profissionais do censo entre imigrantes. Pesquisadores têm relatado número crescente de questionamentos espontâneos sobre a confidencialidade das informações sobre status legal dos entrevistados e também recusas em responder.

"A possibilidade de que essas informações sejam repassadas às autoridades de imigração me aterroriza", afirmou um respondente latino à pesquisadora Mikelyn Meyers, do censo americano.

O Departamento de Comércio dos EUA, responsável por submeter o questionário ao Congresso, considerou que não há dados que mostrem queda na taxa de resposta por causa da pergunta e ressaltou que a pergunta já fez parte do censo até 1950 e integra outros levantamentos federais.

"Mesmo que haja impacto nas respostas, o valor da coleta de dados mais completos e precisos sobre a população como um todo supera essas preocupações", informou o secretário Wilbur Ross.

Estados como Califórnia e Nova York, com grande população imigrante e governadores democratas, ameaçam entrar na Justiça contra o governo federal, alegando que a medida infringe a Constituição.

Eles podem perder repasses se a taxa de respostas cair e for aferida população menor do que a estimada.  O procurador-geral da Califórnia, Xavier Becerra, protocolou a ação de seu estado ainda nesta terça (27). 

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