Caravana com imigrantes da América Central chega a Tijuana sob ameaças

Desde que grupo de mil pessoas chegou ao México, Trump promete que não os deixará entrar nos EUA

Em rua, grupo de pessoas com malas faz fila ao lado da porta de um ônibus rodoviário branco, que está de porta aberta; atrás, outro ônibus espera
Imigrantes da caravana que saiu da América Central rumo aos EUA fazem fila em Mexicali, no México, no último trecho da viagem até Tijuana - Hans-Maximo Musielik/Associated Press
Silas Martí
Nova York

Quando os ônibus com centenas de imigrantes da América Central chegaram ao longo de toda esta semana a Tijuana, uma cidade mexicana na fronteira com os Estados Unidos, autoridades ali talvez já tivessem visto alguns daqueles rostos na televisão.

Mas a recepção não foi nada calorosa. Todos os recém-chegados, a maioria mulheres com crianças, aguardam agora em abrigos antes de tentar a travessia para os EUA.

Desde que essa caravana partiu há um mês de um povoado na divisa do México com a Guatemala, imagens dos migrantes que fogem da violência em seus países e vêm pedir asilo em solo americano passaram a circular no noticiário.

Entre os espectadores mais assíduos dessa jornada, está o presidente Donald Trump, que vem chamando de "desgraça" o movimento e pedindo que a polícia barre a entrada de todos na fronteira.

Sua secretária de Segurança Doméstica, Kirstjen Nielsen, também ameaçou o grupo. Ela mencionou fraudes em pedidos de asilo e lembrou que mentir às autoridades na fronteira é um crime que pode implicar uma série de punições.

Jeff Sessions, o secretário de Justiça, fez coro, comparando Trump "ao novo xerife do pedaço" ao falar do decreto do presidente que despacha soldados para a divisa com o México e pede mais uma vez a construção de um muro para lacrar a fronteira.

"Deve haver consequências para ações ilegais", disse Sessions. "Mas a falta de um muro também é um convite aberto para essas travessias ilegais."

Enquanto não erguem mais barreiras no deserto que separa os EUA do México, até 4.000 homens das Forças Armadas podem ser deslocados para patrulhar a fronteira —a Califórnia, que tem na cidade de San Diego o ponto mais movimentado da divisa, autorizou a ida de 400 soldados, e o Texas deve enviar outros 150.

Mas toda a movimentação é vista como um teatro inócuo num momento em que prisões na fronteira vêm caindo.

Os migrantes da caravana recém-chegada não somam nem mil —são uma fração ínfima dos 200 mil haitianos que foram presos tentando entrar nos EUA há quatro anos ali.

Seus casos agora serão avaliados um a um. Alguns, se passarem numa primeira triagem, poderão entrar no país mediante o uso de tornozeleira eletrônica e serão monitorados enquanto seus pedidos de asilo tramitam na Justiça.

Outros podem ficar detidos na delegacia fronteiriça para uma série de entrevistas.

Movimentos como esse também não são novos. O Pueblo Sin Fronteras, grupo que está por trás da caravana, vem organizando cortejos parecidos ao longo dos últimos anos como forma de chamar a atenção para a violência em nações da América Central.

Desde a campanha, Trump mostra desdém por imigrantes latinos, chamando mexicanos de estupradores e usando episódios de violência da gangue MS-13, que surgiu em El Salvador, como exemplos de crimes que aumentariam com a entrada de pessoas da região. No primeiro ano de seu mandato, 2017, as detenções de imigrantes sem documentos cresceram 40%.

Em mais um passo na escalada de xenofobia, a Suprema Corte pode validar o veto à entrada de cidadãos de países de maioria muçulmana até o fim desta semana.

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