Quando os ônibus com centenas de imigrantes da América Central chegaram ao longo de toda esta semana a Tijuana, uma cidade mexicana na fronteira com os Estados Unidos, autoridades ali talvez já tivessem visto alguns daqueles rostos na televisão.
Mas a recepção não foi nada calorosa. Todos os recém-chegados, a maioria mulheres com crianças, aguardam agora em abrigos antes de tentar a travessia para os EUA.
Desde que essa caravana partiu há um mês de um povoado na divisa do México com a Guatemala, imagens dos migrantes que fogem da violência em seus países e vêm pedir asilo em solo americano passaram a circular no noticiário.
Entre os espectadores mais assíduos dessa jornada, está o presidente Donald Trump, que vem chamando de "desgraça" o movimento e pedindo que a polícia barre a entrada de todos na fronteira.
Sua secretária de Segurança Doméstica, Kirstjen Nielsen, também ameaçou o grupo. Ela mencionou fraudes em pedidos de asilo e lembrou que mentir às autoridades na fronteira é um crime que pode implicar uma série de punições.
Jeff Sessions, o secretário de Justiça, fez coro, comparando Trump "ao novo xerife do pedaço" ao falar do decreto do presidente que despacha soldados para a divisa com o México e pede mais uma vez a construção de um muro para lacrar a fronteira.
"Deve haver consequências para ações ilegais", disse Sessions. "Mas a falta de um muro também é um convite aberto para essas travessias ilegais."
Enquanto não erguem mais barreiras no deserto que separa os EUA do México, até 4.000 homens das Forças Armadas podem ser deslocados para patrulhar a fronteira —a Califórnia, que tem na cidade de San Diego o ponto mais movimentado da divisa, autorizou a ida de 400 soldados, e o Texas deve enviar outros 150.
Mas toda a movimentação é vista como um teatro inócuo num momento em que prisões na fronteira vêm caindo.
Os migrantes da caravana recém-chegada não somam nem mil —são uma fração ínfima dos 200 mil haitianos que foram presos tentando entrar nos EUA há quatro anos ali.
Seus casos agora serão avaliados um a um. Alguns, se passarem numa primeira triagem, poderão entrar no país mediante o uso de tornozeleira eletrônica e serão monitorados enquanto seus pedidos de asilo tramitam na Justiça.
Outros podem ficar detidos na delegacia fronteiriça para uma série de entrevistas.
Movimentos como esse também não são novos. O Pueblo Sin Fronteras, grupo que está por trás da caravana, vem organizando cortejos parecidos ao longo dos últimos anos como forma de chamar a atenção para a violência em nações da América Central.
Desde a campanha, Trump mostra desdém por imigrantes latinos, chamando mexicanos de estupradores e usando episódios de violência da gangue MS-13, que surgiu em El Salvador, como exemplos de crimes que aumentariam com a entrada de pessoas da região. No primeiro ano de seu mandato, 2017, as detenções de imigrantes sem documentos cresceram 40%.
Em mais um passo na escalada de xenofobia, a Suprema Corte pode validar o veto à entrada de cidadãos de países de maioria muçulmana até o fim desta semana.
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