No dia seguinte à eleição, candidatos acenam ao 3º colocado na Colômbia

Para cientista político, Iván Duque e Gustavo Petro representam mudança de geração política

Duque veste blazer preto e camisa azul sem gravata, enquanto Petro usa terno cinza, camisa branca e gravata vermelha. Os dois aparecem do peito para cima falando em um cenário com fundo cinza escuro.
O senador direitista Iván Duque e o ex-prefeito de Bogotá Gustavo Petro, em debate do jornal "El Tiempo" antes do primeiro turno da eleição presidencial na Colômbia - Henry Romero - 24.mai.18/Reuters
Sylvia Colombo
Bogotá

A três semanas do segundo turno que decidirá quem será o novo presidente da Colômbia, os dois finalistas decididos na votação do último domingo (27) já saíram à caça dos 6,4 milhões de votos que foram destinados aos candidatos derrotados na disputa.

Em seus discursos na noite de domingo (27), tanto o direitista e favorito Iván Duque, 41, quanto o esquerdista Gustavo Petro, 58, acenaram generosamente ao terceiro colocado, Sergio Fajardo, e seus 4,5 milhões de eleitores.

Nesta segunda-feira (28), porém, Fajardo disse que lidera uma ampla aliança, e que portanto “qualquer decisão de apoiar alguém será tomada apenas depois de um debate interno”.

A tendência é que os eleitores de Fajardo mais à esquerda votem em Petro. Porém, quem havia escolhido o ex-prefeito de Medellín por ser uma opção mais de centro, podem optar por Duque ou abster-se no segundo turno. O voto não é obrigatório na Colômbia.

“Esta eleição tem um caráter histórico”, diz à Folha Juan Gabriel Tokatlian, cientista político especializado em Colômbia. “Houve duas novidades importantes. Primeiro, uma mudança de geração. Saem de cena os protagonistas dos anos 1990 e perde força o binômio partidário Liberal e Conservador. Entraram novas caras, como as de Duque e Petro. E, em vez de partidos, foi uma votação caracterizada por grandes coalizões. A outra novidade é o grande comparecimento às urnas, que mostra que os colombianos se deram conta de que seu país está entrando numa nova fase.”

De fato, após o acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a retomada do crescimento econômico, a entrada do país na OCDE e na Otan são assuntos comentados entre os colombianos como sinais de novos tempos.

“Não somos mais párias mundiais, como éramos nos tempos de Pablo Escobar, em que nossos pais tinham vergonha de ter passaporte colombiano. Acho que as novas lideranças têm de expor isso”, disse Vicky Lugones, 22, eleitora de Duque.

Quando Tokatlian fala da troca de rostos tradicionais, está se referindo à geração que fez a Constituição de 1991, e a tempos em que ex-presidentes, como César Gaviria e outras famílias poderosas, como a do próprio presidente Juan Manuel Santos, tinham muita influência na política, estando ou não em cargos.

Para o cientista político, o sucesso do esquerdista Petro explica-se menos por mostrar-se um radical e por seu passado guerrilheiro, e mais “por ter sido um legislador de grande influência quando foi senador, com ideias claras e boa capacidade de comunica-las, assim como Duque, aos mais jovens. Durante a campanha mostrou-se muito ponderado e lúcido, não um extremista.”

Porém, ele crê que será difícil vencer a candidatura do favorito, Iván Duque, “justamente porque ele expressa melhor essa vontade de renovação geracional e uma falta de vínculos com velhos modos de fazer política”. Ainda que isso inclua uma contradição, pois seu padrinho político é o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010).

Indagado sobre se Duque tentaria se desvencilhar de Uribe caso vença, como fez Santos, o cientista acha improvável. “A relação de Duque com Uribe é mais umbilical, não o vejo como um rebelde. Por outro lado, já deixou claro ter ideias próprias e que funcionaram muito junto a eleitores jovens. Uribe também entendeu isso e creio que lhe dará espaço.”

Para o estudioso, “a única forma de Petro ganhar é que o comparecimento às urnas seja ainda maior do que no primeiro turno, e isso não deve acontecer, porque boa parte dos eleitores de Fajardo provavelmente não vai querer votar em nenhuma dessas duas alternativas.”

Além da batalha pelos votos de Fajardo, Duque anseia pelos dos eleitores do direitista Germán Vargas Lleras, enquanto Petro tentará trazer os de Humberto de La Calle, candidato liberal e ex-chefe das negociações de paz com as Farc.

O certo é que a Colômbia terá, pela primeira vez, uma vice-presidente do sexo feminino: ou a número dois de Duque, Marta Lucía Ramírez, ou a de Petro, Ángela Robledo. Isso nunca havia ocorrido na história do país.

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