Às vésperas de entrar oficialmente para a família real britânica, a atriz americana Meghan Markle descobriu o quão problemática é a relação da realeza com a imprensa de celebridades.
Menos de uma semana antes de se casar com o príncipe Harry, ela viu seu pai, Thomas Markle, transformar-se no centro das atenções.
Ele deveria conduzi-la ao altar no sábado (19), em Windsor, mas anunciou que não viajaria para o Reino Unido devido a problemas de saúde.
Na verdade, estaria sob forte pressão depois de ter sido acusado de posar para um paparazzo, que venderia as fotos por 100 mil libras (cerca de R$ 500 mil), forjando um flagra. O caso virou ouro nas mãos dos tabloides ingleses.
Desde o século passado, os paparazzi estão presentes nos momentos mais importantes da realeza.
Captaram casamentos, separações e nascimentos. Em 1997, testemunharam a morte da princesa Diana e chegaram a ser responsabilizados por ela.
A relação entre a imprensa de celebridades e a família real é de simbiose, explica Olivier Driessens, especialista em estudos de celebridades e professor da Universidade de Copenhagen.
“Se os paparazzi operam dentro de certos limites e respeitam a vida das celebridades, há uma relativa aceitação deles”, disse.
Quando há uma quebra desse “acordo”, completa Driessens, aparecem os problemas e os processos judiciais. Analistas discutem o quanto a paz foi rompida no caso do pai de Meghan.
A morte de Diana foi uma dessas rupturas e é considerada um ponto de inflexão no mercado de paparazzi e na relação entre a monarquia britânica e a mídia de celebridades —que passou a ter mais respeito pela privacidade real.
Segundo Driessens, isso ocorreu porque o público se voltou contra os fotógrafos.
Os paparazzi se consolidaram como instituição na cobertura da realeza já na primeira metade do século 20. Para o historiador Ryan Linkof, que escreveu sobre a cobertura que a imprensa fez da relação entre o rei Eduardo 8º e a socialite Wallis Simpson, nos anos 1930, o aparecimento desse tipo de registro do cotidiano da realeza foi importante para o país porque a autoridade política da monarquia britânica é derivada de seu simbolismo.
Até a atuação dos paparazzi, esse simbolismo era controlado pela monarquia, via imagens oficiais. A partir dali, porém, a imprensa conseguiu surpreender os súditos. A Coroa comprou a ideia, mas, no fim do século, a mídia pareceu ter perdido os limites éticos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.