Violenta era ela, afirma ex-juiz acusado de agredir a ex-mulher

Roberto Caldas nega assédio a funcionárias; advogado de Michella Calmon diz que ele mente

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Roberto Caldas, ex-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que é acusado de violência física por sua ex-mulher
Roberto Caldas, ex-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que é acusado de violência física por sua ex-mulher - Andre Coelho/Folhapress
Brasília

O ex-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, Roberto Caldas, afirmou em entrevista à Folha que a ex-mulher é que era violenta no relacionamento. Ele diz ter mantido casos extraconjugais com duas funcionárias de sua casa, mas nega assédio. 

Sobre áudios em que chama a ex-companheira de "cachorra", "safada" e "vagabunda", entre outros xingamentos, se disse "profundamente arrependido". O advogado de Michella Pereira, Pedro Calmon, disse que Caldas mente e que vai processá-lo por difamação.

Michella procurou nas últimas semanas a Delegacia de Atendimento à Mulher de Brasília relatando agressões físicas e verbais contínuas. Apresentou fotos e gravações em que é xingada por Caldas.

Antes da entrevista, de cerca de 1 hora e 20 minutos, o ex-presidente da Corte Interamericana pediu para fazer uma explanação inicial.

 

Folha - Qual a explanação inicial o sr. quer fazer?

Roberto Caldas - Esse caso é certamente a situação mais difícil de minha vida. Sempre me pautei pela ética, verdade e justiça e estou sendo acusado com mentiras enormes e pequenas, construção de detalhes ardilosamente planejada por anos para construir minha figura como violenta, por uma pessoa que é violenta. 

Ela tem um histórico impressionante que vim a descobrir agora quando comecei a realizar essa separação e comecei a ser chantageado. Temos uma união estável com separação total de bens. Eu descobri agora que eu e as pessoas de Brasília fomos enganados com a história de que ela foi agredida pelo ex-marido. Na verdade, foi ela a agressora. E exatamente nessa dificuldade que ela tem do rompimento.

Eu estou tentando me separar há muito tempo. Há quatro anos eu disse: "Não consigo mais". Eu queria ir para a corte e ela dizia: não. Uma época que eu fui lembrado para ir para o Supremo ela dizia: "Seria terrível você ir porque você vai acabar com a nossa vida".

Ela tentava muito que eu estivesse ali no arco de proximidade. Mas essa proximidade desde o início era muito doentia. A ponto de eu próprio, já no final, eu estava me tornando... tendo rompantes. E parece que era coisas provocadas, planejadas.

Essas duas [ex-funcionárias domésticas] que dizem que foram assediadas por mim, é uma grande mentira. Esse processo é uma montagem, uma está dando suporte a outra, mas mentira tem perna curta.

Eu não tenho nada a esconder. Eu tive, realmente, é um erro, eu me penitencio, eu mantive absolutamente escondido, para não expô-la, para não expor a todos, eu tive dois casos com pessoas que trabalharam lá em casa, mas as duas foi que me procuraram. Eu nunca forcei ninguém a nada. Namorei muito na minha vida, sempre coisas absolutamente lícitas. E o que eu descobri agora? Ela [Michella], que se apresenta como vítima, na verdade ela é a violentadora. Ela queimou o marido.

E o sr. descobriu isso só agora?

Só agora, por incrível que pareça. Ela me dizia o seguinte: ela teve um processo do ex-marido contra ela por lesões corporais graves, mas ela seria a vítima. Aí ela viu um advogado, eu falei com ele, ele entrou [com habeas corpus] e prescreveu. Mas nada disso houve. Hoje pesquisando, o que há são duas sentenças, uma do marido e outra de outra pessoa, de que ela queimou. O marido queria se separar e ela ameaçava. Até que ele disse: vou sair de casa hoje. Então o indivíduo e a outra pessoa, que é menor de idade...

Essa pessoa é sua enteada?

Não, eu não posso falar isso. Tem menor de idade e eu prefiro reservar. Está tudo no processo. É sigiloso, mas a própria Michella pode pedir cópia.

O sr. fala em sentenças, teve sentenças nesse processo?

Teve sentença e foi dado como prescrito. Porém os fatos foram descritos e as fotos estão lá. O que aconteceu, ele falou: vou sair de casa e ela foi na cozinha, pega uma panela de óleo fervente e... ela disse exatamente o contrário disso. E eu acreditei piamente na palavra dela. 

O sr. conseguiu esse processo de que forma?

Conversando com pessoas em Maceió.

Mas o sr. teve acesso à sentença, a peças do processo?

Não. Porque é segredo de Justiça. Mas nós vamos requerer agora a cópia e vou pedir o depoimento do ex-marido.

O sr. fala em personalidade violenta dela. No período de seu casamento, quais foram as atitudes violentas dela?

Algumas. Preocupantes. Agressão a empregadas.

Agressão física?

Física. Uma babá, de nome Márcia, uma moça magrinha...

O sr. tem contato dessa pessoa?

Não tenho contato, posso tentar, ela trabalhou para outro casal amigo, posso tentar. Ela estava conversando sobre a demissão dela e havia a desconfiança de que ela havia machucado o meu filho, ele estava com o braço vermelho. E ela [Michella], com essa desconfiança, ela se destempera completamente e vai em cima dela e crava as unhas. E empurrou a moça para fora e pra aí foi. Acho que para esconder o que ela é, ela está me acusando. Inclusive pessoas começam a me dizer agora como ela é agressiva, como liga pra ameaçar. Inclusive ela disse que deu uma surra em uma funcionária, outra, em julho, disse que deu uma surra, que pegou no cabelo e arrancou um tufo de cabelo, e bateu.

Em relação ao sr., qual foi a atitude agressiva, como era a relação entre vocês?

Tivemos entreveros. Entreveros em elevado grau e o máximo que tinha era empurrão, nada que fosse... Ela já tentou me agredir, mas eu a detinha. Era um ambiente extremamente doentio. Agressão verbal, sim, de parte a parte. Só que ela não junta a história inteira. Eu sempre procurava conversar sobre tudo. Quando tive nesses dois anos na presidência da Corte, quando eu viajava muito, aí a casa entrou em um total desgoverno. Ela não conclui as coisas. Estamos morando em uma casa há seis anos que não conclui a obra sequer. 

Essa casa que estaria para alugar por R$ 100 mil [em referência a reportagem do site Metrópoles, que descreveu a casa que o casal morava]?

Exatamente. Essa casa, que dizem que vale R$ 50 milhões, é uma grande ilusão. Talvez se tenha gastado próximo disso [para construí-la] , mas o máximo que se teve de suposta oferta foi R$ 20 milhões. É uma casa específica, enorme, que, sinceramente, não é bem a minha cara. Eu cedi, sempre gostei de arquitetura contemporânea, mas a casa saiu um exagero, enorme, sem sentido. Então está posta venda ou aluguel, o primeiro que surgir. 

O sr. fala que era uma relação doentia. O que leva o sr. a dizer isso, exatamente?

Há muito tempo ela faz uso de remédios, cada vez mais remédios, acaba não se livrando dos remédios que seriam próprio para determinados períodos. E parece que a coisa só vai deteriorando. E desde o início ela tem essa variação de humor. Agora, eu não a machuquei. [Fala de um episódio específico que ela o acusa de tê-la jogado escada abaixo]. A única coisa que aconteceu foi que ela, que estava de salto alto, e eu, acompanhando, passo a passo, não estava empurrando todo o tempo, eu estava pressionando, estava assim [mostra os braços abertos e o peito estufado pra frente]. Agora, ela indo... agora por que aconteceu essa altercação e a minha máxima efervescência? Porque ela estava trancado, pela segunda vez, dentro do quarto, de portas fechadas, com uma funcionária que estava grávida, que me denunciou que foi trancada pela Michella para pressionar para mentir para mim. Por desvios financeiros que a Michella estava fazendo em casa.

Mesmo que essa situação tenha sido real, o sr. não acha que se excedeu na reação? Ou acredita que tomou a melhor atitude?

Não. Em sã consciência eu teria simplesmente pedido para [ela] sair. 

Essa funcionária está depondo a favor do sr.?

Eu posso chamá-la e vou chamar, porque ela é uma testemunha-chave. [volta a falar de Michella] Ela faz faz alienação parental com o pai [de sua filha do primeiro casamento] há anos. Eu descobri que é um pai dedicadíssimo. Ele tem uma segunda filha, nova, que ele leva à escola, busca, está sempre com a menina, então o depoimento dele será fundamental.

O sr. está fazendo acusações greves contra ela. Mas quero perguntar sobre o que veio a público, o que ela apresentou à polícia. A minha pergunta é: em algum momento de sua relação o sr. agrediu fisicamente sua esposa?

Olha, no máximo foram empurrões de parte a parte e esse tipo de coisa. Sempre altercações verbais. 

O sr. fala que no máximo houve altercações, empurrões. Essas fotos que ela apresentou, de rosto roxo...

Nunca machuquei ela, jamais. Eu não sei o que é isso. Nas próprias gravações que ela junta, ela própria diz que tinha problema circulatório. Eu até não me lembrava disso, ela dizia que quando sentia raiva, ela ficava com roxos. Também eu observava que ela se machucava muito nos pés e nas pernas, porque ela dava muita topada. Ela andava sempre descalça e ela tinha isso, dava muita topada. Coisa pequena, algo que inclusive com medicamento resolve.

Em nenhum momento foi parte de agressão do sr.?

Absolutamente. Nunca agredi.

Nesse dia que o sr. relata que o sr. voltou pra casa porque ela teria trancado uma funcionária, o que aconteceu?

Ela não teve nenhum acidente, ela não se machucou. Ela simplesmente caiu na vertical, se desequilibrou e caiu sentada. 

Isso não foi uma atitude provocada pelo sr.?

Eu estava nesse momento na escada, eu tomei muito cuidado, porque é escada. Nós fomos andando, nessa hora ela já estava caminhando, ela impressionantemente calma, em todo o tempo calma, tinha hora que ela ria. Eu pensei, "meu Deus do céu, o que é isso, é uma patologia?" Mas não, é porque ela disse, "te peguei". Deve estar filmado. Então, vamos ver, que ela mostre.

Em relação aos áudios, aos termos que o sr. se referia a ela  [vagabunda, vaca, burra, gorda escrota, dentre outras], o sr. acha que foram adequados?

Absolutamente, lamentável, eu estou procurando desculpar a mim próprio, é muito difícil, eu me arrependo profundamente. Não é esse padrão de educação que eu tive, nem que dou para os meus filhos. Nem tenho esse tipo de altercação com nenhuma outra pessoa.

O fato de haver tantas ex-funcionárias testemunhando a favor dela, que estão relatando casos de assédio, o sr. não acredita que isso seja um indicativo de que fato houve uma coisa errada nisso?

Absolutamente. Eu nunca forçei mulher nenhuma a nada.

Mas os episódios relatados por elas não ocorreram? Que o sr. tentou beijar uma no banheiro?

Não, absolutamente, não tentei beijar. Eu realmente elogiei os olhos dela. Ela tem um problema psiquiátrico, lá em casa ele teve dois surtos. Mas o que a Michella e a mãe da Michella exigiam dessa moça, era algo... Duvido que ela [a ex-funcionária], em juízo, vá manter a mesma declaração. [Sobre outra] É uma moça muitíssima liberal, ela mesma falava das coisas que fazia, e a Michella sabia disso há muito tempo [ele diz que tinha um casamento flexível]. [Sobre uma terceira que teria tentado beijar] Isso vou falar em juízo, mas não foi assédio. Eu entendi que ela se insinuava pra mim, o casamento já tinha [faz um gesto com as mãos de "já era"] e por duas vezes ela insinuou, inclusive nesse dia, então eu só fiz assim pra ela [gesto para se sentar em seu colo]. Aí ela disse: "Aqui não". Só isso, só isso. Foi errado? Foi profundamente errado, porque eu já deveria acabado com isso há muito tempo.

Um outro ex-funcionário disse ao site Metrópoles que viu o sr. tratar a Michella com violência, retirado-a do carro, ela teria rolado...

De jeito nenhum, não tenho ideia do que seja isso.

Fazendo uma reflexão da atitude do sr. com ela nesse período, o sr. acha que foi compatível a uma pessoa que até pouco tempo presidia a Corte Interamericana de Direitos Humanos?

Realmente não. Deveria ter me separado e ter uma vida pacífica. Mas esse tipo de coisa foi propositalmente montada, de provocações, para buscar algo nesse momento. E é algo que não é uma discussão de direito de família. É exatamente para avançar naquilo que ela não quer perder. A pessoa que era violenta dentro de casa era ela. Ela muitas vezes me empurrou. Me tratava com extrema rudeza. Algumas vezes eu chegava da Costa Rica, de algum país, e o que tinha era sempre atrasos para me buscar no aeroporto. Eu cansado, de madrugada, uma hora da manhã. Eram coisas simbólicas, como exatamente no meu escritório ou no meio da sala, cocô de cachorro. Assim, dois cachorrinhos que não conseguem fazer no lugar certo. Então, coisas assim, de negativas, chegar e não querer conversa.

Tudo bem, mas o sr. fala de uma pessoa violenta. Que tipo de violência o sr. passou com ela no dia a dia?

Ela chegava com rudeza para mim, na hora que eu chegava. "Ah, você tem que mudar o horário desse voo", eu dizia: "É o único horário que tem". Coisas assim.

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