Irã avisa a ONU que aumentará capacidade de enriquecimento de urânio

País disse que medida não viola o acordo nuclear; Israel criticou a ação

Teerã, Beirute, Paris e Bruxelas | AFP, Reuters, Associated Press e Financial Times

O governo iraniano anunciou nesta terça-feira que vai aumentar a capacidade de enriquecimento de urânio com mais centrífugas, mas que manterá a produção dentro dos limites estabelecidos no acordo nuclear. 

A decisão é a resposta mais forte até agora do Irã à decisão do presidente americano, Donald Trump, no mês passado, de abandonar o acordo.

A medida também eleva a pressão para que França, Reino Unido e Alemanha (que também integram o pacto nuclear, ao lado de Rússia e China) tentem salvar o acordo, que impôs restrições à atividade nuclear iraniana em troca de levantar algumas sanções econômicas contra o país.

Agora, os europeus têm de correr para tentar chegar a uma proposta que ainda seja economicamente benéfica aos iranianos, já que empresas como as francesas Total e Peugeout ameaçam desistir de investir no Irã caso não sejam protegidas das sanções americanas.

A economia iraniana entrou em forte crise no período das sanções (2010-2015). Se, em 2010, o PIB ainda cresceu 5,7%, nos cinco anos seguintes houve uma retração, em média, de 0,7%, a inflação disparou (chegou a 41% anuais em 2012) e houve problemas no abastecimento de alimentos e remédios.

O porta-voz da agência nuclear iraniana, Behrouz Kamalvandi, confirmou a decisão de elevar a capacidade de enriquecimento e disse que o país enviou uma carta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada a ONU, com os detalhes da ação. 

Segundo ele, o país está trabalhando para aumentar sua capacidade de produção dos gases UF4 e UF6 e na produção de rotores para centrífugas avançadas.

Técnico iraniano trabalha em instalação do programa nuclear do país próxima a Teerã
Técnico iraniano trabalha em instalação do programa nuclear do país próxima a Teerã - Behrouz Mehri - 3.fev.2007/AFP

São essas centrífugas de alta velocidade que conseguem converter esses gases em urânio enriquecido, que pode ser usado para a produção de energia e na área médica. 

Para o uso em armas nucleares, é preciso de um nível de enriquecimento de urânio em torno de de 90%. Por isso, o acordo nuclear que o país assinou com potências internacionais estabelece o teto de 3,67% —antes do pacto, o país conseguia atingir o patamar de 20%. 

"Se as condições permitirem, pode ser que amanhã, em Natanz [região central do país], possamos declarar a abertura do centro de produção de novas centrífugas", afirmou o vice-presidente Ali Akbar Salehi, que comanda o programa nuclear iraniano. 

Segundo ele, porém, a produção de novas centrífugas não significa que elas serão usadas imediatamente. Ele  voltou a dizer que o programa nuclear do país tem fins apenas para uso civil e que as ações anunciadas nesta terça "não violam" o acordo. "Também não quer dizer que fracassaram as negociações coma Europa", completou.

Após  Trump anunciar em 8 de maio que seu país deixaria o acordo, Teerã passou a negociar com Reino Unido, França e Alemanha as condições para permanecer no pacto. 

Pelo acordo, assinado em 2015, o Irã aceitou uma série de limitações a seu programa nuclear, incluindo uma fiscalização da AIEA, em troca do fim de diversas sanções contra o país. 

Por isso, a decisão americana de deixar o acordo e retomar as sanções ameaça o pacto, já que Teerã perderia parte das vantagens econômicas conquistadas. Isso levou a nova rodada de negociações do país com os europeus, em busca de formas de diminuir o impacto da saída dos EUA. 

Maja Kocijancic, porta-voz da União Europeia, afirmou nesta terça-feira que a decisão iraniana de elevar a capacidade de enriquecer urânio não vai contra o pacto nuclear, mas ressaltou que na atual conjuntura não é positiva para diminuir as desconfianças sobre o programa.

Na segunda (4), o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse ter ordenado às autoridades que se preparassem para aumentar a capacidade de enriquecimento de urânio caso o acordo nuclear seja desfeito. 

Assim, o anúncio desta terça foi interpretado como um avanço neste sentido e como um aviso aos europeus de que o país irá enriquecer urânio rapidamente caso não tenha suas demandas atendidas. 

Israel

As novas medidas não foram bem recebidas por Israel, um dos principais críticos do acordo nuclear. 

O premiê Binyamin Netanyahu, atualmente em viagem pela Europa em uma tentativa de convencer os países da região a saírem do pacto, afirmou que não ficou surpreso com o anúncio e que não vai permitir que Teerã tenha armas nucleares. 

O ministro israelense da Inteligência, Yisrael Katz, foi além e pediu a formação de uma coalizão militar contra o Irã caso o país deixe o acordo internacional.

"Seria necessária uma tomada de posição do presidente dos Estados Unidos e de toda a coalizão ocidental —na qual estariam sem dúvida os árabes e Israel—  para deixar claro que se os iranianos voltarem [a enriquecer com fins militares], se formará uma coalizão militar contra eles", afirmou.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.