Ex-negociador-chefe das Farc para paz desiste de vaga no Senado na Colômbia

Iván Márquez critica prisão de colega e mudanças no acordo que, para ele, foi desfigurado

Iván Márquez aparece com o dedo esquerdo em riste enquanto fala sentado em uma entrevista coletiva.
O ex-negociador-chefe das Farc no acordo de paz, Iván Márquez, em entrevista em abril; ele desistiu de vaga no Congresso da Colômbia - Luis Acosta - 10.abr.18/AFP
Bogotá | AFP

O número dois da ex-guerrilha Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e negociador-chefe do acordo de paz do grupo armado e agora partido, Iván Márquez, se negou a assumir o cargo de senador na próxima sexta-feira (20) na Colômbia por considerar que o pacto com o governo foi desfigurado.

Em carta divulgada nesta segunda-feira (16), o ex-guerrilheiro afirma que circunstâncias insuperáveis se colocaram no caminho de sua intenção de fazer parte do Congresso, em uma das dez vagas determinadas pelo acordo com o governo.

Entre os obstáculos para não assumir o cargo, ele citou a captura de seu colega Jesús Santrich, acusado de tráfico de drogas pelos EUA e cuja extradição é discutida pela Justiça, a modificação do acordo no Congresso e a falta de condições para a transição dos ex-guerrilheiros.

"Sinto que a paz na Colômbia está presa nas redes da traição e não tanto porque não se materializou o acertado, que precisa de tempo para se concretizar, mas pelas modificações introduzidas que desfiguraram o acordo", disse Márquez, em uma carta.

Assinado no final de 2016, o pacto de paz atravessa um difícil processo de implementação e inclusive o presidente eleito, o direitista Iván Duque, prometeu correções depois que assumir o cargo, em 7 de agosto. Ele se opõe a que os chefes da ex-guerrilha acusados de crimes contra a humanidade assumam cargos no Congresso.

Márquez havia deixado sua posse como senador do agora partido Força Alternativa Revolucionária do  Comum em dúvida depois da prisão de Santrich, em abril. Desde a detenção, que chama de chantagem emocional, o ex-negociador-chefe foi morar em uma das zonas de desmobilização de guerrilheiros no sul colombiano.

Antes de pegar em armas na década de 1980, Márquez chegou a ser deputado do Partido Comunista, exterminado nos anos seguintes por paramilitares de extrema-direita com vista grossa das autoridades.

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