Na ONU, Netanyahu acusa Irã de manter armazém nuclear secreto em Teerã

Premiê de Israel pede que agência atômica realize imediatamente inspeções no local

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, apresenta foto do que seria um armazém nuclear iraniano em Teerã, na Assembleia Geral da ONU, em Nova York - Carlo Allegri/Reuters
Nova York | Reuters

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, acusou o Irã nesta quinta-feira (27) de manter uma segunda instalação secreta destinada ao armazenamento de material atômico em Teerã, o que, segundo ele, prova que o país persa não abandonou seu programa de armas nucleares.

"Hoje estou apresentando pela primeira vez que o Irã tem outra instalação secreta em Teerã, um armazém nuclear secreto para estocar quantidades imensas de equipamentos e materiais do programa nuclear iraniano", afirmou Netanyahu em seu discurso durante a Assembleia Geral da ONU. 

Segundo ele, o local descoberto fica a cerca de 5km da unidade revelada por Israel em maio, perto da capital iraniana.

Netanyahu mostrou aos delegados presentes painéis com a suposta localização da segunda unidade secreta.

“Eles [oficiais iranianos] estão tentando limpar o armazém atômico", ressaltou. Mas, segundo ele, ainda há resquícios de material no local. 

"Apenas no mês passado eles removeram 15 kg de material radioativo [do armazém]. Vocês sabem o que eles fizeram com isso?", disse. "Eles retiraram e espalharam ao redor de Teerã em um esforço para esconder a evidência."

Ao todo, haveria 15 contêineres de navios com material armazenado na unidade descoberta, o que, pelos cálculos que fez, equivaleria a 300 toneladas de equipamentos e materiais nucleares.

“Distintos delegados, vocês têm que se perguntar uma coisa. Por que o Irã mantém uma unidade atômica secreta e um armazém atômico secreto?”, questionou.

Netanyahu afirmou que o governo iraniano pretende usar o material para desenvolver armas nucleares e planeja usar os dois locais dentro de alguns anos, “quando o tempo será certo para construir a bomba atômica.”

“Isso não vai acontecer, porque o que o Irã esconde Israel vai achar”, ressaltou. “Israel sabe o que você está fazendo e onde você está fazendo. Israel nunca vai deixar um regime que quer nossa destruição desenvolver armas nucleares agora, em dez anos nem nunca.”

Netanyahu pediu que a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), ligada à ONU, realize imediatamente inspeções no local. 

“Vá inspecionar esse armazém atômico imediatamente, antes de o Irã acabar de limpar. Lembra quando dissemos que as inspeções poderiam acontecer a qualquer lugar, a qualquer hora? Que tal inspecionar aqui e agora?”, pediu.

O premiê afirmou ainda que o acordo com o Irã assinado por países europeus e do qual os Estados Unidos saíram em maio deste ano, teve um efeito positivo.

“Ao fortalecer o Irã, deixou os EUA e Israel mais próximos do que nunca, numa intimidade e amizade que eu não vi durante minha vida e que seria inimaginável alguns anos atrás”, afirmou. 

Durante todo seu discurso Netanyahu dirigiu elogios aos Estados Unidos e críticas aos líderes europeus, acusados de não terem aprendido “nada com a História.”

“Em Israel, não precisamos de um despertar, porque o Irã nos ameaça todos os dias. O acordo não afastou a guerra, mas aproximou a guerra de nossas fronteiras”, afirmou.

O premiê israelense também fez críticas pesadas à organização libanesa Hizbullah, que afirmou ser comandada pelo Irã. “O Hizbullah está usando pessoas inocentes em Beirute como escudos humanos”, acusou. “Eu tenho uma mensagem ao Hizbullah: Israel sabe, sempre sabe, o que você está fazendo, onde você está fazendo e não vai deixar você se safar disso”, ressaltou.

Netanyahu subiu ao púlpito da ONU cerca de 40 minutos depois do presidente palestino, Mahmoud Abbas —ambos foram “separados” pelos representantes de União Europeia e Bélgica.

O israelense aproveitou a parte final de seu discurso para rebater acusações feitas por Abbas de que o governo de Tel Aviv pratica discriminação contra palestinos.

“Israel pratica discriminação contra palestinos, garantindo o direito a autodeterminação somente aos israelenses que vivem no país”, afirmou. “Nosso povo sofre pelas forças israelenses, que minam nossos esforços para construir as instituições de nosso querido Estado”, disse o palestino. 

Em resposta, Netanyahu disse que Abbas escreveu uma dissertação negando o holocausto e afirmou que o governo da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) impõe sanções a quem tenta vender apartamentos a judeus.

Enquanto a questão israelense-palestina ocupou apenas uma pequena parte do discurso de Netanyahu, que preferiu direcionar suas críticas ao Irã, Abbas usou praticamente seus 40 minutos para criticar o governo israelense.

“Jerusalém não está à venda”, iniciou o presidente palestino, que afirmou ser impossível alcançar a paz sem um Estado palestino que tenha Jerusalém Oriental como capital.

Abbas também lamentou a mudança de postura adotada pelo governo americano após a eleição de Donald Trump.

“Encontrei Trump e esperamos por sua iniciativa com a maior paciência, mas ficamos chocados com suas decisões e ações que contradizem as regras de sua Administração em direção ao processo de paz”, afirmou o palestino.

Ele citou especificamente a decisão de Washington de fechar a representação palestina na capital americana, o reconhecimento de Jerusalém como capital israelense e a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.

“Reitero que não somos contrários à negociação e vamos continuar estendendo nossas mãos à paz. Nós somente acreditamos na paz, é o único caminho.”

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