Príncipe saudita negou saber o que aconteceu a jornalista, diz Trump

Casa de cônsul saudita foi alvo de buscas nesta terça em Istambul em meio a investigações

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Istambul e Genebra | AFP, Reuters e Associated Press

O presidente americano Donald Trump afirmou nesta terça-feira (16) que o príncipe saudita Mohammed bin Salman, conhecido como MBS, "negou totalmente" que tenha conhecimento do que aconteceu com o jornalista saudita Jamal Khashoggi, que desapareceu depois de ir ao consulado saudita em Istambul há duas semanas.

"Acabei de conversar com o príncipe [MBS] da Arábia Saudita, que negou totalmente qualquer conhecimento do que aconteceu no consulado da Turquia. Ele estava com o secretário de Estado Mike Pompeo durante a ligação, e me falou que já começou, e vai expandir rapidamente, uma investigação completa sobre esse assunto. Haverá respostas em breve", escreveu Trump em rede social.

Horas depois, o republicano criticaria à agência de notícias Associated Press o que chamou de pressa ao acusar o regime de assassinar Khashoggi, comparando com as acusações de abuso sexual contra o juiz Brett Kavanaugh.

“Temos que saber o que aconteceu primeiro. Aí vamos outra vez com o que, vocês sabem, é culpado até que se prove inocente. Não gosto disso. Nós passamos por isso com Kavanaugh e ele é inocente até onde sabemos”.

Sobre a versão dada por ele na segunda (15) de que matadores de aluguel teriam assassinado o jornalista, o americano disse ter baseado isso na sua impressão da conversa com o rei Salman, e não que o monarca tenha falado isso.

Investigadores realizaram nesta terça buscas por "materiais tóxicos" na casa do cônsul-geral saudita, Mohammad al-Otaibi, em Istambul, afirmou à imprensa local o presidente turco, Recep Tayyip  Erdogan, em meio às investigações sobre o paradeiro de Khashoggi.

A agência de notícias AFP informou que Al-Otaibi deixou a Turquia em voo comercial em direção a Riad. Não houve confirmação oficial desta informação.

Erdogan afirmou ainda que "alguns materiais" no consulado, onde as buscas entraram pela noite e duraram mais de nove horas, foram "pintados por cima".

O rei Salman, da Arábia Saudita (dir.), recebe o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, em Riad - Leah Mills/AFP

Autoridades turcas acreditam que Khashoggi tenha sido morto durante visita que fez ao consulado saudita em Istambul. A última vez em que foi visto foi entrando no edifício, aonde foi para retirar documentos.

A Arábia Saudita nega, mas relatos da imprensa americana de segunda-feira (15) indicavam que o reino árabe poderia admitir o assassinato do repórter, colaborador do Washington Post, durante um "interrogatório que deu errado".

O Washington Post afirmou que uma nota nesse sentido seria divulgada após um acordo com a Turquia em torno das investigações sobre o caso.

O jornal The New York Times disse que MBS autorizou o interrogatório, mas que pelo acordo um oficial de inteligência seria responsabilizado pela operação. 

"Minha esperança é que possamos chegar a uma conclusão que nos dê uma opinião razoável [sobre o que aconteceu ao jornalista] o quanto antes", afirmou Erdogan.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, se encontrou nesta terça com o rei Salman, da Arábia Saudita para discutir o desaparecimento do jornalista. 

Agentes de segurança são vistos diante da casa do cônsul-geral da Arábia Saudita, Mohammad al-Otaibi, em Istambul (Turquia) - Osman Orsal/Reuters

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu nesta terça a retirada da imunidade dos agentes sauditas que podem estar envolvidos no desaparecimento do jornalista.

"Levando em consideração a gravidade da situação do desaparecimento de Khashoggi, acredito que a inviolabilidade ou a imunidade dos locais e dos funcionários envolvidos acordada por tratados como a Convenção de Viena de 1963 sobre as relações consulares teria que ser retirada imediatamente", afirmou Bachelet em um comunicado.

"No direito internacional, tanto o desaparecimento forçado como as execuções extrajudiciais são crimes muito graves e a imunidade não deveria ser utilizada para apresentar obstáculos às investigações sobre o que aconteceu", completou.

A ONU não pode, no entanto, impor a retirada da imunidade. O país de recepção, neste caso a Turquia, pode solicitar às autoridades do país de origem que retirem a imunidade de um de seus agentes diplomáticos no caso de infrações graves.

Os ministros das Relações Exteriores do G7 também manifestaram sua preocupação e pediram às autoridades turcas e sauditas uma investigação transparente do caso.

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