Chefes da diplomacia de EUA e China trocam farpas durante encontro em Pequim

Mike Pompeo e Wang Yi expõem desavenças diante de jornalistas

Pequim | AFP e Reuters

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e seu homólogo chinês, Wang Yi, deram mostras, nesta segunda-feira (8), de um diálogo pouco diplomático em Pequim.

De passagem por Pequim ao fim de uma viagem pela Ásia em que se reuniu com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, Pompeo ouviu críticas do ministro das Relações Exteriores chinês sobre as últimas medidas tomadas por Washington, desde a guerra comercial até a vendas de armas a Taiwan.

"Recentemente, enquanto o lado americano continuamente escalou o atrito comercial com a China, também adotou uma série de medidas no tema Taiwan que prejudicam os interesses e os direitos da China, além de fazer críticas sem base sobre as políticas doméstica e externa da China", afirmou Wang a jornalistas, ao lado de Pompeo.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo (esq), ao lado do ministro de Relações Exteriores da China, Wang Ri, em encontro em Pequim - Andy Wong/AFP

"Essas medidas prejudicam a confiança mútua e atrapalham o futuro das relações sino-americanas, o que vai completamente contra os interesses dos dois povos", continuou. "Nós exigimos que os EUA interrompam essas ações imprudentes."

​Pompeo, que estava informando Wang sobre sua recente visita a Kim, respondeu: "Os temas que você caracterizou, tem um desacordo fundamental [sobre eles]". 

"Temos grave preocupações sobre as ações que a China tomou, e espero ter a oportunidade de discutir cada um deles hoje porque esta é uma relação extremamente importante." 

O tom das conversas mostra a deterioração das relações entre EUA e China nas últimas semanas, depois de o presidente americano Donald Trump ter questionado a China sobre políticas de tecnologia e sobre as intenções de soberania do país asiático sobre ilhas no mar do sul da China.

Trump também aprovou uma venda de armas a Taiwan, que tem governo independente mas é considerado pela China uma província rebelde. Por fim, os EUA sancionaram recentemente uma empresa chinesa e seu presidente devido a uma compra de armas da Rússia. 

Ao mesmo tempo, os EUA e a China têm aumentado tarifas sobre bilhões de dólares em produtos um do outro, em uma disputa comercial. 

A visita de Pompeo também aconteceu quatro dias depois de o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, dizer que a China se intromete na política americana para conseguir uma mudança de presidente.

O vice-presidente de Estados Unidos também acusou a China de lançar um "salva-vidas" à Venezuela com "empréstimos questionáveis" em troca de petróleo, e criticou que tenha convencido Panamá, República Dominicana e El Salvador a romper os laços com Taiwan.

Na sexta-feira, a China classificou as acusações de Pence de "injustificáveis".

Pompeo também se encontrou com Yang Jiechi, que lidera a comissão de relações exteriores do Partido Comunista Chinês. 

O secretário de Estado americano não se encontrou com o presidente chinês, Xi Jinping, o que não foi, porém, considerado inusual. 

Apesar dos desentendimentos, os EUA têm pressionado a China a cooperar com os esforços para que a Coreia do Norte abandone suas armas nucleares. O regime de Kim tem como principal aliado a China.

"Se as relações entre os dois países continuarem a se deteriorar, pode haver "mudanças profundas" no ambiente estratégico para assuntos regionais como a Coreia do Norte, afirmou em editorial o jornal Global Times.

"Para a Ásia, a severidade dos atritos entre China e EUA está tendo muita atenção e, em certa medida, diluindo a atenção dada ao tema da Península Coreana." 

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