Democratas fogem do azul e ousam em campanha para atrair eleitor jovem

Novas identidades visuais buscam descolar candidato do establishment ou refletir causas ambientais

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A senadora Kamala Harris durante evento de lançamento de campanha em Oakland, Califórnia - Noah Berger - 27.jan.2019/AFP
Nova York e São Paulo

Democratas usam azul, republicanos usam vermelho. Não necessariamente, pelo menos no que diz respeito à disputa presidencial de 2020 —e em uma quebra de parâmetros até o momento restrita ao lado progressista da coisa.

Alguns dos nomes que querem disputar a candidatura democrata tentam fugir do azul óbvio que simboliza o partido e apostam em uma paleta de cores mais ousada. E, se houvesse um termômetro para medir esse destemor todo, a senadora Kamala Harris, da Califórnia, estaria no extremo mais arrojado.

Harris baseou a identidade visual de sua campanha em cores como roxo e amarelo —o roxo nada mais é do que a mistura de vermelho e azul, cores que caracterizam o sistema político bipartidário americano. No site em que apresenta suas propostas, também recorre a uma tonalidade de laranja.

A senadora não foi a primeira democrata a abraçar o bipartidário roxo e o amarelo em sua propaganda política. Alexandria Ocasio-Cortez, a mulher mais jovem a entrar no Congresso americano, aos 29 anos, também recorreu à dupla chamativa em sua briga por um assento na Câmara dos Deputados.

“As mulheres tendem a ser mais ousadas em termos de cor, em especial quando tentam se vender como pessoas que vêm de fora do sistema”, diz Susan Merriam, cofundadora do The Center for American Politics and Design, centro que pesquisa a linguagem gráfica usada na política americana. “Muitos não querem ser associados aos partidos, querem se vender como antiestablishment.”

Nas campanhas para as eleições de meio mandato presidencial de 2018, o centro compilou 900 logomarcas e as agrupou por cores. Em 610 delas, tons de azul predominaram, enquanto o vermelho e suas variações foram a cor escolhida em 147 logos. O roxo foi terceiro colocado, com 51 candidaturas ao todo.

Para 2020, o verde também parece ser um hit, pelo aceno às causas ambientais. As senadoras Amy Klobuchar, de Minnesota, e Elizabeth Warren, de Massachusetts, são duas que incluíram a cor em suas campanhas e que destacam as mudanças climáticas em sua plataforma política.

E Marianne Williamson, a escritora que quer criar uma nova possibilidade política nos EUA, recorre ao azul escuro e ao rosa claro para se diferenciar das dezenas de democratas que já manifestaram intenção de concorrer à candidatura do partido.

Uma curiosidade: o senador Bernie Sanders, que não é filiado ao partido, acaba sendo um dos que mais se aproximam da tonalidade de azul democrata.

Do lado republicano, além de só ter praticamente um nome confirmado até o momento, o do presidente Donald Trump, a ousadia costuma ser historicamente menor, diz Merriam.

“Há mais experimentação do lado democrata. Entre os republicanos, você encontra alguns que usam amarelo ou laranja, mas são dentro do mesmo espectro de cor vermelho”, afirma. “Os republicanos querem se aproximar mais do que é tradicional no partido. São mais conservadores”, completa.

O uso de cores mais ousadas do lado democrata também atende à necessidade de conquistar os eleitores mais jovens e que se engajam em mídias sociais.

“Há uma narrativa por trás da campanha, e as cores associadas a isso, e muitas pessoas só acompanham o que está acontecendo online. Os dois lados têm que levar isso em consideração, principalmente por causa dos jovens, que estão online o tempo todo, e eles ficam de olho no Instagram, Twitter, e em todo o visual”, afirma.

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