Milícia bombardeia capital da Líbia e ONU pede trégua humanitária

Governo provisório anunciou uma ofensiva contra os rebeldes, que avançam em direção a Trípoli

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Trípoli e Benghazi | AFP e Reuters

Milícias ligadas ao general Khalifa Haftar continuam avançando em direção a Trípoli, capital da Líbia, e realizaram neste domingo (7) seu primeiro bombardeio contra a cidade, apesar dos pedidos da ONU para que os combates sejam interrompidos na região.

Ao menos 21 pessoas foram mortas e mais de 90 ficaram feridas desde que o líder rebelde iniciou sua ofensiva contra a capital, sede do GNA (o governo provisório do país), reconhecido pela maior parte da comunidade internacional. 

O conflito, que deixou moradores presos no meio do fogo cruzado, chegou a apenas 11 km do centro da capital.

Haftar e a milícia que ele comanda, o Exército Nacional Líbio (ENL), já capturaram três cidades próximas a Trípoli (Gharyan, Surman, e Aziziya) e afirmam também ter o controle do aeroporto que serve a capital, o que o GNA nega.

Em uma escalada das tensões, o governo provisório de Trípoli anunciou uma contraofensiva às forças rebeldes em todo o país, em uma operação que chamou de "Vulcão da Ira", com apoio de milícias locais. 

Chefe do governo interino, Fayez al-Sarraj advertiu para uma "guerra sem vencedores", em discurso na TV. "Estendemos nossas mãos para a paz, mas após a agressão de parte das forças pertencentes a Haftar, a única resposta será a força e a firmeza", disse ele ao anunciar a contraofensiva. 

Sarraj também pediu explicações à embaixadora francesa no país, Béatrice du Hellen, devido ao apoio que Paris já deu ao general Haftar.

A ONU fez um apelo para que os confrontos em Trípoli fossem interrompidos por duas horas neste domingo, e assim os feridos e a população civil pudessem ser retirados. Os dois lados do conflito, no entanto, ignoraram a trégua. 

O pedido ocorreu após o Crescente Vermelho, versão islâmica da Cruz Vermelha, afirmar que os combates bloquearam o acesso à capital, impedindo o atendimento às vítimas.

A Líbia atualmente está dividido entre o GNA em Trípoli, que comanda a parte oeste do país e tem o reconhecimento internacional, e o governo de Tobruk, que domina a região leste e tem o apoio do ENL, a milícia de Haftar. Há ainda regiões controladas por grupos menores, além de uma área com atuação do grupo extremista Estado Islâmico (EI). 

Na quinta (4), o general anunciou que daria início a uma ofensiva contra a capital, em uma tentativa de unificar o comando do país antes do início das negociações de paz patrocinadas pela ONU, marcadas para acontecer entre 14 e 16 de abril em Gadamés, no sudoeste do país.

O enviado da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, disse no sábado (6) que a realização da conferência está mantida, apesar da ofensiva contra Trípoli.  

Analistas afirmam que o real objetivo de Haftar é fortalecer seu próprio nome como o único capaz de acabar com o caos que a Líbia vive desde a derrubada e morte do ditador Muammar Gaddafi, em 2011, na esteira da Primavera Árabe. 

Desde então, milícias rivais disputam o poder. Os tumultos reduziram severamente a produção de petróleo, principal riqueza nacional, e criaram regiões de refúgio para extremistas islâmicos, incluindo o EI. 

O conflito entre os rebeldes e o governo fez ainda com que os EUA anunciassem a retirada de suas tropas da Líbia, que estavam no país para ajudar no combate ao Estado Islâmico.

Na Europa, o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse que não há justificativa para a ação de Haftar. “Nós vamos usar todos os canais para encorajar a calma e impedir um banho de sangue”, afirmou. O governo italiano também disse estar preocupado com a situação. 

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, afirmou que o país está "profundamente preocupado" com a ofensiva na Líbia e que busca a "suspensão imediata" da ação militar.

Os Emirados Árabes Unidos, que ao lado da Arábia Saudita e do Egito apoiam Haftar, também pediu moderação a todos os lados.

Segundo fontes diplomáticas, a Rússia barrou neste domingo uma declaração do Conselho de Segurança da ONU, proposta pelo Reino Unido, que pedia às forças de Haftar para deter o avanço sobre Trípoli.

Como as declarações do órgão precisam ser aprovadas por consenso, a recusa da Rússia bloqueou a divulgação da nota. O país tem sido um partidário chave de Haftar.​

CRONOLOGIA

2011  Derrubada do ditador Muammar Gaddafi em meio à Primavera Árabe

2014  Guerra civil divide país; general Haftar faz tentativa frustrada de golpe militar

2015  Acordo nacional com apoio da ONU instaura o GNA como governo provisório em Trípoli

2017  Haftar toma a cidade de Benghazi e consolida domínio sobre o leste da Líbia

fev. 2019  Milícia de Haftar avança sobre deserto ao sul do país e domina campo de petróleo El Sharara

abr. 2019  Rebeldes avançam contra a capital, Trípoli

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