O jornal The New York Times defendeu, em editorial publicado na sexta (27), a abertura de processo de impeachment contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Por quase três anos, pessoas de espírito público (...) imaginaram em que ponto os freios e contrapesos da governança americana teriam que ser restabelecidos pelo freio mais radical de todos. Esse ponto foi alcançado agora", diz o editorial.
Na terça (24), a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, anunciou a abertura do processo que pode retirar o cargo de Trump.
Trump será investigado pela acusação de pressionar o governo da Ucrânia a buscar informações que poderiam prejudicar o filho de Joe Biden, pré-candidato democrata para as eleições de 2020.
Uma semana antes do telefonema, o presidente americano havia congelado uma ajuda de cerca de US$ 400 milhões para a Ucrânia. A oposição afirma que o republicano usou a verba para pressionar Zelenski a investigar Hunter Biden, ex-membro do conselho de uma empresa de gás que esteve na mira da procuradoria ucraniana. A Casa Branca nega. Em 11 de setembro, a verba foi descongelada.
O editorial defende que o republicano usou o poder presidencial para ganho próprio, às custas do interesse público. "É a quintessência de um crime punível com impeachment."
O texto lembra que outro editorial já apontou o presidente como inapto para o cargo. "Nos opomos ao sr. Trump não apenas por suas transgressões pessoais, sua [postura de] divisão e sua desonestidade, mas também por causa do cerne de muitas de suas políticas, para o ambiente, a imigração, os impostos, o comércio e outras questões. Mas desde que o sr. Trump aja dentro da lei, ele tem o direito absoluto de perseguir o que escolheu e de ser julgado pelo eleitor em 2020."
"As revelações sobre a pressão do presidente sobre a Ucrânia mudaram essa imagem. Elas revelam que o sr. Trump esteve trabalhando para subverter a eleição de 2020 (...). A Constituição prevê apenas uma opção à prova de falhas numa situação assim, e é por isso que a Câmara agiu certo ao anunciar um processo de impeachment", prossegue o editorial.
O artigo aponta que outros presidentes também conduziram a política externa do país de olho na reeleição, mas que "um presidente pressionar outra nação com o intuito de derrubar um adversário político não tem precedentes conhecidos".
"Trump degradou as instituições da governança americana e agora é a hora de elas, numa reprimenda histórica, demonstrarem a majestade da democracia representativa", defende o editorial, em seu trecho final.
O texto reflete a posição institucional do jornal, e é assinado pelo Conselho Editorial, que não inclui profissionais que atuam na Redação e analisa os fatos a partir dos valores defendidos pela publicação.
O New York Times foi criticado nos últimos dias por revelar detalhes da identidade do denunciante anônimo que alertou superiores sobre o conteúdo suspeito da ligação feita por Trump.
Também nesta semana, o jornal publicou um artigo no qual diz que o governo Trump deixou de dar apoio a jornalistas em situação de risco no exterior, e que sua retórica tem levado líderes estrangeiros a perseguir a imprensa.
Para que Trump deixe o cargo, há um longo caminho. Além da votação na Câmara, de maioria democrata, o Senado precisa declará-lo culpado com apoio de dois terços dos parlamentares, o que hoje é improvável, porque a Casa tem maioria republicana.
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