Duas imagens do relatório que o presidente da Colômbia, Iván Duque, apresentou na quinta-feira (26) em sua intervenção na ONU contêm informações falsas.
No dossiê, que Duque entregou em mãos ao secretário-geral da entidade, António Guterres, figuram duas imagens com as seguintes legendas: “infiltração do ELN em escolas rurais em Táchira” e “acampamento do ELN no Estado de Bolívar, onde ocorreu um massacre” —ambos são estados da Venezuela.
A polêmica veio à tona na sexta-feira (27), quando a primeira imagem foi contestada por um jornalista do site de notícias El Colombiano.
O repórter afirmou que a foto, que de fato mostra guerrilheiros do ELN (Exército de Libertação Nacional) com um grupo de crianças, correspondia a algo que havia ocorrido e sido reportado em 2013 no Departamento de Cauca, na Colômbia. Segundo o relatório de Duque, a imagem era de 2018 e registrava um fato ocorrido na Venezuela.
No sábado (28), a agência de notícias AFP denunciou que uma segunda foto do dossiê também não correspondia à legenda apresentada. A imagem se referia a um acampamento da guerrilha no Departamento do Norte de Santander, na Colômbia, e não na Venezuela.
Na sexta-feira (27), o próprio Duque admitiu não saber como havia sido cometido o erro e que haveria uma investigação interna na equipe que preparou os papéis entregues à ONU. O governo pediu desculpas à agência AFP.
O fato de ambas as imagens demonstrarem fatos terríveis é incontestável. Porém, as duas foram registradas em território colombiano, e não na Venezuela, como Duque queria demonstrar.
Em seu discurso diante da Assembleia da ONU, o presidente colombiano fez duros ataques à ditadura de Nicolás Maduro e quis levantar a discussão sobre a presença de guerrilheiros do ELN e de dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) atuando, treinando e sendo apoiados por Maduro, em território venezuelano.
Existem outras evidências do Exército colombiano e de organismos internacionais que confirmam que isso está de fato ocorrendo. Mas a inclusão de fotos erradas no relatório enfraquece a argumentação de Duque.
O fotógrafo da France Presse Luis Robayo declarou que a segunda foto havia sido feita por ele, “em uma viagem que fiz à região do Catatumbo”, um ano antes do que figurava na legenda.
Já a primeira foi publicada pelo próprio El Colombiano em 2015, e teria sido entregue ao governo por uma ONG, a Fundaredes. Porém, esta veio a público para dizer que jamais afirmou que a imagem havia sido tomada na Venezuela.
O erro de Duque coloca mais lenha na fogueira na relação entre Colômbia e Venezuela. Maduro rompeu relações diplomáticas com a Colômbia por conta de afirmações de Duque sobre a atuação de guerrilheiros colombianos supostamente sob tutela do ditador, na Venezuela, com o intuito de atacar o país vizinho.
O ditador venezuelano não esperou muito para dar sua resposta. Disse que Duque era um “imbecil”, por apresentar um relatório com provas falsas à ONU.
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