Menino de 4 anos morre em protestos no Chile e total de vítimas sobe para 18

Governo assume que forças de segurança mataram manifestante; país tem protestos há seis dias

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Santiago | AFP

Mais três pessoas, incluindo um menino de 4 anos, se juntaram à lista de mortos na onda de protestos no Chile, elevando o número de vítimas a 18, segundo o governo. 

O menino e um homem morreram quando um motorista embriagado atropelou um grupo de manifestantes. A terceira pessoa morreu após ser agredida pela polícia.

As informações foram detalhadas pelo subsecretário do Interior, Rodrigo Ubilla, na manhã desta quarta-feira (23). Esta é a primeira vez desde o início dos protestos que o governo assume que as forças de segurança mataram manifestantes.

Protesto na praça Itália, em Santiago, na terça-feira (22) - Pedro Ugarte/AFP

O ministro da Justiça, Hernán Larraín, lamentou as mortes. "Estamos profundamente magoados ao verificar a existência de pessoas que morreram, sofreram ferimentos graves", disse.

O aumento do número de mortos é anunciado no dia em que os principais sindicatos e movimentos sociais chilenos convocaram uma greve geral que ameaça aprofundar os protestos que já duram seis dias, apesar de o presidente Sebastián Piñera ter pedido desculpas e anunciado medidas para tentar conter o conflito social.

Em resposta à convocação, milhares de sindicalistas, professores, trabalhadores em greve e estudantes marcharam em Santiago e em outras cidades nesta quarta, no que foram protestos majoritariamente pacíficos. Eles cantaram e carregaram bandeiras.

O metrô de Santiago, que teve diversas estações destruídas nos últimos dias, operou algumas de suas linhas parcialmente, e um novo toque de recolher durante a noite foi anunciado para várias regiões do país.

Houve focos de violência na capital e em Valparaíso. Em ambas as cidades, os ativistas ergueram barricadas e foram confrontados com jatos de água, disparados pela polícia a partir de veículos militares. Em Santiago, manifestantes atearam fogo em um desses veículos. Em Quilicura, um supermercado da rede Líder foi incendiado.

No Brasil, um ato em apoio às manifestações reuniu dezenas na avenida Paulista, em São Paulo, em frente ao Consulado do Chile. Eles seguravam cartazes com os dizeres "força Chile" e "renuncia Piñera". 

Diversas organizações de trabalhadores e estudantes chilenos criticam a decisão de Piñera de colocar o país em estado de emergência e de ordenar toques de recolher, além da decisão de recorrer a militares para controlar manifestações, incêndios e saques registrados em Santiago e em outras cidades. É a mais grave onda de violência no Chile em três décadas.

"Demandamos ao governo restituir a institucionalidade democrática, que em primeiro lugar significa acabar com o estado de emergência e devolver os militares a seus quartéis", afirma um comunicado divulgado pelos movimentos sociais na terça-feira.

Os sindicatos aderiram ao descontentamento social, que teve como estopim o aumento —depois suspenso— de 3,75% do preço da passagem de metrô em Santiago, mas que resultou em um movimento muito maior, que apresenta outras demandas sociais: sobretudo as aposentadorias muito reduzidas do sistema privado, que permanece como herança da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo instituto Ipsos mostra que 67% dos entrevistados "se cansaram de suas condições de vida nas áreas de economia, saúde e aposentadoria", que consideram "desiguais e injustas".

Abalado pela indignação popular, Piñera pediu desculpas na noite de terça-feira (22) pelo que ele chamou de falta de visão para antecipar a crise que atinge o governo e anunciou uma série de medidas sociais.

"Diante das necessidades legítimas e das demandas sociais dos cidadãos, recebemos com humildade e clareza a mensagem que os chilenos nos deram", disse o chefe de Estado em um pronunciamento que deu uma virada radical no tom de confronto com os manifestantes dos últimos dias e que havia elevado o clima de tensão nas ruas.

Entre as principais medidas, Piñera anunciou uma renda mínima garantida, com o Estado complementando em 15% os salários mais baixos, para elevá-los a 350 mil pesos (486 dólares).

Piñera também anunciou a criação de um mecanismo de estabilização dos preços da energia elétrica, que anulará a recente alta de 9,2% nas contas de luz, "retornando ao valor das tarifas elétricas ao nível do primeiro semestre deste ano".

O presidente propôs ainda um seguro para a compra de medicamentos, em um país onde os gastos com saúde das famílias se situam entre os mais altos dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

O ministério da Defesa convocou reservistas do Exército, mas informou que eles não serão usados para patrulhar as ruas e farão apenas trabalhos administrativos.

O papa Francisco expressou nesta quarta-feira sua preocupação com a situação no Chile e fez um apelo por diálogo, ao fim da audiência geral na praça São Pedro. 

"Espero que, uma vez encerradas as manifestações violentas, sejam feitos esforços por meio do diálogo para encontrar soluções à crise e enfrentar as dificuldades que a geraram, para o bem de toda a população", afirmou o pontífice aos milhares de peregrinos que acompanharam o tradicional encontro semanal.

"Estou preocupado com o que está acontecendo no Chile", completou o papa, que visitou o país em janeiro de 2018, onde enfrentou críticas e protestos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.