Trump anuncia morte do líder do Estado Islâmico em operação

Combatente procurado pelos EUA estava sendo monitorado nas últimas semanas

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Washington | Reuters e AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou a morte do líder do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi, em um pronunciamento neste domingo (27) na Casa Branca.

O anúncio representa uma vitória do republicano em meio a duas crises que enfrenta: o inquérito de impeachment devido às acusações de trocas de favores com a Ucrânia e as críticas, inclusive de membros de seu partido, por conta da retirada das tropas americanas do nordeste da Síria.

Segundo Trump, Baghdadi estava sendo monitorado havia semanas e, durante uma operação na Síria, realizada nesta semana na província de Idlib, na fronteira com a Turquia, o extremista foi perseguido em um túnel.

O presidente americano Donald Trump confirma a morte de líder do Estado Islâmico em discurso na Casa Branca
O presidente americano Donald Trump confirma a morte de líder do Estado Islâmico em discurso na Casa Branca - Joshua Roberts/Reuters

Ao se ver acuado por militares dos EUA, acionou um colete de explosivos, matando a si mesmo e outras três crianças que o acompanhavam. Ainda de acordo com o discurso do republicano, o chefe do EI foi identificado por meio de testes de DNA 15 minutos após a morte.

No pronunciamento transmitido pela TV, o presidente disse que "os Estados Unidos levaram o líder terrorista número 1 do mundo à Justiça" e que "o bandido que se esforçou tanto para intimidar os outros passou seus últimos momentos com medo, pânico e pavor, aterrorizado pelas forças americanas".

"Ele chegou ao fim do túnel quando nossos cães o perseguiram. Ele pegou seu colete, matando a si mesmo e a seus três filhos. Seu corpo foi mutilado pelas explosões. O túnel desabou sobre ele", afirmou o líder americano, que também descreveu o terrorista "choramingando e chorando" ao ser acossado.

De acordo com o secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, em entrevista à CNN, as forças especiais dos EUA tentaram capturar Baghdadi vivo, mas o chefe do EI se recusou e fugiu para uma área subterrânea.

Trump disse que as forças americanas, transportadas por oito helicópteros pelo espaço aéreo controlado pela Rússia e com a permissão de Moscou, foram recebidas com tiros ao aterrissar.

Eles teriam entrado no edifício-alvo por meio de buracos nas paredes. Nenhum americano foi morto na operação, embora o presidente tenha dito que um dos cães militares tenha ficado ferido.

Trump fez uma descrição rica em detalhes da operação —já o secretário de Defesa não repetiu termos como "choramingando e chorando".

Segundo o New York Times, Esper afirmou que desconhecia essas particularidades e que o presidente "provavelmente teve a oportunidade de falar com comandantes que estiveram em campo".

Ainda de acordo com o jornal americano, o secretário e o presidente assistiram, na Casa Branca, a um vídeo da invasão feito a partir de aeronaves de vigilância que estavam monitorando o campo de batalha.

A morte de Baghdadi ocorre semanas depois de Trump anunciar a retirada das tropas americanas da Síria, o que gerou críticas de que a mudança levaria ao refortalecimento do Estado Islâmico.

A decisão também foi condenada por configurar uma traição aos curdos, que por anos ajudaram os EUA a combater a facção na região, detendo cerca de 60 mil extremistas. Com a saída dos militares, a Turquia, que classifica milícias como o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) como terroristas, ganhou sinal verde para avançar sobre o nordeste da Síria e empurrar a minoria apátrida para longe dali.

Trump, porém, disse neste domingo que recebeu informações de aliados curdos para conduzir a ação. Ele também agradeceu a colaboração de Turquia, Síria e Iraque.

Já a Rússia, que, segundo o presidente, teria liberado seu espaço aéreo para o ataque, afirmou que desconhece a assistência de seu país a tropa americanas e que não tem informações confiáveis sobre a morte do líder do Estado Islâmico, informou o Ministério da Defesa à agência de notícias estatal RIA.

O líder do Estado Islâmico Abu Bakr al-Baghdadi em imagem retirada de um vídeo
O líder do Estado Islâmico Abu Bakr al-Baghdadi em imagem retirada de um vídeo - Reuters

Segundo o New York Times, a informação que levou ao paradeiro de Baghdadi surgiu quando uma das ex-mulheres e um mensageiro do líder foram presos e interrogados.

A partir daí, a CIA, a agência de inteligência americana, trabalhou de forma próxima a membros da inteligência curda e iraquiana para identificar o paradeiro do líder do EI de forma mais precisa, colocando espiões para monitorar seus movimentos.

Segundo funcionários da administração americana ouvidos pelo jornal, dados fornecidos pelos curdos aos americanos contribuíram para a captura de Baghdadi mais do que a ajuda de qualquer outro país —a cooperação continuou mesmo quando Trump retirou seu exército do norte da Síria.

No auge de seu poder, o Estado Islâmico dominou milhões de pessoas em um território que ia do norte da Síria, passando por cidades e vilarejos ao longo dos vales dos rios Tigre e Eufrates, até os arredores de Bagdá, no vizinho Iraque.

Mas a queda em 2017 de Mossul e Raqqa, suas fortalezas no Iraque e na Síria, respectivamente, tirou de Baghdadi os privilégios de um autodeclarado califa e o transformou em um fugitivo. Ele passou então a se deslocar ao longo da fronteira do deserto entre o Iraque e a Síria. Havia, segundo a agência de notícias Reuters, uma recompensa de US$ 25 milhões (cerca de R$ 100 milhões) por sua captura.

Baghdadi liderava o EI desde 2010, quando ainda era uma ramificação da Al Qaeda no Iraque.

O grupo, que mudou seu nome para Estado Islâmico, ocupou o lugar da facção terrorista liderada por Osama Bin Laden. Seus sucessos militares iniciais e a propaganda eficaz levaram milhares de pessoas a se alistarem em suas filas.

O EI reivindicou diversos ataques contra minorias religiosas e atentados violentos no mundo todo em nome de uma interpretação radical do islamismo, a exemplo dos atentados de Paris, em 2015, um dos piores da história recente da França, em que cerca de 130 pessoas morreram, além de ações em Nice, Orlando, Manchester, Londres, Berlim, Arábia Saudita e Egito.

Nos últimos anos, o Estado Islâmico perdeu a maior parte de seu território, o que tirou do grupo a base logística a partir da qual treinava combatentes e planejava ataques no exterior. Especialistas em segurança, no entanto, afirmam que a facção continua sendo uma ameaça devido a operações e ataques clandestinos.

Segundo o jornal The New York Times, pesquisadores alertam há muito tempo que mesmo a eliminação do líder de organizações como o EI não afasta o perigo. Baghdadi foi reportado incorretamente como morto antes, e oficiais militares americanos estavam preocupados com o fato de Trump, que postou uma mensagem enigmática no Twitter na noite de sábado, indicando o anúncio feito no domingo, estar tão ansioso para divulgar a situação mesmo antes das confirmações forenses.

Bagdhadi, cujo verdadeiro nome é Ibrahim Awad al Badri, teria nascido em 1971 em uma família pobre da região de Bagdá.

Ao contrário de Bin Laden, que se apresentava com uma imagem sóbria, Baghdadi colocou em suas costas o pesadíssimo manto de califa --sucessor legítimo do profeta Maomé, que fundou o islã no século 7. Baghdadi, que estudou teologia, dizia descender do próprio profeta —algo que lhe dava uma autoridade que outros líderes terroristas não tinham.

Foi com isso em mente que Baghdadi subiu ao púlpito da Mesquita al-Nuri, em Mossul, para anunciar em 2014 o estabelecimento de um califado que se esparramava em partes da Síria e do Iraque.

Baghdadi não fundou o Estado Islâmico. A organização surgiu em 1999 nas mãos de Abu Musab al-Zarqawi. Ele tampouco foi seu grande ideólogo. Em teremos religiosos, o grupo dependia de Turki al-Binali. Zarqawi morreu em 2006, e Binali, em 2017. A facção não desapareceu.

No que pode se tornar um dos símbolos mais importantes na área de segurança nacional da gestão Trump, a morte de Baghdadi ajudará o republicano a se defender da crescente investigação de impeachment lançada pelos democratas no mês passado.

O inquérito concentra-se no pedido do presidente para a Ucrânia investigar um rival doméstico —o democrata Joe Biden— para seu benefício político pessoal. O filho de Biden, Hunter, foi membro do conselho de uma companhia de gás ucraniana.

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