Se voltar, Evo terá que responder à Justiça, diz presidente autoproclamada da Bolívia

Governo anunciou que funcionários da embaixada venezuelana em La Paz serão expulsos

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La Paz | AFP e Reuters

A autoproclamada presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, disse nesta sexta-feira (15) que, se o ex-presidente Evo Morales deixar o exílio no México e retornar ao país, deverá responder à Justiça por irregularidades nas eleições de outubro e por denúncias de corrupção.

As declarações foram dadas no primeiro encontro de Añez com a imprensa estrangeira no Palácio Quemado (sede do governo), em La Paz, três dias após assumir interinamente a presidência.

O ex-presidente boliviano Evo Morales, em entrevista para a agência de notícias Reuters, na Cidade do México - Edgard Garrido/Reuters

Evo afirmou na quinta-feira (14) que está disposto a voltar tão logo sua carta de renúncia seja aprovada pelo Legislativo. "Se meu povo pedir, estamos dispostos a retornar. Voltaremos cedo ou tarde. Melhor que seja o mais rápido possível para pacificar a Bolívia", declarou o ex-presidente. Ele disse ainda que, com a renúncia, buscou deter os violentos protestos no país.

O ex-presidente indígena liderou a Bolívia por 14 anos e renunciou sob pressão popular e das Forças Armadas no domingo (10), depois de semanas de violentos protestos detonados pelas eleições presidenciais de 20 de outubro.

O pleito lhe deu a vitória, mas foi manchado por denúncias de fraude, com uma apuração contestada e definida como irregular pela Organização dos Estados Americanos.

Nas três primeiras semanas, as manifestações eram organizadas por opositores do ex-presidente. Após sua renúncia, são seus simpatizantes que saem às ruas e enfrentam a polícia, reforçada pelos militares.

Os atos continuaram violentos na sexta. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou a ação da polícia em Cochabamba, que deixou cinco pessoas mortas e várias feridas. Na capital, também houve confronto entre manifestantes e agentes.

Añez disse que estava conversando com parlamentares do partido de Evo, em um esforço para resolver a crise democrática do país, e indicou que novas eleições são prováveis, embora não tenha dado uma data.

A Constituição determina que um novo pleito seja convocado em até 90 dias após a posse de um presidente interino. A Assembleia Legislativa precisa formar um conselho eleitoral, que anunciará novas eleições.

O partido de Evo, o MAS, poderá concorrer, mas Añez alertou que Evo não será bem-vindo. Ele falou em uma entrevista nesta sexta para a agência Reuters que o pleito pode ocorrer sem ele, e que ele não sabia quem seria o candidato de sua sigla.

"Eu gostaria de saber por que há tanto medo de Evo", acrescentou.

​O ex-presidente também negou estar organizando novos protestos na Bolívia a partir do México. Ele voou no início desta semana com seu vice-presidente, Álvaro Garcia, para a Cidade do México, onde ambos receberam asilo político. Evo denuncia a tomada de poder por parte de Añez como ilegítima.

Em outro movimento na tentativa de esvaziar a influência de Evo, o governo de Añez reconheceu na quinta o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela —o ex-presidente indígena era aliado do ditador Nicolás Maduro.

Além disso, a nova administração vai expulsar todos os funcionários da embaixada venezuelana em La Paz, devido à "violação de normas diplomáticas", por supostamente interferirem em assuntos internos, anunciou a chanceler do governo interino, Karen Longaric. Ainda não há prazo para que eles deixem o país.

Longaric afirmou que os cidadãos cubanos também deixarão o território boliviano progressivamente. Um primeiro grupo, de mais de 700, partirá amanhã do aeroporto de Viru Viru, em Santa Cruz.

A chanceler do governo interino declarou ainda que a Bolívia decidiu abandonar a Alba (Aliança Bolivariana das Américas) e que está analisando a saída também da Unasul (União das Nações Sul-Americanas).

Médicos cubanos detidos

Também nesta sexta, Cuba denunciou a detenção de seis membros de sua brigada médica na Bolívia, inclusive da coordenadora do grupo, Yoandra Muro.

Segundo a chancelaria cubana, quatro membros da Brigada Médica de El Alto foram presos na quarta-feira (13) sob a "presunção caluniosa" de que incentivaram e financiaram os protestos na Bolívia, e anunciou que irá repatriar 725 funcionários que estão em território boliviano desde o primeiro governo do ex-presidente Evo Morales.

Muro foi detida em sua casa, em La Paz, junto com o funcionário logístico Jacinto Alfonso Pérez.

A chancelaria explicou que os quatro cubanos, sendo dois médicos, detidos na quarta, foram abordados quando voltavam para casa "com o dinheiro sacado de um banco para pagar serviços básicos e aluguel dos 107 membros da Brigada Médica" que Cuba mantém em El Alto, cidade vizinha de La Paz.

Segundo a polícia de El Alto, os quatro cidadãos cubanos estavam com uma mochila na qual transportaram 90.000 bolivianos (cerca de US$ 13.000) destinados, segundo as autoridades, a financiar movimentos de protesto contra o novo governo provisório do país sul-americano.

O Ministério das Relações Exteriores cubano rejeitou as "acusações falsas de que esses companheiros incentivam ou financiam protestos, que são baseadas em mentiras deliberadas sem qualquer fundamento".

Também confirmou que "nas circunstâncias descritas", o regime "decidiu pelo retorno imediato à pátria dos colaboradores cubanos".

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