Descrição de chapéu The Washington Post Governo Trump

Secretário de Justiça diz que tuítes de Trump tornam seu trabalho 'impossível'

Em contestação pública inédita, William Barr rebateu críticas do presidente americano

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Washington | The Washington Post e Reuters

O secretário de Justiça dos Estados Unidos, William Barr, rebateu nesta quinta-feira (13) as críticas de Donald Trump à sua pasta afirmando que os tuítes do presidente tornam seu trabalho "impossível".

"Não vou ser intimidado ou influenciado por ninguém", acrescentou.

Barr está entre os aliados mais leais de Trump —ele é rejeitado pelos democratas, que o vêem como nada mais que o advogado pessoal do presidente. Suas declarações desta quinta são uma contestação pública do presidente inédita entre os membros do gabinete do republicano.

O secretário de Justiça, William Barr,
O secretário de Justiça, William Barr, durante entrevista coletiva na segunda-feira (10) - Sarah Silbiger - 10.fev.2020/AFP

Em uma entrevista à televisão, o secretário disse ainda que estava preparado para aceitar as consequências de se posicionar contra o presidente, algo raro no governo Trump. 

"Não posso fazer meu trabalho aqui no Departamento com um constante ruído de fundo que me prejudica."

"Acho que é hora de parar de tuitar sobre os casos do Departamento de Justiça", acrescentou.

O secretário, que acumula a posição de procurador-geral de Justiça, encontra-se sob crescente escrutínio desde terça-feira (11), quando quatro promotores que conduzem o processo contra Roger Stone, um amigo de longa data de Trump, renunciaram em meio a uma disputa sobre a duração de sua pena. 

Stone foi condenado por um júri em novembro por obstruir uma investigação do Congresso e intimidar testemunhas (ele teria mentido aos parlamentares para proteger Trump).

Roger Stone
Roger Stone chega a tribunal para audiência de seu processo - Yara Nardi - 15.nov.2019/Reuters

Na segunda-feira (10), os promotores pleitearam que o aliado do presidente fosse condenado a sete a nove anos de prisão —a recomendação foi feita após uma longa deliberação com seus superiores do Ministério Público americano. 

Na terça, Trump reagiu com irritação no Twitter. "Esta é uma situação horrível e muito injusta. Os crimes reais estavam do outro lado, como nada acontece com eles. Não podemos permitir esse erro judiciário!", escreveu ele, referindo-se aos democratas.

Horas depois da publicação, altos oficiais do Departamento de Justiça consideraram a pena de sete a nove anos excessiva, e um novo pedido foi feito ao tribunal, sugerindo que seria mais justo sentenciar Stone a um período de três a quatro anos de prisão.

Na quarta, o presidente elogiou a mudança de curso do departamento e destacou atuação de Barr.

"Parabéns ao procurador-geral Bill Barr por se encarregar de um caso totalmente fora de controle e que talvez nem deveria ter existido", escreveu Trump no Twitter. "As evidências agora mostram claramente que o processo fraudulento de [Robert] Mueller foi contaminado e aberto de forma imprópria."

A porta-voz do Departamento de Justiça afirmou que a decisão de revisar a recomendação foi tomada antes da publicação de Trump e que a Casa Branca não participou das discussões sobre o caso de Stone nos dias que antecederam a orientação do promotor.

Trump disse que não teve conversas diretas com a pasta sobre o assunto.

​​Ex e atuais funcionários do Departamento se disseram alarmados com a sequência de eventos, questionando se a gestão de Barr teria atendido a um capricho do presidente num caso de grande repercussão.

A presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, disse que os comentários de Trump sobre o caso Stone representavam uma interferência no funcionamento do Judiciário americano. 

"É um abuso de poder —o presidente está novamente tentando manipular as autoridades federais para servir seu interesse político", disse Pelosi, democrata, em entrevista coletiva. "É tão errado."

Todos os dez democratas do Comitê Judiciário do Senado pediram nesta quinta a abertura de uma investigação, mas o presidente republicano do painel, Lindsey Graham, rejeitou a demanda.

A maioria dos republicanos ignorou o furor.

Os democratas pediram no início desta semana que o inspetor-geral investigue a disputa em torno da recomendação da pena de Stone.

​Seth Cousins, que atuou como jurado no caso, disse nesta quinta que estava preocupado com os eventos que levaram os quatro promotores a desistir do caso. "Parece que algo absurdo está acontecendo."

Cousins se manifestou depois que Trump publicou uma história da emissora Fox News que acusou alguns dos jurados no caso de Stone de serem politicamente tendenciosos.

"Acho que é assustador o fato de que o presidente dos Estados Unidos está atacando cidadãos americanos por cumprirem seus deveres de forma patriótica", afirmou.

A Casa Branca afirmou em um comunicado que Trump "não ficou de forma alguma aborrecido com os comentários e ele tem o direito, como qualquer cidadão americano, de emitir suas opiniões".

O Executivo disse ainda que o presidente "confia plenamente no secretário Barr". 

Stone foi um dos aliados de Trump denunciados pelo procurador especial Robert Mueller, responsável por conduzir o inquérito que apurou ligações entre a campanha de Trump das eleições de 2016 com a Rússia

Sua equipe recolheu evidências de que Stone teria agido como elo de contato entre a campanha e o WikiLeaks —o site foi uma das organizações que publicou centenas de emails do Partido Democrata nos meses que antecederam as eleições. O conteúdo foi obtido a partir de um ataque hacker aos servidores da legenda. 

De acordo com a acusação, Stone teria comemorado, após a revelação dos emails, os prejuízos que foram causados a Hillary Clinton, adversária de Trump em 2016. ​

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