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Grupo de mulheres ajuda outras brasileiras em Boston há 25 anos

Muitas ganham mais que o marido, conta diretora de entidade de apoio a imigrantes

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São Paulo

Formada em tecnologia da informação, Jocilene Leão, 35, era funcionária de uma multinacional em São Paulo quando decidiu se mudar para Boston com o marido, que trabalhava na área de vendas, para juntar dinheiro e aprender inglês. O casal chegou em 2018 e se empregou na área em que a maioria dos brasileiros trabalha por ali: ela como faxineira e ele na construção civil.

O processo de adaptação de Jocilene foi um pouco menos árduo graças a outras brasileiras que chegaram bem antes dela e hoje se dedicam a ajudar conterrâneas na região, que é um polo de imigrantes do Brasil nos EUA.

Heloísa Galvão (à dir.) em evento do Grupo Mulher Brasileira, em Boston
Heloísa Galvão (à dir.) em evento do Grupo Mulher Brasileira, em Boston - Divulgação

Criado informalmente como uma reunião de recém-chegadas há 25 anos, o Grupo Mulher Brasileira se tornou uma entidade sem fins lucrativos que promove atividades como aulas de inglês, consultorias jurídicas de migração e família, festivais para a comunidade, programa informativo de rádio e uma cooperativa de “house cleaners” (faxineiras), da qual Jocilene faz parte.

Chamada Vida Verde, a cooperativa é especializada em limpeza com produtos sustentáveis. "Eu antes era ajudante de outra faxineira, mas, graças ao grupo, agora trabalho sozinha. Eles nos passam clientes, têm parceria com empresas", diz Jocilene, que também conta que uma amiga obteve advogado gratuito pela entidade após levar calote do restaurante onde trabalhava. "Sempre gostei de limpar minha própria casa e agora me sinto muito bem de ver a satisfação de quem eu atendo. Não me vejo mais num escritório."

Heloísa Galvão, 72, uma das fundadoras do grupo e atual diretora executiva, conta que a necessidade de formalização surgiu após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. “O governo começou a cortar verba dos serviços sociais para imigrantes, perdemos a sede que tínhamos emprestada. Precisávamos arrecadar dinheiro para continuar funcionando e lutar com nossos próprios meios”, diz.

Com Donald Trump na presidência, o trabalho cresceu, relata. “Temos que oferecer mais clínicas de migração, trabalhar mais denunciando medidas que consideramos injustas.”

O apoio recebido dos americanos ao trabalho da ONG, porém, cresceu. “Mais pessoas vieram nos oferecer ajuda, preocupadas conosco, dizendo que sentem muito que o governo esteja indo para esse lado.” 

O Grupo Mulher Brasileira atende imigrantes regulares e irregulares. “Trabalhamos com o ser humano. Ponto final", afirma Heloísa. Segundo ela, as restrições impostas por Trump na fronteira não estão desmotivando os brasileiros de migrar. “Com a crise e a violência no Brasil, eles não veem saída e continuam vindo.”

O perfil é que tem mudado. “Antes vinham casais mais novos e com segundo grau completo, às vezes faculdade. Agora vemos muita gente menos escolarizada, do interiorzão mesmo, de todo canto do Brasil.”

 

Segundo o Itamaraty, a região coberta pelo Consulado-Geral em Boston (que inclui os estados de Massachusetts, Maine, New Hampshire e Vermont) concentra cerca de 350 mil brasileiros. Junto com a área de Nova York, que tem a mesma quantidade, está em segundo lugar entre os dez consulados no país —o primeiro é Miami, com 370 mil.

Heloísa conta que muitas brasileiras em Boston ganham mais do que marido, já que o trabalho deles em construção é sazonal. “Muitas vezes se inverte a lógica de submissão ao salário do marido que elas viviam no Brasil. Porque para os homens nem sempre há trabalho no inverno, e elas têm emprego o ano todo.”

Para a diretora, as brasileiras são “as melhores RPs [relações públicas] do Brasil”. “Elas conquistaram uma credibilidade enorme aqui. Das que ganham menos que o salário mínimo até as que têm pHd, estamos mostrando para os americanos que somos boas faxineiras, babás, médicas, engenheiras, pesquisadoras, estudantes.” 

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