Descrição de chapéu Coronavírus

Chefe da Marinha dos EUA cai após insultar ex-capitão de porta-aviões atingido pelo vírus

Thomas Modly disse que oficial, dispensado do comando, era 'muito ingênuo ou muito estúpido'

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São Paulo

Depois de obrigar um dos mais poderosos navios do mundo a sair de combate, o novo coronavírus derrubou nesta terça-feira (7) o chefe da Marinha dos Estados Unidos, Thomas Modly.

Ele não ficou doente, mas sim comandou um desastre de relações públicas envolvendo um surto do patógeno causador da Covid-19 no USS Theodore Roosevelt, 1 dos 11 porta-aviões de propulsão nuclear que garantem a Washington a primazia sobre os mares.

O USS Theodore Roosevelt chega a Da Nang (Vietnã), onde provavelmente o vírus chegou a bordo, em 5 de março
O USS Theodore Roosevelt chega ao porto de Da Nang (Vietnã), onde provavelmente o vírus chegou a bordo, em 5 de março - Reuters - 4.mar.2020

O surto começou a ser detectado na semana retrasada. Na segunda da semana passada (30), o capitão do navio, Brett Crozier, mandou quatro páginas de mensagem por email para Modly, dizendo que a situação era insustentável por ser impossível obrigar isolamento social numa embarcação com 4.800 marinheiros e marinheiras.

Modly seguiu impassível, e no dia seguinte a mensagem do capitão foi publicada pelo jornal The San Francisco Chronicler. Não ficou provado, mas é presumível que ele mesmo a tenha vazado, direta ou indiretamente. Com a publicidade, a história correu o mundo e fez com que a Marinha iniciasse o desembarque do USS Theodore Roosevelt no dia seguinte.

Só que, na quinta (2), Modly resolveu dispensar Crozier do seu comando. O capitão desceu à terra em Guam, território americano no Pacífico onde o navio está atracado, com o nome sendo gritado por toda a tripulação ainda no convés.

Nesta segunda (6), a cereja do bolo: Modly falou, por meio do sistema do barco, para os cerca de mil marinheiros que ficaram para manter o navio operacional —seus dois reatores nucleares não podem ficar sem manutenção, que Crozier era "muito ingênuo ou muito estúpido" por ter permitido o vazamento de sua carta.

Segundo relatos que chegaram à imprensa americana, os militares a bordo ficaram horrorizados com os termos usados contra alguém que consideram um herói.

O ex-capitão do USS Roosevelt, Brett Crozier, durante discurso à tripulação
O ex-capitão do USS Roosevelt, Brett Crozier, durante discurso à tripulação - Sean Lynch - 1º.nov.2019/Marinha dos EUA/AFP

Modly sentiu o cheiro de queimado e divulgou uma nota se retratando, segundo a rede CNN por ordens do secretário de Defesa, Mark Esper. "Eu peço desculpas por qualquer confusão que essa escolha de palavras tenha causado", disse, afirmando que quis dizer o contrário do que disse.

Não colou, e o caso virou um escândalo nacional. Membros de comitês de defesa do Congresso pediram a cabeça de Modly, que entregou sua renúncia na tarde desta terça. Ele será substituído pelo subsecretário do Exército, James McPherson, que havia sido confirmado no cargo pelo Senado havia 15 dias.

Modly, por sua vez, ainda não havia sido confirmado. Ele já estava havia cinco meses à frente da Marinha e apresentou um plano audacioso de construção naval para fazer frente ao crescente poderio da China nesta área. O número de navios principais de combate subiria, de acordo com o plano, de 121 para 355.

O USS Theodore Roosevelt segue em Guam. O último porto em que esteve antes do surto foi o de Da Nang, na costa vietnamita, antiga base americana durante a guerra no país asiático. Presume-se que foi lá que o patógeno embarcou no porta-aviões, que transporta até 90 aviões e helicópteros.

Até aqui, 230 de seus tripulantes tiveram resultados positivos para a Covid-19 e estão em observação. O restante da tripulação está em hotéis, sob quarentena de 14 dias. Sem a intervenção do capitão Crozier, o número poderia ser bem maior.

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