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Em reviravolta, Trump deixa decisão de reabertura econômica com governadores

Após pressionar por retomada em maio, presidente muda de rota e afirma que questão cabe aos estados

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Washington

O presidente Donald Trump anunciou nesta quinta-feira (16) um plano de diretrizes em três fases para a reabertura econômica dos EUA, mas deixou a decisão sobre a retomada das atividades nas mãos dos governadores americanos.

As novas orientações foram vistas como uma reviravolta na disputa política travada há dias entre a Casa Branca e os estados e refletem o temor do presidente de que os danos econômicos da pandemia do coronavírus atrapalhem de vez sua campanha à reeleição.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante entrevista coletiva na Casa Branca
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante entrevista coletiva na Casa Branca - Mandel Ngan - 15.abr.20/AFP

"Estamos reabrindo nosso país, os EUA precisam e querem ser abertos", afirmou Trump em entrevista coletiva na Casa Branca. "Mas não estamos abrindo tudo, é um passo cuidadoso por vez [...] Os estados são diferentes, são lindos e nós os amamos, mas são diferentes, e alguns poderão abrir antes que outros."​

Horas antes do anúncio, Trump conversou com os governadores em uma reunião virtual e explicou como funcionaria o que chamou de "Abrindo a América".

A aplicação do plano será feita pelos estados, sob recomendação da Casa Branca de que a reabertura deve acontecer de forma gradual, em locais com alto nível de testagem, capacidade hospitalar mínima exigida pelo CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA) e, o mais importante, diminuição sustentada dos casos de Covid-19 em um período de pelo menos 14 dias.

Uma das principais críticas de especialistas é que a maioria dos estados não tem essa alta capacidade de testagem. Trump afirma que os EUA já fizeram 3,5 milhões de testes e que muitos estados têm poucos casos confirmados de Covid-19 e, portanto, poderiam entrar no plano a partir desta sexta-feira (17).

Na semana passada, o presidente havia consultado auxiliares sobre a possibilidade de anunciar uma retomada parcial do país em meados de maio, mas especialistas afirmaram que uma reabertura precoce e sem planejamento poderia causar uma segunda onde de transmissão nos EUA.

As diretrizes de Trump não estabelecem um cronograma específico para o relaxamento do distanciamento social, mas a lista de critérios que deve ser seguida pelos governadores indica que um estado que entrar imediatamente no plano chegará à fase três no meio de maio, previsão desejada inicialmente por Trump para a retomada parcial das atividades do país.

Para passar de fase em fase os estados não podem apresentar recuo na queda de transmissão e precisam seguir orientações básicas em todas as etapas, que, entre outras, incluem regras de distanciamento social e uso de equipamentos de proteção —como máscaras— em lugares públicos, monitoramento de temperatura e impedimento de pessoas com sintomas de voltarem ao trabalho.

Na primeira etapa, as escolas devem permanecer fechadas e pessoas que pertencem aos grupos de risco, como idosos e portadores de doenças crônicas, precisam continuar em casa. A volta ao trabalho deve se dar em fases, ainda priorizando as atividades remotas, e as viagens não essenciais devem ser mínimas.

Encontros sociais precisarão ficar restritos a grupos de, no máximo, dez pessoas, e, quando em público, é preciso maximizar as medidas de distanciamento social. Ainda na fase um, serão permitidas cirurgias em que o paciente não fica internado, restaurantes e academias poderão ser reabertas com "rigoroso distanciamento físico", mas bares seguirão fechados.

Na fase dois, as escolas reabrem, assim como bares, restaurantes e academias, porém, respeitando as regras de distanciamento social. As pessoas dos grupos de risco seguem em casa e o trabalho remoto ainda deve ser estimulado. Aqui os encontros sociais são ampliados, mas deve-se evitar aglomeração de mais de 50 pessoas, e as cirurgias nos hospitais são permitidas para pacientes que precisam ou não de internação.

A última fase é a que Trump afirmou ser o "quase normal" do país. Nela, os cidadãos dos grupos de risco podem interagir em público, mas respeitando o distanciamento social, não há restrições nos locais de trabalho e as atividades e hospitais funcionam normalmente, ainda respeitando os protocolos sanitários.

O presidente afirmou que cerca de 29 dos 50 estados americanos "estão no meio" dos que podem aplicar para o plano, mas depois voltou a dizer que as reaberturas regionais acontecerão em tempos diferentes. "Nova York e Nova Jersey, que estavam em situação muito difícil, vão chegar lá, mas obviamente depois."

Trump surpreendeu ao delegar aos governadores a decisão de retomada depois de ter travado uma queda de braço com os líderes estaduais que, nos últimos dias, se reuniram em grupos para elaborar seus próprios planos de reabertura econômica.

Dez governadores —nove deles de oposição— liderados por Andrew Cuomo, de Nova York, firmaram uma aliança para discutir a suspensão das restrições, o que irritou Trump. O presidente chegou a dizer que somente ele tinha autoridade para decidir o calendário da reabertura, apesar de o sistema federativo americano conferir a cada estado sua própria constituição.

Nesta quinta, Cuomo disse que estenderia a quarentena de Nova York até o dia 15 de maio, e os governadores do Meio-Oeste também anunciaram um acordo regional para estudar a retomada.

O anúncio das diretrizes de Trump aconteceu no dia em que os EUA chegaram à marca de 22 milhões de americanos pedindo acesso ao seguro-desemprego e apenas um mês após o presidente ter anunciado as medidas de distanciamento social para o país.

Os EUA colecionam recordes negativos desde o início da pandemia, com mais de 640 mil casos confirmados e pelo menos 31 mil mortos. Além da escalada no nível de desemprego, pesquisas mostram que ao menos 73% da população afirmam que sua renda foi afetada pela pandemia.

Diante do quadro sombrio nos EUA, Trump tenta capitalizar ao menos a imagem de provedor de alívio econômico para a população.

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