Polícia francesa prende suspeito de financiar genocídio de Ruanda

Felicien Kabuga foi detido perto de Paris após 26 anos de fuga

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Paris | Reuters e AFP

Suspeito de financiar o genocídio em Ruanda, Felicien Kabuga foi preso neste sábado (16) perto de Paris, após 26 anos em fuga, informou o Ministério da Justiça. Ele é acusado de apoiar milícias que massacraram cerca de 800 mil pessoas.

Com 84 anos, o homem mais procurado de Ruanda vivia com identidade falsa em um apartamento de um prédio residencial em Asnieres-Sur-Seine, onde foi preso. Estava com um de seus filhos, que não foi detido.

"Ele era um homem velho que tinha problemas para caminhar. Viveu lá por três ou quatro anos, era muito discreto. Ele não falava. Balbuciava quando alguém o cumprimentava", contou à agência de notícias AFP o presidente da comunidade do edifício, Olivier Olsen.

Kabuga foi indiciado em 1997 por sete acusações criminais, incluindo genocídio, cumplicidade em genocídio e incitação a cometer genocídio, todas em relação ao massacre de 1994 em Ruanda.

Jornal de Nairóbi com foto do então fugitivo Felicien Kabuga, acusado de financiar o genocídio de Ruanda - George Mulala -12.jun.2002/Reuters

Kabuga é alvo de um mandado de prisão por parte do Mecanismo para Tribunais Penais Internacionais (MTPI), estrutura encarregada de concluir os trabalhos do Tribunal Penal Internacional para Ruanda.

Sua detenção mostra que "os responsáveis pelo genocídio podem ser responsabilizados, mesmo 26 anos após seus crimes", disse o promotor do MTPI, Serge Brammertz, em um comunicado.

Os dois principais grupos étnicos de Ruanda são os hutus e os tutsis, que historicamente tiveram uma relação antagônica e travaram uma guerra civil no início dos anos 1990.

Empresário hutu, Kabuga é acusado de financiar as milícias que massacraram cerca de 800 mil tutsis durante um período de 100 dias em 1994. Civis eram incentivados a participar das atrocidades com promessas de que poderiam ficar com as terras dos tutsis mortos.

Ele foi responsável por fazer compras de grandes quantidades de facões, enxadas e outros implementos agrícolas, sabendo que seriam usados ​​como armas de assassinato durante o genocídio, segundo um site de notícias da ONU.

"Desde 1994, Felicien Kabuga, conhecido por ser o financiador do genocídio de Ruanda, havia permanecido impune na Alemanha, na Bélgica, no Congo, no Quênia ou na Suíça", afirmou um comunicado do ministério francês.

Depois de ser entregue às autoridades judiciais, Kabuga passará por um processo de extradição diante de uma câmara do Tribunal de Apelações de Paris. Esse órgão decidirá sua entrega ao MTPI do Tribunal Internacional de Haia para julgamento.

Kabuga foi detido como resultado da cooperação entre as agências policiais da França e de outros países, incluindo EUA, Ruanda, Bélgica, Reino Unido, Alemanha e Holanda.

Ele era um dos principais acusados foragidos, junto com Protais Mpiranya, que dirigia a guarda do então presidente ruandês, Juvénal Habyarimana, e o ex-ministro da Defesa Augustin Bizimana. Ambos ainda são perseguidos pela justiça internacional.

O secretário-geral da Luta contra o Genocídio, Jean-Damascène Bizimana, afirmou que a prisão de Kabuga "honrou a memória das vítimas".

Círculo do poder

Em 1994, Felicien Kabuga fazia parte do círculo próximo ao presidente ruandês, cujo assassinato em 6 de abril daquele ano provocaria o genocídio. Uma das filhas de Kabuga era casada com um filho do chefe de Estado.

Kabuga presidiu a Rádio Televisão Free Thousand Hills, que transmitia chamadas para assassinar os tutsis, e o Fundo de Defesa Nacional, que angariava fundos para financiar a logística e as armas dos milicianos hutus Interahamwe, de acordo com a ata de acusação do TPIR.

Refugiado na Suíça em julho de 1994 e depois expulso do país, Kabuga se instalou temporariamente em Kinshasa, na República Democrática do Congo. Em seguida, foi visto em julho de 1997 em Nairóbi, no Quênia, onde escapou de uma operação para detê-lo, e depois em 2003, segundo a ONG especializada TRIAL.

De acordo com o comunicado das autoridades francesas, ele também teria morado na Alemanha e na Bélgica. Os Estados Unidos prometeram uma recompensa de até US$ 5 milhões (R$ 29 milhões) por sua captura.

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