Biden lidera por 14 pontos enquanto eleitores rejeitam Trump por Covid e racismo

Ex-vice-presidente democrata consolida vantagem sobre o presidente republicano

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The New York Times

Joe Biden abriu uma vantagem significativa sobre o presidente Donald Trump na corrida para 2020, aumentando sua liderança entre as mulheres e os eleitores não brancos e registrando aumento em sua aprovação por alguns grupos tradicionalmente republicanos que se afastaram do presidente depois de sua reação ineficaz à pandemia do coronavírus.

Os resultados são de uma nova pesquisa nacional de eleitores registrados feita pelo New York Times e o Siena College.

O ex-vice-presidente Joe Biden aguarda antes de discursar na cidade de Yeadon, na Pensilvânia
O ex-vice-presidente Joe Biden aguarda antes de discursar na cidade de Yeadon, na Pensilvânia - Jonathan Ernst - 17.jun.20/Reuters

Biden está atualmente 14 pontos percentuais à frente de Trump, com 50% dos votos, contra 36% de Trump. Essa é uma das menores porcentagens de intenções de votos de Trump e um sinal de que ele é claramente o azarão neste momento de sua disputa por um segundo mandato.

O republicano foi um líder impopular durante praticamente todo o seu tempo no cargo. Ele fez poucos esforços desde a eleição em 2016 para ampliar seu apoio além da base de direita que o catapultou à Presidência com apenas 46% do voto popular e uma vitória modesta no Colégio Eleitoral.

Mas em um recorte expressivo do eleitorado a desaprovação a Trump cresceu conforme seu governo deixou de conter a pandemia do novo coronavírus que paralisou a economia e, depois, quando ele reagiu à onda de protestos por justiça racial com um discurso agressivo e ameaças militares.


50%
dos eleitores votariam em Biden

36%
votariam em Trump

Outros e indecisos: 14%.


A imagem predominante que surge das pesquisas é a de um país pronto para rejeitar um presidente que, para a maioria dos eleitores, falhou nos principais testes enfrentados por seu governo.

Biden supera Trump por margens enormes entre os eleitores negros e hispânicos, e as mulheres e jovens parecem inclinados a escolher Biden por uma margem ainda maior do que preferiram Hillary Clinton a Trump em 2016.

Mas o ex-vice-presidente também fica empatado com Trump entre os eleitores homens, brancos e pessoas de meia-idade ou idosas —grupos que costumavam ser a espinha dorsal do sucesso eleitoral republicano, incluindo o de Trump.


Empatados
entre os homens, pessoas brancas, pessoas de meia-idade (50 a 64 anos) e idosos (65 anos ou mais)

74 pontos percentuais
é a vantagem de Biden sobre Trump entre os eleitores negros

39 pontos percentuais
é a vantagem de Biden sobre Trump entre os eleitores hispânicos

39 pontos percentuais
é a vantagem de Biden sobre Trump entre mulheres brancas com diploma universitário. Em 2016, a democrata Hillary Clinton registrou apenas 7 pontos percentuais a mais que Trump nesse segmento do eleitorado


Arlene Myles, 75, de Denver, disse que foi republicana por quase 60 anos antes de mudar seu registro para independente no início deste ano, durante o julgamento de impeachment de Trump.

Myles disse que quando Trump foi eleito ela tinha resolvido lhe "dar uma chance", mas depois concluiu que ele e seu partido eram irremediáveis.

"Fui uma das pessoas que ficaram com Nixon até ele dar adeus", disse Myles. "Eu achava que era uma boa republicana e que eles tinham os mesmos valores que eu, mas eles falharam totalmente nos últimos anos."

Myles disse que pretendia votar em Biden, manifestando apenas uma ressalva: "Eu gostaria que ele fosse mais moço".

É clara a enorme vantagem de Biden entre as mulheres brancas com diploma universitário, que o preferem a Trump por 39 pontos percentuais.

Em 2016, pesquisas de boca de urna revelaram que esse grupo preferia Hillary a Trump por apenas 7 pontos. A pesquisa também revelou que Biden diminuiu a vantagem de Trump entre os americanos brancos menos instruídos.

O êxodo de eleitores brancos do Partido Republicano foi acentuado entre os jovens, tendência perigosa para um partido que já dependia muito dos americanos mais velhos.

Cinquenta e dois por cento dos brancos com menos de 45 anos disseram apoiar Biden, enquanto apenas 30% se declararam a favor de Trump. E sua oposição é intensa: mais que o dobro de brancos jovens veem o presidente de modo muito desfavorável do que muito favorável.

Tom Diamond, 31, um republicano de Fort Worth, no Texas, disse que pretende votar em Trump, mas está em grande dúvida. Ele chamou o presidente de "líder fraco", porque cuidou mal da pandemia, e disse que Biden parece "um cara em quem se pode confiar".

Mas Trump defende opiniões mais próximas das dele sobre economia, saúde pública e aborto.

"Uma parte de mim se sente mal por votar nele", disse Diamond. "Mas realmente, de um ponto de vista de políticas, é para onde vai meu voto."


52%
dos eleitores brancos (homens e mulheres) com menos de 45 anos apoiam Biden

30%
do mesmo grupo apoiam Trump

Outros e indecisos: 18%.

60%
de todos os entrevistados reprovam a reação do governo Trump à crise da Covid-19

61%
de todos os entrevistados reprovam a reação do governo Trump às tensões raciais das últimas semanas

Cerca de 40%
dos entrevistados brancos (homens e mulheres) com mais de 65 anos reprovam as respostas de Trump à pandemia do novo coronavírus e às tensões raciais das últimas semanas

70%
dos entrevistados brancos (homens e mulheres) com menos de 45 anos diseram acreditar que a morte de George Floyd fez parte de um padrão de excesso de violência policial contra os afro-americanos


Alguma indecisão sobre Trump deriva das atitudes raciais dos eleitores. Segundo a pesquisa, os eleitores brancos com menos de 45 anos são majoritariamente apoiadores do movimento Black Lives Matter, enquanto os brancos mais velhos têm opiniões mais duvidosas sobre o ativismo por justiça social.

E cerca de 70% dos brancos com menos de 45 anos disseram acreditar que a morte de George Floyd fez parte de um padrão geral de excesso de violência policial contra os afro-americanos, e não foi um incidente isolado.

O que é notável, porém, é que mesmo entre os brancos mais velhos, um dos eleitorados mais fortes de Trump, ele se prejudicou com sua conduta.

Cerca de dois quintos dos brancos com mais de 65 anos disseram reprovar o modo como Trump conduziu as crises do coronavírus e dos protestos contra a violência policial dirigida a negros.

Trump mantém alguns pontos fortes na pesquisa que podem lhe dar um modo de recuperar o pé na corrida, e a frágil condição de sua candidatura neste momento pode representar seu ponto baixo em uma campanha com quatro meses e meio pela frente.

Seu índice de aprovação ainda é ligeiramente positivo sobre a questão da economia, com 50% dos eleitores dando-lhe notas favoráveis em comparação com 45% dizendo o oposto.

Se a campanha no outono no hemisfério norte (privamera no Brasil) se tornar um referendo sobre qual candidato é melhor para restabelecer a prosperidade depois da pandemia, poderia dar a Trump uma nova brecha para impor suas opiniões.

O presidente também continua à frente de Biden entre os eleitores brancos sem diploma universitário, que detêm uma influência desproporcional nas eleições presidenciais porque o Centro-Oeste do país é vital para conseguir 270 votos do Colégio Eleitoral.


19 pontos percentuais
é a vantagem de Trump sobre Biden entre os eleitores brancos (homens e mulheres) sem diploma universitário

21 pontos percentuais
é a vantagem entre aqueles que defendem que o governo priorize o combate ao coronavírus, mesmo que haja danos à economia, sobre aqueles que demonstram maior preocupação com a economia


Mas se Trump ainda tem uma medida significativa de credibilidade com os eleitores sobre a economia, falta-lhe qualquer força política aparente sobre as questões mais urgentes do momento: a pandemia e o reconhecimento nacional sobre polícia e raças.

Quase três quintos dos eleitores desaprovam a condução por Trump da pandemia do coronavírus, incluindo a maioria dos eleitores brancos e homens. Eleitores que se consideram moderados reprovaram Trump quanto ao coronavírus por uma margem de mais de 2 para 1.

A maioria do país também está rejeitando o pedido de Trump para reabrir a economia o mais rápido possível, mesmo ao custo de expor as pessoas a maiores riscos de saúde.

Por uma margem de 21 pontos, os eleitores disseram que o governo federal deve dar prioridade à contenção do coronavírus, mesmo que prejudique a economia, opinião que se alinha com Biden.

A aprovação da conduta do presidente Trump em relação às tensões raciais das últimas semanas foi igualmente pequena: 61% dos eleitores disseram reprovar a atuação de Trump, contra 33% que a aprovaram. Por uma margem parecida, os eleitores disseram reprovar sua reação aos protestos após a morte de Floyd.

Trump tentou por várias vezes no último mês usar as manifestações contra a polícia como um tema para forçar os democratas a se alinharem totalmente com os órgãos policiais ou com os mais radicais manifestantes contra a polícia.

A pesquisa sugeriu que a maioria dos eleitores rejeita essa opção binária, assim como a caracterização dura por Trump dos manifestantes: a maioria disse ter uma avaliação geral positiva do movimento Black Lives Matter e da polícia.

A imagem de Biden que surge da pesquisa é a de um candidato amplamente aceito que inspira sentimentos relativamente fortes nas duas direções.

Ele é visto favoravelmente por cerca da metade dos eleitores e desfavoravelmente por 42%. Só um quarto disse que o vê muito favoravelmente, igualando-se à porcentagem que o vê em termos muito negativos.

Trump, em contraste, é visto muito favoravelmente por 27% dos eleitores e muito desfavoravelmente por 50%.


Percepções dos eleitores

Biden
26%: muito favorável
27%: muito desfavorável

Trump
27%: muito favorável
50%: muito desfavorável

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto afirmava incorretamente a porcentagem de eleitores com percepção "muito desfavorável" a Joe Biden. A cifra correta é 27%.

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