Campanha homofóbica de aliado de Putin causa polêmica na Rússia; veja vídeo

Vídeo pede voto em mudança constitucional que define casamento como algo entre homem e mulher

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São Paulo

Um vídeo de caráter homofóbico, pedindo voto na mudança que entroniza na Constituição a definição de casamento como algo entre homem e mulher, está provocando críticas na Rússia.

A peça foi divulgada em redes sociais pelo grupo Patriota, uma ONG que tem Ievguêni Prigojin como principal nome. O empresário é um aliado próximo do presidente Vladimir Putin.

Ativistas marcham em São Petersburgo contra lei que restringia direitos de gays
Ativistas marcham em São Petersburgo contra lei que restringia direitos de gays - Olga Maltseva - 16.mar.13/AFP

No vídeo, um rapaz chega a um orfanato em 2035 para adotar um garoto, deixando as assistentes sociais enlevadas. Quando todos saem do prédio, o menino pergunta: "Onde está a mamãe?".

"Aqui está sua nova mãe, não fique chateado", o pai responde. Aí, um outro homem com roupas femininas sai do carro e oferece um vestido para o garoto, deixando as assistentes em choque.

A peça termina com um locutor dizendo: "Qual Rússia você quer? Decida o futuro do seu país, vote nas mudanças constitucionais".

A alteração legal proposta por Putin no começo do ano, e aprovada pelo Parlamento, visa permitir ao presidente que volte a se candidatar ao cargo em 2024 e, se reeleito, em 2030, estendendo potencialmente seu reinado iniciado há 20 anos até 2036.

Em 1˚ de julho, apesar de a Rússia ser o terceiro país com mais casos de Covid-19 do mundo, um referendo irá decidir sobre a adoção da medida.

Mas o russo colocou outros itens, inclusive um artigo que define casamento como uma instituição heterossexual, além de estabelecer a Rússia como um país temente a Deus.

O casamento gay já é proibido na Rússia. Em 2018, um casal de homens conseguiu registro em Moscou a partir de uma brecha legal, validando sua certidão obtida na Dinamarca. Marchas de orgulho LGBT acontecem cada vez menos, já que desde 2012 são reprimidas em locais como a capital russa.

Isso tudo faz parte da guerra cultural que Putin, hoje em seu quarto mandato, acirrou a partir de sua volta ao Kremlin após um período como premiê de 2008 a 2012.

De lá para cá, a Rússia se tornou muito mais assertiva no cenário internacional, como a anexação da Crimeia em 2014 mostra, e Putin buscar reforçar sua noção de identidade nacional.

Valores da Igreja Ortodoxa viraram questão de Estado, com a proximidade da hierarquia eclesiástica do Kremlin. Um dos pontos atacados por ambos é a homossexualidade, cuja promoção é tratada por Putin como um sinal da decadência ocidental.

Assim, em 2013 Putin fez passar leis criminalizando o que chama de "propaganda gay para menores", algo amplamente criticado no Ocidente. Enquanto há clubes LGBT mais ou menos disfarçados em grandes centros como Moscou, em regiões como a Tchetchênia a repressão é brutal.

O líder opositor Alexei Navalni postou uma crítica ácida à peça no Twitter, e a rede social VKontakte, o Facebook russo, está em polvorosa.

A pressão contra a união homossexual e a adoção de crianças por casais do mesmo sexo encontra bastante eco na sociedade russa.

Pequisa do Centro Levada, instituto de opinião pública independente e criticado pelo Kremlin, mostrou que em 2018 83% dos russos viam a homossexualidade como repreensível. Dez anos antes, eram 76% e, em 1998, 68%.

O porta-voz do Patriota, Nikolai Stoliartchuk, divulgou uma nota negando homofobia no vídeo. Disse que apenas está defendendo a família segundo valores russos.

Prigojin, o patrono do grupo, é conhecido como o "chef de Putin", porque uma empresa sua fornecia refeições e banquetes no Kremlin.

Sua proximidade, contudo, é maior. Ele é acusado de fomentar o Grupo Wagner, organização militar que fornece mercenários para operações de Moscou em locais como a Síria e a Líbia.

Ele nega tais laços, que o levaram a sofrer sanções econômicas e criminais dos EUA.

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