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Por 30 anos, experimento em Berlim deu órfãos a pedófilos

Estudo detalha projeto em que autoridades entregavam crianças sem-teto a homens com histórico de abusos

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Rina Goldenberg

Durante quase 30 anos, autoridades de Berlim entregaram deliberadamente crianças órfãs a homens reconhecidamente pedófilos para adoção, segundo detalha um estudo divulgado nesta semana na Alemanha.

O experimento bizarro, comandado pelo professor Helmut Kentler, começou nos anos 1970, na então Berlim Ocidental, e foi tolerado por décadas pelas autoridades locais.

O argumento era de que pedófilos se tornariam pais especialmente carinhosos.

Os Portão de Brandemburgo no centro de Berlim; caso aconteceu na parte Ocidental da cidade
Os Portão de Brandemburgo no centro de Berlim; caso aconteceu na parte Ocidental da cidade - Tobias Schwarz -24.abr.20/AFP

O estudo conduzido pela Universidade de Hildesheim aprofunda o que se sabia sobre o projeto –um relatório de 2016, de outra universidade, já havia tornado pública a existência do experimento.

Helmut Kentler (1928-2008) ocupava uma posição de liderança no centro de pesquisa educacional de Berlim. Ele se dizia convencido de que o contato sexual entre adultos e crianças era inofensivo.

As agências de bem-estar infantil de Berlim e o governo estadual fizeram vista grossa ou até aprovaram as adoções.

Há alguns anos, duas das vítimas se apresentaram e contaram sua história. Desde então, os pesquisadores da Universidade de Hildesheim investigaram os arquivos do caso e conduziram entrevistas.

O que eles encontraram foi uma "rede entre instituições educacionais", o escritório estadual de assistência juvenil e o governo de Berlim, na qual a pedofilia era "aceita, apoiada, defendida".

O próprio Kentler estava em contato regular com as crianças e seus pais adotivos. Ele nunca foi processado: quando suas vítimas vieram à tona, um possível crime já havia prescrito. Isso impediu até agora que as vítimas recebessem indenização.

Os pesquisadores descobriram que vários dos pais adotivos eram acadêmicos de alto nível.

O estudo revela uma rede que incluiu altos membros do Instituto Max Planck, da Universidade Livre de Berlim e da famosa Escola Odenwald, em Hessen, na Alemanha Ocidental, que esteve no centro de um grande escândalo de pedofilia vários anos atrás. Desde então está fechada.

A secretária estadual para questões de jovens e crianças de Berlim, Sandra Scheeres, chamou as descobertas de "chocantes e horripilantes".

Um primeiro relatório sobre o "experimento Kentler" foi publicado em 2016 pela Universidade de Göttingen.

Os pesquisadores afirmaram então que o governo estadual parecia não ter interesse em descobrir a verdade. Agora, as autoridades prometeram investigar o assunto mais a fundo.

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