Pelo segundo final de semana seguido, milhares de israelenses foram às ruas em Jerusalém e em Tel Aviv protestar contra o premiê Binyamin Netanyahu, acusado de corrupção, e a forma com que o governo tem lidado com a crise do coronavírus.
Centenas se reuniram neste sábado (18) em frente à casa de Netanyahu, em Jerusalém, para pedir sua renúncia. Neste domingo, o premiê tem nova audiência do caso em que é julgado por corrupção, recebimento de propina, fraude e quebra de confiança –ele nega as acusações.
Da residência oficial, os manifestantes marcharam pelas ruas da cidade, e a polícia usou jatos d’água para dispersar o grupo. Segundo as autoridades, ao menos duas pessoas foram presas.
Também houve confronto entre policiais e manifestantes em Tel Aviv, onde milhares participaram de um ato contra a gestão do país na crise do coronavírus.
O protesto pedia mais ajuda governamental às empresas afetadas pelas restrições sanitárias e àqueles que perderam o emprego ou foram colocados em licença não remunerada.
Segundo a Reshet TV News, a polícia usou gás lacrimogêneo contra manifestantes que ocuparam as ruas. Imagens mostram brigas entre as forças de segurança e participantes do ato. A polícia afirmou ter realizado detenções no ato.
Milhares de israelenses já haviam protestado no último sábado (11) contra a gestão na crise sanitária. Diante da insatisfação popular, o governo apresentou na quarta-feira (15) detalhes sobre o prometido pacote de 90 bilhões de shekels (R$ 140 bilhões).
De acordo com o programa, famílias com um filho receberão 2.000 shekels (R$ 3.107), com dois, 2.500 shekels (R$ 3.884), e com três, 3.000 shekels (R$ 4.661). Demais cidadãos com mais de 18 anos vão receber 750 shekels (R$ 1.165).
Ao mesmo tempo em que precisa lidar com os impactos econômicos da crise sanitária, com desemprego atingindo 21% da população, Israel ainda vê o contágio de Covid-19 crescer exponencialmente. Segundo a Universidade Johns Hopkins, o país soma 49.204 casos e 400 mortes.
Por isso, Netanyahu se reuniu na quinta (16) com ministros para discutir a adoção de medidas mais restritivas. De acordo com a imprensa israelense, o plano inclui um "lockdown" nacional durante os finais de semana e o fechamento de praias, shoppings e academias.
Restaurantes terão permissão para operar somente com entregas, de portas fechadas. O país também deve diminuir o limite de público em eventos: 20 pessoas em lugares abertos e dez em ambientes fechados, incluindo as sinagogas.
As novas restrições ainda precisam ser aprovadas, mas devem ser anunciadas em breve pelo governo. No Twitter, o primeiro-ministro prometeu "tomar decisões rápidas e corretas para impedir o fechamento [do país], reduzir a mortalidade o mais rapidamente possível e salvar as vidas dos cidadãos de Israel".
A promessa diverge, porém, do discurso adotado pelo ministro da Saúde. Na quarta, Yuli Edelstein disse a jornalistas que “só um milagre” poderia evitar o “lockdown” iminente.
Enquanto a Covid-19 avança, cai a confiança dos israelenses na capacidade de Netanyahu de enfrentar a pandemia. Um levantamento realizado pelo Instituto de Democracia de Israel no último domingo (12), aponta que menos de um terço (29,5%) dos israelenses confia no premiê para lidar com o vírus.
A cifra representa uma queda de 17,5 pontos percentuais desde a última pesquisa, realizada na primeira semana de junho. O pico de confiança foi em 1º de abril, quando 57,5% disseram apoiar as decisões do primeiro-ministro para enfrentar a pandemia.
O instituto colheu respostas de 777 homens e mulheres —621 em hebraico, 156 em árabe— durante o questionário aplicado na internet e por telefone.
Além da crise interna, o governo do primeiro-ministro israelense tem sido alvo de pressão internacional desde que anunciou os planos de anexação de áreas da Cisjordânia.
A proposta foi desenvolvida em acordo com os EUA e prevê a criação de um Estado palestino em um território restrito e fragmentado, assim como a anexação, por parte de Israel, de várias colônias e do Vale do Jordão, na Cisjordânia ocupada, um território palestino a 50 quilômetros de Gaza.
ONU, Reino Unido e França, além de autoridades palestinas e outros países europeus e árabes, inclusive aliados de Israel, posicionaram-se contra o plano. Netanyahu recuou, e o projeto, que estava agendado para começar em 1º de julho, foi adiado.
Em defesa de suas ações, Israel cita ligações religiosas, históricas e políticas com os territórios que quer anexar. Autoridades do governo prometeram retomar o projeto nas próximas semanas ou meses, mas o cronograma ainda é impreciso.
O projeto de anexação também expôs brechas no governo de união nacional, formado a duras penas após três eleições em menos de um ano. Benny Gantz, ex-rival e atual parceiro de coalizão de Netanyahu, sinalizou publicamente sua oposição a parte do projeto.
O líder do partido Azul e Branco não é totalmente contrário a algum tipo de extensão da lei israelense à Cisjordânia. Mas defende apenas uma anexação do Vale do Rio Jordão, que considera estratégica, e não um processo mais amplo, ao menos sem a contrapartida imediata da criação de um Estado palestino.
David Schenker, o principal diplomata americano para o Oriente Médio, pediu aos israelenses "que não façam nada para impedir a implementação" de um Estado palestino, e, assim, observem o plano proposto pelo governo Trump.
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