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Israel discute restrições contra Covid-19 em meio a período sombrio para Netanyahu

Recorde de novos casos se soma a crise geopolítica que expõe brechas do governo de coalizão

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Bauru e Belo Horizonte

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu prepara o anúncio de um conjunto de restrições para tentar impedir o avanço do coronavírus em Israel.

As medidas, que estão sendo discutidas com os ministros e o Conselho de Segurança Nacional, vêm em um momento em que o número de casos da Covid-19 voltou a crescer no país. Ao mesmo tempo, Netanyahu perde popularidade e é alvo de críticas por sua gestão diante da pandemia.

Bibi, como o premiê é conhecido, também sofreu pressão internacional para interromper o plano de anexação de áreas da Cisjordânia. Ainda que tenha sido adiada, a proposta mediada pelos Estados Unidos desestabilizou o já complexo governo de união nacional de Israel.

Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, usando máscara de proteção durante reunião com ministros em Jerusalém - Gali Tibbon - 5.jul.20/Reuters

Netanyahu se reuniu com seus ministros nesta quinta (16) para discutir a adoção de medidas mais restritivas contra o avanço da Covid-19.

De acordo com a imprensa israelense, o plano inclui um "lockdown" nacional durante os finais de semana e o fechamento de praias, shoppings e academias. Restaurantes terão permissão para operar somente com entregas, de portas fechadas.

Além disso, o país deve diminuir o limite de público em eventos: 20 pessoas em lugares abertos e dez em ambientes fechados, incluindo as sinagogas.

As novas restrições ainda precisam ser aprovadas, mas devem ser anunciadas em breve pelo governo. No Twitter, o primeiro-ministro prometeu "tomar decisões rápidas e corretas para impedir o fechamento [do país], reduzir a mortalidade o mais rapidamente possível e salvar as vidas dos cidadãos de Israel".

A promessa diverge, porém, do discurso adotado pelo ministro da Saúde. Nesta quarta (15), Yuli Edelstein disse a jornalistas que “só um milagre” poderia evitar o “lockdown” iminente.

Mais de 1.900 casos de Covid-19 foram registrados em Israel na quarta-feira, o número mais alto em um período de 24 horas desde o início da pandemia. Para Edelstein, a taxa de 2.000 novos casos diários é a referência para acionar um "lockdown" completo.

De acordo com os dados compilados pela universidade americana Johns Hopkins, o país registrou, até esta quinta, 44.714 casos e 380 mortes por coronavírus.

Enquanto a Covid-19 avança, cai a confiança dos israelenses na capacidade de Netanyahu de enfrentar a pandemia. Um levantamento realizado pelo Instituto de Democracia de Israel no último domingo (12), aponta que menos de um terço (29,5%) dos israelenses confia no premiê para lidar com o vírus.

A cifra representa uma queda de 17,5 pontos percentuais desde a última pesquisa, realizada na primeira semana de junho. O pico de confiança foi em 1º de abril, quando 57,5% disseram apoiar as decisões do primeiro-ministro para enfrentar a pandemia.

O instituto colheu respostas de 777 homens e mulheres —621 em hebraico, 156 em árabe— durante o questionário aplicado na internet e por telefone.

No dia anterior ao levantamento, milhares de pessoas haviam se reunido na praça Rabin, em Tel-Aviv, para protestar contra a falta de estratégias econômicas do governo diante da crise provocada pelo coronavírus.

O desemprego em Israel subiu de 3,4% em fevereiro para 27% em abril. A taxa caiu para 23,5% em maio, mas os israelenses se dizem frustrados pela demora na liberação de pacotes de ajuda financeira.

A resposta veio nesta quarta, quando Netanyahu apresentou detalhes sobre o prometido pacote de 90 bilhões de shekels (R$ 140 bilhões).

De acordo com o programa, famílias com um filho receberão 2.000 shekels (R$ 3.107), com dois, 2.500 shekels (R$ 3.884), e com três, 3.000 shekels (R$ 4.661). Demais cidadãos com mais de 18 anos vão receber 750 shekels (R$ 1.165).

Além da crise interna, o governo do primeiro-ministro israelense tem sido alvo de pressão internacional desde que anunciou os planos de anexação de áreas da Cisjordânia.

A proposta foi desenvolvida em acordo com os EUA e prevê a criação de um Estado palestino em um território restrito e fragmentado, assim como a anexação, por parte de Israel, de várias colônias e do Vale do Jordão, na Cisjordânia ocupada, um território palestino a 50 quilômetros de Gaza.

ONU, Reino Unido e França, além de autoridades palestinas e outros países europeus e árabes, inclusive aliados de Israel, posicionaram-se contra o plano. Netanyahu recuou, e o projeto, que estava agendado para começar em 1º de julho, foi adiado.

Em defesa de suas ações, Israel cita ligações religiosas, históricas e políticas com os territórios que quer anexar. Autoridades do governo prometeram retomar o projeto nas próximas semanas ou meses, mas o cronograma ainda é impreciso.

O projeto de anexação também expôs brechas no governo de união nacional, formado a duras penas após três eleições em menos de um ano.

Benny Gantz, ex-rival e atual parceiro de coalizão de Netanyahu, sinalizou publicamente sua oposição a parte do projeto.

O líder do partido Azul e Branco não é totalmente contrário a algum tipo de extensão da lei israelense à Cisjordânia. Mas defende apenas uma anexação do Vale do Rio Jordão, que considera estratégica, e não um processo mais amplo, ao menos sem a contrapartida imediata da criação de um Estado palestino.

David Schenker, o principal diplomata americano para o Oriente Médio, pediu aos israelenses "que não façam nada para impedir a implementação" de um Estado palestino, e, assim, observem o plano proposto pelo governo Trump.

Por fim, o premiê israelense deve enfrentar no dia 19 a próxima audiência no processo em que é julgado por corrupção, recebimento de propina, fraude e quebra de confiança.

Netanyahu alega inocência e diz estar "em pé e de cabeça erguida". Se for considerado culpado, porém, o premiê mais longevo da história de Israel pode pegar até dez anos de prisão.

Com AFP

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