Russos promovem nova campanha de desinformação contra democratas

FBI alertou Facebook e Twitter sobre operações do mesmo grupo que interveio na eleição de 2016

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Sheera Frenkel
The New York Times

O grupo russo que interferiu na eleição presidencial de 2016 está operando novamente, desta vez usando uma rede de contas falsas e um site configurado para se parecer com uma página de notícias de esquerda, disse o Facebook e o Twitter nesta terça-feira (1º).

A campanha de desinformação do grupo, que é apoiado pelo Kremlin e conhecido como Internet Research Agency (agência de pesquisa da internet), é a primeira evidência a vir a público de que a entidade está tentando repetir seus esforços de quatro anos atrás e afastar os eleitores americanos do candidato democrata à Presidência, Joe Biden, e ajudar Donald Trump a se reeleger.

Um exemplo de postagem no Facebook do site de notícias falsas PeaceData.
Exemplo de postagem no Facebook do site de notícias falsas PeaceData - Reprodução/The New York Times

Agências de inteligência advertiram por meses que a Rússia e outros países estavam ativamente tentando interferir nas eleições de novembro, e que a inteligência russa estava criando teorias da conspiração com o objetivo de alienar os americanos levando-os a buscar informações em sites sem credibilidade e nas redes sociais.

Agora, o Facebook e o Twitter estão oferecendo provas dessa intromissão, embora a Casa Branca tenha procurado, nas últimas semanas, controlar mais rigidamente o fluxo de informações sobre ameaças estrangeiras às eleições de novembro e minimizar a interferência russa. O principal oficial de inteligência do governo Trump sugeriu no domingo (30) que a China é um risco mais grave do que Moscou.

O Facebook e o Twitter afirmaram que foram alertados sobre o esforço russo pelo FBI. As duas empresas demoraram a reagir a amplas campanhas de desinformação realizadas em suas redes durante a campanha do pleito de 2016 e continuam a enfrentar críticas —até mesmo de seus próprios funcionários— de que não estão fazendo o suficiente para atacar o problema.

Algumas autoridades americanas estão preocupadas com um amplo esforço da inteligência russa para usar sites marginais com o objetivo de espalhar teorias da conspiração e aumentar a polarização política nos EUA. E algumas das atividades que o Facebook e o Twitter identificaram na terça-feira foram exatamente esse tipo de distorção de informações.

Embora a rede de contas falsas e o site não tenham alcançado um público tão grande quanto as campanhas do grupo em 2016, eles vieram com uma nova característica: os russos contrataram americanos para escrever para o conteúdo. O site falso, chamado Peace Data, também usou personas com imagens geradas por computador para criar o que parecia ser um veículo de imprensa legítimo.

A Internet Research Agency foi muito ativa na eleição presidencial de 2016, e um relatório recente do Comitê de Inteligência do Senado detalhou a interferência russa em apoio à eleição de Trump.

O grupo tem desempenhado um papel menor nas operações da Rússia este ano, de acordo com dois funcionários da inteligência americana que falaram sob condição de anonimato. As atividades recentemente descobertas do grupo no Twitter e no Facebook pareciam ter sido feitas às claras, como se tivessem sido projetadas para serem detectadas, disseram as autoridades.

A Internet Research Agency divulgou as vagas de emprego em uma plataforma online, de acordo com um freelance que escreveu artigos para o site Peace Data.

O escritor pediu para permanecer anônimo porque não queria que sua carreira profissional fosse afetada por sua cooperação com uma operação russa, que ele desconhecia estar por trás do site à época que aceitou o trabalho. Ele disse que respondeu ao anúncio de emprego com alguns links de publicações recentes e recebeu imediatamente uma resposta por email solicitando que apresentasse novos artigos sobre qualquer tema de sua escolha.

Nos textos de seu portfólio, o escritor frequentemente questionava se Biden representava os valores progressistas do Partido Democrata e se ele merecia o voto dos americanos de esquerda.

Ele disse que seus artigos para o site mal foram editados. Ele estava feliz, acrescentou, por ter uma trabalha remunerado, embora seus novos chefes estivessem lhe oferecendo apenas US$ 75 (R$ 405) por história —dinheiro era enviado por um meio de pagamento eletrônico.

A Internet Research Agency parecia estar nos estágios iniciais de construção de uma audiência para o site de notícias falsas no Facebook. O grupo criou 13 contas falsas e duas páginas dedicadas à promoção do Peace Data, de acordo com o Facebook. As páginas eram seguidas por 14 mil pessoas.

O objetivo, disse Nathaniel Gleicher, chefe de segurança do Facebook, parecia ser levar as pessoas ao site Peace Data, que se autodenominava uma "organização global de notícias".

A primeira atividade do site foi em outubro de 2019, quando começou a publicar artigos de outros veículos. Em março de 2020, o Peace Data começou a publicar seus próprios artigos em inglês. Três editores foram listados no site, mas quando suas fotos foram estudadas de perto, ficou claro que eram imagens geradas por computador, disse Ben Nimmo, cuja empresa, Graphika, trabalhou com o Facebook para divulgar um relatório sobre a página.

“Em termos de conteúdo, eles eram claramente mais à esquerda do que a campanha Biden-Harris”, disse Nimmo. Os temas dos artigos iam de racismo nos Estados Unidos ao meio ambiente e capitalismo; vários deles argumentaram que Biden levaria o Partido Democrata muito para a direita, segundo Nimmo.

Bill Russo, um porta-voz da campanha de Biden, disse que a operação de Moscou era "prova de dois fatos imutáveis: a Rússia está tentando interferir em nossas eleições em nome de Donald Trump, e a plataforma do Facebook é um vetor chave para esses esforços".

“A recusa do presidente Trump em se pronunciar contra a interferência russa torna ainda mais importante que o Facebook se esforce mais para garantir o cumprimento de suas regras e assegurar-se de que sua plataforma não seja usada para corroer os alicerces de nossa democracia”, disse Russo.

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