Grécia condena partido neonazista Amanhecer Dourado em julgamento histórico

Sigla foi considerada 'organização criminosa'; para promotor, caso é o maior envolvendo fascistas desde Nuremberg

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Atenas | AFP

Em um dos julgamentos mais importantes na história política da Grécia, o partido neonazista Amanhecer Dourado foi declarado "organização criminosa", e seus líderes podem ser condenados a penas severas.

A sentença, anunciada nesta quarta (7), foi recebida com aplausos na sala de audiência e comemorada pelas 15 mil pessoas reunidas diante do Palácio de Justiça. Houve confrontos entre ativistas e policiais.

Magda Fyssa, mãe do rapper assassinado Pavlos Fyssas, comemora o veredicto contra o Amanhecer Dourado na Grécia
Magda Fyssa, mãe do rapper assassinado Pavlos Fyssas, comemora o veredicto contra o Amanhecer Dourado na Grécia - Louisa Gouliamaki/AFP

O processo durou mais de cinco anos e foi descrito por um dos promotores, Thanassis Kambagiannis, como “o maior julgamento de criminosos fascistas desde Nuremberg”, em referência ao famoso tribunal que processou líderes da Alemanha nazista.

A juíza Maria Lepenioti, por sua vez, declarou que o fundador do Amanhecer Dourado, Nikos Michaloliakos, e outros membros importantes do grupo são culpados de "comandar uma organização criminosa".

Entre os condenados, 45 no total, estão o eurodeputado independente Yiannis Lagos, que abandonou o partido no ano passado, o ex-porta-voz Ilias Kassidiaris e vários integrantes da direção da legenda, eleitos para o Parlamento em 2012 no auge do Amanhecer Dourado. Nenhum deles estava presente no tribunal.

A corte não anunciou as penas, mas Michaloliakos e os outros condenados podem receber sentenças que vão de 5 a 15 anos de prisão.

Partido nanico criado nos anos 1980 por Michaloliakos, 62, admirador do nazismo, o Amanhecer Dourado se beneficiou do declínio sociopolítico no país após a crise financeira de 2010. Ato contínuo, representantes da sigla foram eleitos para o Parlamento grego pela primeira vez em 2012.

Na época, grupos de homens vestidos com roupas pretas percorriam as ruas de Atenas e agrediam os críticos da formação, inclusive com barras de ferro, aos gritos de "sangue, honra, Amanhecer Dourado".

No decorrer dos cincos anos do julgamento, o processo levou progressivamente à decadência do partido, cuja direção atual renega a ideologia nazista. Nas eleições legislativas de julho de 2019, o Amanhecer Dourado não conseguiu uma única cadeira no Parlamento.

Desde o iníco da manhã desta quarta, milhares de pessoas, convocadas pelo movimento antifascista, além de sindicatos e partidos de esquerda, reuniram-se diante do tribunal no centro de Atenas.

Após a leitura do veredicto, em um momento de comemoração, manifestantes lançaram coquetéis molotov, e a polícia respondeu com gás lacrimogêneo e jatos de água para dispersar a multidão.

O tribunal penal de Atenas também declarou Yorgos Roupakias, membro do Amanhecer Dourado, culpado pelo assassinato do rapper antifascista Pavlos Fyssas, em 2013.

O ativista de esquerda foi morto com uma arma branca em 18 de setembro de 2013, aos 34 anos, diante de um café no bairro de Keratsini, subúrbio da zona oeste de Atenas. O assassino, que admitiu o crime, pode ser condenado a prisão perpétua.

"Pavlos, você conseguiu!", gritou a mãe do rapper, Magd Fyssasa, na saída do tribunal. "É uma decisão positiva", afirmou o pai do artista, que disse, no entanto, aguardar que as penas serão decididas.

Reações

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis (da silgla de centro-direita Nova Democracia), elogiou a decisão. "Hoje venceu a democracia", disse o premiê, para quem o veredicto encerra uma época "traumática" da vida pública grega.

A presidente da República, Katerina Sakellaropoulou, também elogiou uma decisão "histórica, que confirma que a democracia e suas instituições sempre vencerão".

Além do assassinato de Fyssas, o tribunal também examinou duas tentativas de homicídio que envolveram membros do Amanhecer Dourado: uma contra pescadores egípcios em 12 de junho de 2012; e outra contra integrantes do sindicato comunista Pame, em 12 de setembro de 2013.

No total, 68 pessoas foram julgadas, incluindo 20 ex-deputados e dirigentes do partido.

Na saída do tribunal, os advogados das partes civis celebraram a "decisão histórica". "A justiça foi feita: Amanhecer Dourado é uma organização criminosa", afirmou Kostas Papadakis, advogado dos pescadores.

Chryssa Papadopoulou, advogada da família de Pavlos Fyssas, afirmou, antes do veredicto, que a decisão do tribunal seria um "passo-chave para a justiça e para o movimento antifascista" na Grécia e na Europa.

"O impacto do veredicto deste julgamento emblemático vai superar amplamente as fronteiras da Grécia e significará que os crimes de ódio não são tolerados", avaliou o diretor para Europa da Anistia Internacional, Niels Muiznieks.

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