De olho na disputa eleitoral contra Joe Biden, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta (23) a normalização das relações diplomáticas entre Sudão e Israel, movimento que representaria uma vitória para a política externa de seu governo na reta final da corrida pela Casa Branca.
Agora, Cartum se torna o terceiro governo árabe a encerrar hostilidades com Israel nos últimos meses, depois de Emirados Árabes Unidos e Barein, sempre com mediação americana. O pacto faz parte do que o republicano chama de Acordo do Século, plano para tentar acabar com décadas de conflito no Oriente Médio mas visto como pró-Israel, já que desconsidera diversas reivindicações palestinas.
O presidente selou o acordo em uma ligação com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e o primeiro-ministro sudanês, Abdalla Hamdok, além do chefe do Conselho de Transição, Abdel Fattah al-Burhan.
Enquanto Netanyahu celebrou o acordo como "uma nova era" para a região, Wasel Abu Youssef, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), recebeu o anúncio como "uma facada nas costas".
Os conflitos entre árabes e judeus já duram séculos e foram mais acentuados a partir do reconhecimento de Israel como um país, em 1948, e das disputas territoriais com os palestinos. Historicamente, judeus recorrem aos textos sagrados da Bíblia e da Torá para reivindicar o direito de posse das terras.
Israel assinou acordos de paz com o Egito em 1979 e com a Jordânia em 1994. Mas países como os Emirados Árabes Unidos, junto com a maioria das outras nações árabes, não reconheciam nem mantinham relações diplomáticas ou econômicas formais com os israelenses até agora.
Israel e Sudão planejam firmar vínculos comerciais, com foco inicial em agricultura e aviação, segundo o comunicado conjunto. Um alto funcionário dos EUA, sob condição de anonimato, disse que questões como o estabelecimento formal de relações diplomáticas seriam resolvidas mais tarde.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores do Sudão, Omar Gamareldin, à TV estatal, a normalização dos laços dependerá da aprovação de um conselho legislativo que ainda será formado, o que pode ser um processo demorado devido às disputas entre civis e militares no país.
Ao anunciar o pacto, Trump disse, sem oferecer detalhes, que outras cinco nações querem seguir o exemplo e estabelecer elos com Israel e voltou a atacar o adversário democrata. Afirmou que "Joe Dorminhoco" não conseguiria firmar um trato como esse e ouviu de um precavido Netanyahu que Israel "agradece a ajuda para a paz de qualquer pessoa na América".
A decisão do presidente americano nesta semana, de remover o Sudão da lista dos EUA de estados patrocinadores de terrorismo, desde que o país pagasse uma indenização de US$ 335 milhões (R$ 1,88 bilhão), pavimentou o caminho para o acordo. A condição de refere a uma conta especial para vítimas dos ataques da Al Qaeda às embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia em 1998.
Os líderes militares e civis do governo de transição do Sudão estão divididos sobre quão rápido e quão longe podem avançar no estabelecimento de laços com Israel. Um ponto crítico nas negociações foi a insistência do Sudão de que qualquer anúncio da retirada de Cartum da designação de terrorismo não estivesse explicitamente vinculada ao anúncio de relações diplomáticas.
Muitos no Sudão dizem que o rótulo de associação a terrorismo, imposto em 1993 porque Washington acreditava que o hoje deposto Omar al-Bashir apoiava grupos militantes, ficou desatualizada desde que ele foi tirado do poder, no ano passado.
O novo acordo foi negociado no lado americano por uma equipe que inclui o genro de Trump e conselheiro sênior Jared Kushner, que considerou os acordos de normalização o início de uma "mudança de paradigma" no Oriente Médio. Ele disse que a decisão do Sudão foi simbolicamente significativa porque foi em Cartum, em 1967, que a Liga Árabe decidiu não reconhecer o direito de Israel de existir.
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