Bolsonaro ignora eleição de Biden outra vez, e Mourão diz que presidente felicitará eleito na 'hora certa'

Líder brasileiro conversou com apoiadores nesta segunda e silenciou sobre pleito nos EUA

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Brasília

Em encontro com apoiadores na frente do Palácio da Alvorada, na manhã desta segunda-feira (9), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) evitou, mais uma vez, comentar a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Numa live no fim da tarde, ele novamente silenciou sobre o novo presidente eleito.

Este é o terceiro dia consecutivo em que o líder brasileiro ignora publicamente a derrota do presidente Donald Trump. Biden, adversário do republicano, foi declarado vencedor na tarde do último sábado (7).

A postura de Bolsonaro contrasta com a de outros líderes mundiais que já parabenizaram o democrata.

Até agora, segundo auxiliares diretos ouvidos pela Folha, a decisão é a de felicitar Biden e se manifestar publicamente sobre o pleito apenas após a conclusão de disputas judiciais e recontagens de votos solicitadas por Trump.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), durante cerimônia no Palácio da Alvorada, em Brasília - Evaristo Sá - 27.out.20/AFP

O republicano ainda não reconheceu a derrota e alega ter sido alvo de uma fraude eleitoral. Pode levar semanas para que haja o desfecho desses questionamentos. Diferentemente do Brasil, os EUA não têm uma autoridade eleitoral nacional, e o vencedor é declarado por projeções feitas pela mídia do país.

Nesta segunda, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), por sua vez, disse que Bolsonaro cumprimentará Biden "na hora certa". "A forma como se desenrolam as coisas nos EUA é diferente. [Lá] não tem tribunal eleitoral, essas coisas todas. Então, julgo que o presidente está aguardando terminar esse imbróglio aí, de discussão, se tem voto falso, se não tem, para dar o posicionamento dele", disse.

"E acho que é óbvio que o presidente, na hora certa, transmitirá os cumprimentos a quem for eleito."

Questionado se a demora do país em reconhecer a vitória de Biden não poderia prejudicar a relação do Brasil com os Estados Unidos, Mourão admitiu que um "novo relacionamento" deve ser estabelecido com os americanos, numa indicação de que espera a confirmação da vitória de Biden.

"Não julgo que corra risco [de prejudicar a relação], acho que, vamos aguardar, né? É uma questão prudente. Eu acho que nessa semana se definem as questões que estão pendentes, as coisas voltam ao normal, e a gente se prepara para o novo relacionamento que deve ser estabelecido", avaliou.

Mais tarde, Mourão voltou a falar sobre o tema em live organizada pelo banco Itaú e repetiu que o governo só vai se posicionar após a recontagem de votos em estados solicitada por Trump.

"O governo brasileiro está aguardando a conclusão do processo eleitoral dos EUA. Muita gente tem falado em judicialização, mas lá não existe judicialização, como a nossa turma aqui vem publicando. O que existe lá [nos EUA] é recontagem de voto. (...) Então, quando tiver concluído isso haverá a manifestação do nosso governo", afirmou.

O vice-presidente ainda afirmou que as eleições "confirmam a vitalidade da democracia americana" e disse que os dois países têm relação "de estado" e de longa data. "Os interesses tanto de Brasil quanto dos EUA transcendem o mero processo eleitoral."

"Nós vimos durante a campanha eleitoral o Joe Biden dizer que buscaria liderar uma coalizão em apoio à Amazônia e que colocaria xis bilhões de dólares. Tudo bem. Eu acho que, se pagarem os serviços ambientais, nós já ficaríamos satisfeitos com isso, teríamos os recursos suficientes para avançar em todas as nossas agendas da Amazônia", afirmou Mourão.

Assim como Bolsonaro, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é admirador de Trump e ainda não fez nenhum comentário sobre o pleito.

Bolsonaro torcia publicamente pela reeleição de Trump. Mas mesmo aliados do republicano, como o premiê britânico, Boris Johnson, cumprimentou Biden pela vitória.

Além do primeiro-ministro, publicaram mensagens de parabéns nas redes sociais o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, o premiê de Portugal, António Costa, e o governo alemão, chefiado pela chanceler Angela Merkel.

Na América Latina, líderes também já felicitaram Biden, como os presidentes Alberto Fernández, da Argentina, e Sebastián Piñera, do Chile. O presidente da Colômbia, Iván Duque, também se pronunciou.

No Brasil, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) e o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, também se manifestaram.

Nesta segunda-feira, em entrevista à CNN Brasil, Maia voltou a comentar o assunto e disse esperar que o governo brasileiro parabenize "o mais rápido possível" o presidente eleito, "respeitando o resultado das urnas".

Maia defendeu ainda que o Executivo de Jair Bolsonaro estabeleça com Biden "uma relação pragmática, uma relação que interesse aos dois países, onde as trocas, principalmente as trocas comerciais, possam ser priorizadas, e o interesse dos brasileiros também, que foi o que nós não vimos com presidente Trump."

O deputado disse ainda estar preocupado com as contestações feitas pelos republicanos ao resultado das eleições. "O que a gente está acompanhando, do meu ponto de vista, é muito ruim. É muito ruim. A democracia mais importante do mundo ocidental passando por esses momentos de questionamento."

Nesta segunda, em encontro com apoiadores, Bolsonaro não foi questionado sobre a eleição americana e tampouco mencionou o tema. Disse apenas que o "setor turístico foi à lona" e perguntou quem mandou "fechar tudo", em referência a prefeitos e governadores que decretaram medidas de isolamento para evitar a propagação da Covid. Aproveitou o gancho para pedir a eleitores que votem no pleito municipal.

"Vão ter eleições municipais. Pessoal não dá muita bola para eleição de vereador, prefeito. É importante se preocupar e votar bem. Porque o prefeito que fechou tudo, se achar que ele fez certo, reelege ele. Se não, mude", comentou. Bolsonaro também afirmou que fará nova transmissão ao vivo nesta segunda à noite.

No sábado (7), dia em que Biden foi declarado vencedor, o mandatário também fez uma live em seu perfil no Facebook, na qual comentou a crise de energia no Amapá e fez propaganda para candidatos que apoia nas eleições municipais. Nada sobre os EUA.

O presidente ainda fez publicações em redes sociais depois do anúncio da vitória de Biden, mas nenhuma sobre o tema. Em resposta a mensagens nos perfis da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) e do ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), publicou bandeiras do Brasil.

Além do presidente brasileiro, os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, e o dirigente da China, Xi Jinping, também não parabenizaram Biden, mas ao menos apresentaram suas justificativas. Também entram na lista dos que preferiram o silêncio o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un.

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