Trump convida legisladores republicanos de Michigan à Casa Branca para tentar subverter eleição

Movimento é o mais recente e ousado passo da campanha empreendida para questionar vitória de Biden

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The New York Times

Depois de fracassar diversas vezes em tribunais para anular os resultados da eleição, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um passo extraordinário ao procurar diretamente legisladores estaduais republicanos para tentar subverter o processo do Colégio Eleitoral.

Ele convidou autoridades de Michigan para se reunirem com ele na Casa Branca nesta sexta-feira (20).

Trump contatou o líder da maioria republicana no Senado estadual para fazer o convite, segundo uma pessoa informada sobre o assunto. Não está claro quantos legisladores de Michigan viajarão a Washington nem exatamente o que o atual presidente pretende dizer a eles.

O presidente Donald Trump durante anúncio nos jardins da Casa Branca, em Washington
O presidente Donald Trump durante anúncio nos jardins da Casa Branca, em Washington - Mandel Ngan - 13.nov.20/AFP

O convite aos legisladores republicanos de um estado decisivo para o pleito ocorre no momento em que a campanha de Trump tenta anular os resultados das eleições em várias regiões por meio de ações judiciais e interferências no processo de apuração de votos.

Trump também procurou diretamente ao menos uma autoridade eleitoral de Michigan, Monica Palmer, membro do conselho de certificação do condado de Wayne.

Alguns membros da equipe do presidente propagam a teoria legalmente duvidosa de que legislaturas amistosas poderiam, em certos cenários, efetivamente subverter o voto popular e enviar ao Colégio Eleitoral suas próprias delegações favoráveis a Trump.

Antes que isso pudesse acontecer, porém, Michigan teria que ao menos concluir seu processo de certificação dos resultados eleitorais, o que um conselho estadual deve fazer até o prazo final de segunda-feira. O conselho estadual de aferição é composto por um painel bipartidário de quatro membros.

Em entrevista nesta quinta (19), um desses membros, o republicano Norm Shinkle, disse estar sob enorme pressão em relação ao seu voto, que segundo ele foi complicado pelo anúncio de dois republicanos do conselho do condado de Wayne de que anulariam seus votos de certificação dos resultados locais.

Trump entrou em contato na noite de terça (17) com Palmer, cujo conselho de aferição do condado inclui Detroit, para agradecer seu apoio, de acordo com duas pessoas inteiradas da ligação.

Palmer e o outro membro republicano do conselho do condado de Wayne, William Hartmann, inicialmente se recusaram a certificar os resultados da eleição, antes de ceder na noite de terça após um clamor público e acusações de que estavam tentando deslegitimar os eleitores de Detroit, dos quais mais de 75% são negros. Palmer e Hartmann são brancos.

O líder do Senado de Michigan que recebeu o convite de Trump, Mike Shirkey, disse em entrevista no início desta semana ao Bridge Michigan, um veículo de comunicação local, que o Legislativo não se moveria para indicar sua própria chapa de eleitores. "Isso não vai acontecer."

Na terça-feira, ao condenar ameaças de violência recebidas por membros do conselho eleitoral do condado de Wayne, Shirkey indicou que o Legislativo conduziria sua própria investigação, mas que não cabia a eles resolver questões sobre a eleição.

"Outras preocupações foram apresentadas aos tribunais, que é o lugar adequado para resolver questões de legalidade em torno do processo de eleições estaduais", disse ele.

As medidas são as mais recentes —e as mais ousadas— da "campanha após a campanha" empreendida por Trump e seus aliados para lançar dúvidas sobre a vitória do presidente eleito Joe Biden. Os republicanos montam desafios jurídicos quixotescos e tentam controlar os mecanismos de certificação dos resultados eleitorais.

Subjacente a tudo isso há uma estratégia política que inclui insinuações racistas sobre as eleições realizadas em cidades como Detroit, Filadélfia, Milwaukee e Atlanta, com grandes populações negras politicamente poderosas.

Os republicanos do condado de Wayne tentaram mudar os votos de certificação que deram, na noite de terça, por meio de depoimentos judiciais divulgados na noite de quarta, 24 horas depois de Trump ter falado com Palmer. Mas do ponto de vista jurídico, funcional e prático, eles não podem fazer isso.

"Não há um mecanismo legal para eles rescindirem os votos", disse na quinta-feira Tracy Wimmer, porta-voz da secretária de Estado Jocelyn Benson, principal autoridade eleitoral de Michigan. "O trabalho deles está feito, e a próxima etapa do processo é o Conselho de Certificadores do Estado se reunir e certificar."

O principal advogado eleitoral da campanha de Trump, Rudolph Giuliani, anunciou na manhã de quinta que a campanha estava renunciando a um processo federal que havia movido para impedir a certificação de resultados no condado de Wayne. A campanha anexou os depoimentos ao aviso de desistência.

Biden obteve quase 95% dos votos em Detroit e cerca de 70% no condado de Wayne, pavimentando o caminho da vitória do democrata em Michigan por mais de 150 mil votos.

O condado de Wayne se viu sob os holofotes depois que Palmer e Hartmann inicialmente se recusaram a certificar os resultados das eleições devido a pequenas discrepâncias em distritos majoritariamente negros —enquanto ignoravam problemas semelhantes em áreas fortemente brancas do condado, onde Biden teve uma porcentagem muito menor de votos.

Um protesto público se seguiu, em que 300 eleitores e líderes pelos direitos civis expressaram indignação em uma videoconferência pelo aplicativo Zoom.

Horas depois, Palmer e Hartmann mudaram de rumo e votaram pela certificação. Mas em seus depoimentos no dia seguinte eles disseram ter sido intimidados a votar pela certificação e que não acreditavam que os democratas do conselho estivessem cumprindo sua promessa de garantir uma auditoria independente dos resultados no condado de Wayne.

O anúncio na quarta sobre a tentativa dos membros republicanos do conselho de mudar seus votos de certificação foi feito em um comunicado à imprensa de uma empresa de relações públicas com sede na Virgínia, a ProActive Communications, que recebeu milhões por trabalho de consultoria para a campanha de Trump e cujo fundador, Mark Serrano, tem sido um defensor frequente do presidente na televisão.

Com a retirada do processo do condado de Wayne, a campanha de Trump e seus apoiadores republicanos perderam ou desistiram de suas principais ações judiciais em Michigan, embora a Suprema Corte do estado ainda esteja considerando um recurso da decisão de um tribunal inferior de não interromper a certificação dos resultados no condado de Wayne.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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