Descrição de chapéu Governo Biden

Partido Democrata precisa unir progressistas e moderados para não perder protagonismo no Congresso

Aprovação de pacote de alívio econômico é primeiro teste, que já expôs fraturas internas na sigla

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Washington

Com frágil maioria no Senado americano, o Partido Democrata precisa unir progressistas e moderados para não perder protagonismo político e permanecer na dianteira do Congresso nas eleições legislativas de 2022.

Parlamentares aliados ao presidente Joe Biden concordam em grande parte com quais medidas querem ver aprovadas neste início de governo, mas têm escancarado divergências na hora de conduzir as negociações de uma agenda considerada estratégica.

O senador Bernie Sanders, durante audiência no Senado - Graeme Jennings - 27.jan.21/AFP

Se intensificadas, as fraturas podem enfraquecer a sigla, que havia selado um armistício interno durante a campanha do ano passado, com o objetivo de derrotar Donald Trump.

O primeiro grande teste da engrenagem democrata —que hoje controla Casa Branca, Câmara e Senado— tem sido o pacote de alívio econômico, diante da pandemia que já matou quase meio milhão de americanos.

Biden e seus aliados moderados queriam tempo para conquistar apoio de republicanos em uma costura bipartidária, enquanto os mais progressistas —liderados pelo senador Bernie Sanders— trabalham para aprovar uma medida robusta o quanto antes, sem espaço para a obstrução de opositores.

Nesta semana, os democratas se movimentaram na direção do que deseja o grupo de Sanders, porém, não sem contratempos.

Na madrugada desta sexta-feira (5), o Senado aprovou uma resolução que pavimenta o caminho para aprovar o pacote de alívio econômico proposto por Biden, no valor de US$ 1,9 trilhão (R$ 10 trilhões), sem apoio dos republicanos. Após quase 15 horas de sessão e cerca de 800 emendas sobre a mesa, a vice-presidente Kamala Harris deu seu primeiro voto de desempate para o aval da medida, em um placar que cravou a polarização do Senado em 51 votos a 50.

Atualmente, existem 50 senadores republicanos na Casa, contra 50 democratas (incluindo aí dois independentes). Em caso de empate nas votações, o voto de minerva é de Kamala, o que garante o controle para o partido de Biden. Na Câmara, a maioria da sigla governista é um pouco mais folgada; são 221 cadeiras, contra 211 da oposição.

O projeto de ajuda econômica ainda precisa ser aprovado pelos deputados, e a expectativa é que isso aconteça sem sobressaltos. Mas, quando voltar ao Senado para a chancela final, os democratas terão que decidir se Kamala usará seu voto de minerva mais uma vez, ou se haverá uma construção bipartidária sobre o pacote.

Até agora, a primeira opção é a mais provável. Na terça-feira (2), os democratas já haviam aprovado uma resolução que permite o uso de um mecanismo especial para votar o pacote econômico, sem obstrução de opositores. Conhecido como "conciliação", o arranjo exige apenas maioria simples dos 100 senadores para medidas que envolvem orçamento e impede que se interrompa a votação.

Apesar disso, democratas moderados disseram que ainda trabalhariam por um acordo bipartidário, o que poderia levar mais tempo do que o previsto. O grupo de Sanders, por sua vez, não quer esperar.

Senador independente por Vermont e ligado à fortalecida ala à esquerda democrata, Sanders vai presidir a Comissão do Orçamento, uma das mais importantes e influentes do Senado, e pretende fazer da Casa um corpo autônomo, e não apenas um braço da Casa Branca.

Na outra ponta, estão os senadores Joe Manchin (Virgínia Ocidental) e Kyrsten Sinema (Arizona), considerados moderados e à direita de Biden. Na terça, os dois votaram a favor da possibilidade de usar a conciliação no caso do pacote econômico, mas Manchin foi logo a público dizer que seguiria na busca de um acordo com a oposição —sem o uso do mecanismo especial, os democratas precisam conquistar dez republicanos para aprovar leis sem obstrução, com 60 dos 100 votos da Casa.

Manchin também é contra incluir no pacote uma regra que aumentaria o salário mínimo federal para US$ 15 (R$ 80) a hora até 2025 —ideia defendida por Sanders, mas que não foi aprovada nesta sexta.

No meio deles, está o líder da maioria no Senado, o democrata Chuck Schumer, com amplo poder sobre a prioridade e os prazos dos projetos que serão votados em plenário.

Nos bastidores, Schumer (que é senador por Nova York) já disse que não há tempo suficiente para abordar o pacote econômico de duas maneiras distintas e que é preciso um consenso na sigla.

Na próxima semana, começa o julgamento de impeachment de Trump no Senado, que deve dominar o debate com as acusações contra o republicano de incitar a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro.

"Estamos esperançosos de que os republicanos trabalharão de maneira bipartidária para apoiar a assistência às suas comunidades, mas o povo americano não pode se dar ao luxo de mais atrasos, e o Congresso deve agir para evitar mais sofrimento desnecessário", afirmou Schumer, na tentativa de equilibrar os pratos.

Sanders argumenta que os democratas conquistaram a Casa Branca e a maioria no Senado em parte porque prometeram mudanças abrangentes na política e recursos de alívio à pandemia com agilidade, e que não apoiar o pacote completo o quanto antes significa trair seus eleitores e minar a fé no governo e no partido.

"Se for esse o caso, se for isso que fizermos, certamente seremos minoria em dois anos", disse Sanders.

A discussão sobre o tamanho do pacote se intensificou nesta semana, depois que um grupo de dez senadores republicanos propôs medidas alternativas, no valor de US$ 618 bilhões (R$ 3,3 tri) —menos de um terço da sugestão de Biden— e o presidente aceitou recebê-los para uma reunião na segunda (1º), que durou duas horas na Casa Branca.​

Apesar da falta de consenso sobre como agir nessas costuras, os democratas se unem em torno das medidas contra a pandemia. A dúvida de analistas é se, daqui para frente, os correligionários de Biden vão fazer de cada discussão um impasse interno.

Vencida a etapa do pacote econômico, questões que historicamente opõem democratas devem entrar em pauta, inclusive a proposta para acabar com o "filibuster" —o mecanismo que permite a obstrução das votações.

Sob tutela de Schumer, as diferentes faces do partido precisam encontrar equilíbrio nas divergências se não quiserem perder espaço para uma oposição que não dá mostras de que atuará somente em segundo plano.

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