A rádio que iniciou a revolução no discurso conservador americano em meados dos anos 1980, WABC, a Jovem Pan nova-iorquina, achou por bem transmitir um aviso na quinta (4), no intervalo do programa de Rudy Giuliani:
"Os pontos de vista, suposições e opiniões expressas pelo ex-advogado do presidente e ex-prefeito, seus convidados e visitantes, são estritamente deles e não representam necessariamente as opiniões, crenças ou políticas da WABC."
Giuliani entrou em seguida, espumando contra a mensagem "insultuosa", cobrando que deveria ter sido avisado "antes de simplesmente fazerem o que acabam de fazer".
E afirmou que o aviso mostrava como vem avançando o ataque à "liberdade de expressão, como eles assustam a todos".
Naquela quinta, o canal Fox News, também nova-iorquino e que foi montado por Rupert Murdoch com algumas vozes tiradas da WABC, havia se tornado alvo de um processo de difamação de uma empresa de aparelhos para votação, Smartmatic.
O valor pedido, US$ 2,7 bilhões (R$ 14,5 bilhões), foi o que mais assustou.
No dia seguinte, o canal financeiro vinculado à Fox News, Fox Business, cancelou o programa do âncora Lou Dobbs, um dos citados pela Smartmatic —e sua maior audiência.
Como comentou o analista de mídia da Fox News, Howard Kurtz, seu colega por décadas, Dobbs muitas vezes ia "longe demais". E havia se tornado "um dos mais fervorosos defensores das alegações de fraude eleitoral".
Mas o movimento, como indica a reação de Giuliani na WABC, é mais amplo do que Dobbs.
Advogados e executivos da Smartmatic chegaram a ser entrevistados-festejados por concorrentes como a CNN, no programa Reliable Sources, e o New York Times, no podcast The Daily.
Mas aqui e ali alguém citava os riscos históricos de processos assim. Um professor de direito em Harvard, por exemplo, afirmou que é através deles que os poderosos tentam calar seus críticos. Outro, vinculado à New York University, contrapôs:
"Sempre temi os processos por difamação como uma ameaça à democracia, uma ferramenta para suprimir dissidência. Dado o fracasso das nossas instituições em refutar desinformação, parece que eles são tudo o que nos resta."
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