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Rebeldes tomam base militar em Mianmar, suscitando temor de mais violência

Membros da União Nacional Karen invadiram um acampamento do Exército, confiscaram armas e mataram soldados

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Carol Isoux
Bancoc | RFI

Um dos principais grupos rebeldes de Mianmar invadiu uma base militar próxima da fronteira tailandesa, aumentando o temor de novos confrontos com as Forças Armadas do país.

A tensão entre militares e alguns grupos étnicos armados mianmarenses vem aumentando desde o golpe de 1° de fevereiro que destituiu a líder civil Aung San Suu Kyi.

Na manhã desta terça-feira (27), membros do grupo União Nacional Karen (KNU, na sigla em inglês) invadiram um acampamento do Exército, confiscaram armas e mataram vários soldados. O porta-voz da junta militar, Zaw Min Tun, confirmou o ataque e disse que "medidas serão adotadas".

Desde o início do conflito, a KNU, que tem milhares de integrantes, posicionou-se na linha de frente contra a junta e chegou a abrir campos de treinamento destinados a formar combatentes. Ela diz contar com ao menos 2.000 opositores ao regime militar que tomou o poder.

Moradores de vilarejos na fronteira entre Mianmar e Tailândia têm fugido para o país ao sul devido ao conflito entre rebeldes Karen e o governo militar
Moradores de vilarejos na fronteira entre Mianmar e Tailândia têm fugido para o país ao sul devido ao conflito entre rebeldes Karen e o governo militar - Athit Perawongmetha/Reuters

Essa não é a primeira vez que a KNU se apropria de uma base militar de Mianmar. A última vez foi no mês de março, matando dez soldados mianmarenses. O Exército respondeu com ataques aéreos nos redutos deste grupo étnico armado, elevando a tensão como não se via havia cerca de 20 anos.

A situação provocou pânico entre muitos moradores do sudeste do país. Cerca de 25 mil pessoas já deixaram o local devido aos confrontos entre os soldados Karen e o Exército mianmarense. Cerca de 3.000 pessoas atravessaram a fronteira, buscando refúgio na Tailândia.

"Ninguém se atreve a ficar por medo de possíveis represálias do Exército", afirmou à agência de notícias AFP Hkara, que mora na cidade tailandesa de Mae Sam Laep, do outro lado da fronteira.

Cessar-fogo em 2015

Desde a independência de Mianmar, em 1948, várias facções étnicas entraram em conflito com o governo central devido à demanda por mais autonomia, por reivindicar o acesso às riquezas naturais do país ou por terem integrado o lucrativo tráfico de drogas.

Em 2015, os militares conseguiram chegar a um acordo nacional para um cessar-fogo com dez milícias, entre as quais a KNU. No entanto, desde o golpe de Estado e a sangrenta repressão deste ano, várias delas ameaçaram desrespeitar o pacto.

Mais de 750 civis foram mortos pela polícia e pelas forças de segurança nos últimos três meses, segundo a Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP). Na noite desta segunda-feira (26), um comerciante morreu baleado em Mandalay, no centro do país.

A AAPP teme também o aumento dos abusos contra a comunidade LGBT. A associação denunciou o caso de uma mulher trans humilhada e agredida durante sua detenção.

A mobilização e a campanha de desobediência civil continuam em Mianmar, apesar da repressão da junta. Pequenos grupos de manifestantes saíram às ruas novamente nesta terça. Os ativistas também publicaram fotos nas redes sociais com os rostos pintados com mensagens contra os militares: "Libertem os detidos!" e "respeitem nossa votação".

Promessa de diálogo

O comandante do Exército do país, o general Min Aung Hlaing, justifica o golpe com a alegação de supostas fraudes nas eleições legislativas de novembro, vencidas pelo partido de Suu Kyi.

O general fez, no último fim de semana, sua primeira viagem ao exterior desde a destituição da líder. Ele compareceu a uma reunião de cúpula da Associação de Nações do Sudoeste Asiático (Asean), que terminou com a divulgação de um documento de cinco pontos para tentar acabar com a violência e promover o diálogo.

As autoridades mianmarenses indicaram nesta terça que examinarão "cuidadosamente as sugestões construtivas" da Asean, mas que "sua prioridade no momento é manter a lei e a ordem".

Thomas Andrews, principal especialista independente da ONU (Organização das Nações Unidas), disse que o general deve afirmar publicamente que vai cumprir o compromisso assumido na reunião da Asean.

"Escrevo para exigir seu compromisso público e que honre o direito fundamental do povo mianmarense a expressar livremente seus pontos de vista, incluindo a oposição às suas ações, sem o medo de ser ferido, morto ou detido arbitrariamente", disse Andrews em carta aberta. "Exijo que liberte rapidamente e sem condições todos os presos políticos detidos desde 1° de fevereiro, como pedem os governantes da Asean."

O especialista também solicita que a junta militar aceite a visita de um enviado especial da Asean a Mianmar e que permita encontros com todas as partes, incluindo o presidente Win Myint e a ex-chefe do governo Aung San Suu Kyi. A Asean afirmou que pretende nomear em breve um emissário especial para "facilitar a mediação".

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