Ataque de Israel mata 42 palestinos, em ação mais letal desde início do conflito

Reunião do Conselho de Segurança da ONU segue sem avançar em negociações

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Nidal al-Mughrabi Stephen Farrell
Gaza e Jerusalém | Reuters e AFP

No sétimo dia de confrontos entre Israel e Hamas, ataques aéreos israelenses na madrugada deste domingo (16) mataram ao menos 42 pessoas, incluindo 10 crianças, de acordo com autoridades de saúde de Gaza. Trata-se da ação mais letal desde que o conflito estourou.

As Forças Armadas de Israel afirmam que as baixas civis não foram intencionais e que as ações miravam um sistema de túneis usado por militantes radicais. Quando a estrutura colapsou após ser atingida pelo ataque aéreo, a destruição levou também as casas onde as vítimas civis estavam.

Do outro lado, militantes palestinos dispararam foguetes contra Israel, no que o Exército do país diz ser a onda mais intensa de lançamentos de projéteis já realizada contra seu território. Agora, o número de mortos em Gaza, desde o início dos combates, chegou a 188, incluindo 55 crianças. Em Israel, 10 pessoas, entre as quais duas crianças, foram mortas em disparos de foguetes pelo Hamas e outros grupos radicais.

Na tarde deste domingo, manhã no Brasil, um homem palestino avançou com um carro contra um bloqueio em Jerusalém Oriental e atropelou seis agentes das forças de segurança de Israel. Policiais então abriram fogo e mataram o motorista, cujo nome não foi divulgado. A ação foi comemorada pelo Hamas, que classificou o ocorrido como uma "operação heroica e ousada".

Paramédicos palestinos em Gaza buscam sobreviventes em meio a destroços de prédio atingido por bombardeio de Israel
Paramédicos palestinos em Gaza buscam sobreviventes em meio a destroços de prédio atingido por bombardeio de Israel - Mahmud Hams/AFP

Sem nenhum sinal do fim da pior escalada de violência entre israelenses e palestinos desde 2014, já que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que a campanha militar continuará com força total, o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reuniu neste domingo para discutir a situação.

O encontro, no entanto, assim como nas duas vezes anteriores, parece que não resultará em uma declaração pública. Ainda que o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, tenha alertado para o risco de uma "crise incontrolável", os EUA continuam resistentes à divulgação de um comunicado conjunto, algo que a Casa Branca considera, neste momento, contraproducente. A China lamentou a obstrução americana e instou o Conselho a agir para encerrar as hostilidades.

Assim como Israel, o Hamas, grupo islâmico que comanda a Faixa de Gaza, afirmou que continuará com os confrontos na fronteira depois de o Exército israelense destruir, no sábado (15), um prédio que abrigava as operações da agência americana de notícias Associated Press e da TV qatari Al Jazeera.

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Após grande repercussão internacional e críticas dos EUA, os militares israelenses defenderam que a torre Jala era um alvo militar legítimo porque haveria escritórios militares do Hamas no local. As Forças Armadas também destacaram o fato de terem alertado os civis antes da ação para forçar uma evacuação.

Em um comunicado, a Associated Press condenou o ataque e pediu a Israel que apresentasse provas de que havia operações ou atuação do Hamas no edifício. Em represália pela destruição do prédio, a facção islâmica disparou 120 foguetes durante a noite, segundo os militares israelenses, mas muitos deles foram interceptados, e cerca de uma dúzia caiu dentro de Gaza.

Ainda assim, israelenses correram para abrigos antiaéreos após sirenes alertarem para o lançamento de foguetes em Tel Aviv e na cidade de Beersheba, no sul do país. Cerca de dez pessoas ficaram feridas enquanto corriam para os locais de proteção, de acordo com médicos de Israel.

Em uma onda de ataques aéreos na manhã de domingo, os militares israelenses disseram ter atingido, na cidade de Khan Younis, a casa de Yehya Al-Sinwar, que lidera as alas política e militar do Hamas em Gaza.

Palestinos que tentavam remover os destroços de um prédio colapsado pelas ofensivas israelenses recuperaram os corpos de uma mulher e de um homem. "São momentos de horror que ninguém pode descrever. Como um terremoto", disse Mahmoud Hmaid, pai de sete filhos que ajudava no resgate.

Do outro lado da fronteira, na cidade israelense de Ashkelon, Zvi Daphna, um médico cujo bairro foi atingido por vários foguetes, descreveu um sentimento de "medo e horror". O gabinete de segurança de Israel deve se reunir neste domingo para discutir a situação —não há, no horizonte próximo, sinais de que o conflito vá arrefecer. Em discurso na TV na noite de sábado, Netanyahu disse que Israel ainda estava "no meio da operação" e que ela "continuará enquanto for necessário."

O Hamas iniciou os atuais confrontos no dia 10, após semanas de tensão em torno de um processo judicial para despejar quatro famílias palestinas em Jerusalém Oriental e em retaliação aos confrontos entre a polícia israelense e palestinos na mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do islã.

Israel reivindica toda Jerusalém como sua capital, um status geralmente não reconhecido por grande parte da comunidade internacional, enquanto os palestinos querem Jerusalém Oriental —capturada pelos israelenses na Guerra dos Seis Dias, em 1967— como a capital de um futuro estado.

De acordo com o Exército israelense, o Hamas, a Jihad Islâmica e outros grupos dispararam mais de 2.800 foguetes a partir de Gaza desde o início da atual fase do conflito. O número já corresponde a mais da metade da quantidade de projéteis lançados durante 51 dias da guerra entre Hamas e Israel em 2014 e já ultrapassou as cifras do bombardeio realizado pelo Hizbullah, grupo xiita apoiado pelo Irã, em 2006.

Israel, por sua vez, lançou mais de 1.000 ataques aéreos e de artilharia contra a densamente povoada Cidade de Gaza desde a última segunda-feira, quando começou essa nova rodada de hostilidade.

Dentro do território israelense, o conflito foi acompanhado de violência entre as comunidades mistas de judeus e árabes do país, com sinagogas atacadas, e lojas de propriedade de árabes e judeus, vandalizadas. Também houve um aumento de confrontos na Cisjordânia ocupada. Ali, ao menos 15 palestinos foram mortos por tropas israelenses desde sexta-feira, a maioria dos quais durante confrontos.

Em um comunicado divulgado no sábado, Guterres, o secretário-geral da ONU, lembrou a todos os lados que "qualquer ataque indiscriminado a civis e estruturas da imprensa viola a lei internacional e deve ser evitado a todo custo". As declarações de Guterres, assim como as ações de diplomacia dos EUA e do Egito, têm sido um esforço estéril para conter a violência dos últimos dias.

Hady Amr, enviado dos EUA, chegou a Israel na sexta-feira para negociações, e o presidente americano, Joe Biden, telefonou na noite de sábado tanto para Netanyahu quanto para o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. Qualquer mediação, no entanto, é complexa devido ao fato de os EUA e a maioria das potências ocidentais se recusarem a dialogar com o Hamas, que consideram uma organização terrorista. Abbas, que pertence ao Fatah, rival do grupo radical islâmico, tem sua base na Cisjordânia ocupada, exercendo pouca ou nenhuma influência em Gaza.

Neste domingo, a Arábia Saudita condenou o que chamou de "violações flagrantes" aos direitos palestinos e pediu uma ação global para encerrar as operações militares israelenses, enquanto outros Estados do Golfo que recentemente estabeleceram laços com Israel, como o Bahrein e os Emirados Árabes Unidos, afirmaram que um cessar-fogo é necessário para a estabilidade regional.

O papa Francisco também pediu o fim dos confrontos e chamou de inaceitáveis as mortes de inocentes nos últimos dias, incluindo de crianças. "Faço um apelo por calma, e aos responsáveis [pelo conflito] para que ponham fim ao clamor das armas e sigam o caminho da paz", disse o pontífice na praça de São Pedro.

“Pergunto-me: aonde levarão o ódio e a vingança?”

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