Descrição de chapéu Venezuela

Em operação dupla, ditadura da Venezuela intimida Guaidó e prende ex-parlamentar da oposição

Líder opositor havia publicado mensagem em favor dos protestos em Cuba horas antes de ação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires

A ditadura da Venezuela realizou duas operações contra opositores nesta segunda (12). Em uma delas, o ex-parlamentar Freddy Guevara foi abordado na estrada Prados del Este, no bairro de Las Mercedes, em Caracas, e foi preso. Na outra, agentes da Força de Ações Especiais (Faes) entraram armados na garagem do edifício onde vive o líder opositor Juan Guaidó, que estava numa caminhonete com seguranças.

Houve disparos de armas de fogo e a ameaça de usar uma granada para abrir o veículo —o motorista foi arrancado à força do carro e posteriormente liberado. Durante a ação, a mulher de Guaidó, Fabiana, publicou no Twitter um alerta de que o marido estava cercado. Assim, jornalistas foram até o edifício, e vizinhos também apareceram para pressionar os oficiais, que acabaram deixando o local.

O líder opositor Juan Guaidó fala com jornalistas em Caracas, na Venezuela
O líder opositor Juan Guaidó fala com jornalistas em Caracas, na Venezuela - Leonardo Fernandez Viloria/Reuters

Guevara, por sua vez, foi levado ao Helicóide, no qual ficam mantidos presos políticos do regime. Em um vídeo gravado pouco antes de ser preso, afirmou ter decidido ficar no país apesar da possibilidade de ser detido "porque é importante trabalhar neste acordo", em referência às negociações entre ditadura e oposição com mediação da Noruega. O vídeo, então, foi interrompido no momento em que um policial bate na janela e ordena que Guevara deixe o veículo.

Segundo comunicado do Ministério Público venezuelano, o ex-parlamentar foi preso devido à ligação com grupos extremistas e paramilitares associados ao governo colombiano. Guevara, que o órgão diz ter uma "trajetória pública de participação em atos de violência no passado", será acusado de terrorismo, atentado contra a ordem institucional, conspiração para cometer crime e traição à pátria.

O governo vinculou o ex-parlamentar e seu padrinho político, Leopoldo López, a violentos confrontos da semana passada em um bairro de Caracas, que deixaram pelo menos 26 mortos.

Guevara, um ex-líder estudantil de 35 anos, foi acusado de incentivar a violência em protestos que buscavam a saída de Maduro e deixaram cerca de 125 mortos entre abril e julho de 2017. Após autorização para processá-lo, ele se refugiou na embaixada do Chile em novembro daquele ano, até que Maduro o perdoou, e ele deixou o local em setembro do ano passado. Ele fez parte do grupo de oposição que se reuniu na semana passada com uma delegação da União Europeia que estuda a possibilidade de enviar uma comissão de observação em novembro, quando haverá eleições para governadores e prefeitos.

Lá Fora

Receba toda quinta um resumo das principais notícias internacionais no seu email

Logo após as operações, Guaidó afirmou à imprensa que, assim como o regime levou Guevara, a intenção também era levá-lo. "E [a intenção era] nos assustar, porque não querem entrar no diálogo de Salvação Nacional", disse ele, também em referência às negociações mediadas pela Noruega e iniciadas poucos meses depois da realização de eleições parlamentares.

O resultado do pleito, do qual o regime de Maduro saiu vitorioso, não foi reconhecido por ao menos 18 países. O processo foi marcado pela ausência de candidatos da oposição e de eleitores —segundo o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), o comparecimento foi de 31%, e o Observatório Contra a Fraude, vinculado à Assembleia Nacional do mandato anterior, de maioria opositora, apontou que esse número não passou de 18%. A retomada das negociações com Maduro, interrompidas em 2019, foi proposta por Guaidó em maio para pedir um cronograma de eleições em troca da "retirada progressiva" de sanções internacionais.

Reconhecido presidente interino da Venezuela por 58 países, o líder opositor descartava a volta das tratativas. “A Venezuela precisa de um acordo de salvação nacional”, afirmou, em maio. “Um acordo que deve ser alcançado entre as forças democráticas [...], os atores que constituem e apoiam o regime e a comunidade internacional.”

A ideia de Guaidó é costurar um pacto que inclua a convocação de um calendário de eleições, considerando as disputas presidencial, parlamentar, regional e municipal, com a presença de observadores internacionais, além da "entrada maciça de ajuda humanitária e vacinas contra a Covid" e a libertação de todos os presos políticos. Em troca, dispõe o compromisso da comunidade internacional para “oferecer incentivos ao regime, incluindo a retirada de sanções" impostas ao país caribenho.

A proposta, apresentada após outras tentativas fracassadas de negociação, foi feita logo após o Parlamento, de ampla maioria governista, ter nomeado novas autoridades eleitorais, que marcaram o pleito de novembro, mas sem atender completamente ao pedido de Guaidó, já que serão escolhidos apenas governadores e prefeitos. Após as operações desta segunda, Julie Chung, secretária-adjunta interina de Assuntos do Hemisfério Ocidental —área do Departamento de Estado dos EUA responsável por questões latino-americanas—, condenou a prisão de Guevara e as ameaças a Guaidó.

"Instamos a comunidade internacional a se unir a nós na condenação desses atos e para pedir a libertação de todos aqueles detidos por razões políticas", escreveu no Twitter.

Com AFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.