Descrição de chapéu Diplomacia Brasileira

Bolsonaro cita 'obsessão' de Biden por questão ambiental e diz que ela atrapalha Brasil

País sofre forte pressão internacional em razão do avanço do desmatamento na Amazônia

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda (30) que o presidente dos EUA, Joe Biden, tem "quase uma obsessão pela questão ambiental" e que isso "atrapalha um pouquinho" o governo brasileiro.

As declarações foram dadas durante entrevista a uma rádio de Goiás.

"Da minha parte, o Brasil está de portas abertas e pronto para continuar a conversa com o governo americano. Obviamente, o governo Biden é um governo mais de esquerda. Um governo que tem quase uma obsessão pela questão ambiental, então isso atrapalha um pouquinho a gente", disse o presidente.

O presidente Jair Bolsonaro durante a cerimônia de comemoração do Dia do Soldado, em Brasília
O presidente Jair Bolsonaro durante a cerimônia de comemoração do Dia do Soldado, em Brasília - Adriano Machado - 25.ago.21/Reuters

"O Brasil é o país que mais preserva o seu meio ambiente. A gente sofre ataques o tempo todo de países europeus. Lá eles não sabem o que é mata ciliar porque não têm. Aqui tem. Nós temos das mais rígidas legislações que tratam dessa questão".

Embora o Brasil seja considerado o país com a maior biodiversidade do mundo, isso não se reflete no compromisso do governo com o ambiente. O Brasil liderou em 2020 o ranking mundial de desmatamento.

O país concentrou mais de um terço da superfície de florestas virgens devastadas no planeta, cerca de 1,7 milhão de hectares, segundo o relatório Global Forest Watch, divulgado pelo World Resources Institute.

Em relação à Amazônia, o desmatamento cresceu cerca de 9,5% de agosto de 2019 a julho de 2020 em comparação com o período anterior. No total, foram derrubados 11.088 km² de floresta nesse intervalo de tempo. Os dados consolidados do ano são os primeiros sob responsabilidade do governo Bolsonaro.

Assim, Bolsonaro sofre forte pressão devido à sua atuação em favor de uma política de desregulamentação de normas de preservação e, principalmente, pelo avanço do desmatamento na Amazônia.

Depois de dois anos em que as críticas vinham basicamente da Europa, a situação mudou com a chegada de Biden à Casa Branca —seu antecessor, Donald Trump, era cético em relação à crise climática e retirou o país do Acordo de Paris, por exemplo. Assim, os EUA se juntaram aos países europeus e também passaram a exigir compromissos e resultados do Brasil nessa área.

O governo Bolsonaro chegou a fazer um gesto em abril, durante a cúpula do clima liderada pelo presidente americano. Na ocasião, o mandatário brasileiro se comprometeu com o fim do desmatamento ilegal até 2030 e a atingir a neutralidade climática até 2050.

Bolsonaro, porém, frustrou parte das expectativas dos americanos, ao não anunciar medidas mais ambiciosas. Repetiu metas já assumidas pelo país e o compromisso expresso em carta enviada a Biden.

Embora tenha mantido o objetivo de redução, o Brasil mudou a linha de base de cálculo sobre as emissões de 2005, que se mostraram superiores com o novo método. Ao mudar a linha de base sem ajustar a meta, o Brasil eleva seu teto de emissões até o fim da década, podendo emitir até 400 milhões de toneladas de gases-estufa a mais do que o previsto no compromisso anterior.

Por fim, as dificuldades em apresentar resultados no combate a crimes ambientais permanecem como o principal obstáculo no relacionamento entre os dois países em temas de ambiente.

Na entrevista desta segunda, Bolsonaro se declarou um "admirador do povo americano".

Sem citar o ex-presidente Trump nominalmente, disse ter torcido pela reeleição do republicano.

"Sou admirador do povo americano. Torci por um presidente [Trump] como cidadão, logicamente não posso me intrometer em eleições de outro país. Temos recebido autoridades do governo americano no Brasil, eles têm demonstrado preocupação com o crescimento da esquerda no Brasil e no mundo", disse.

"O Brasil está sempre pronto a conversar com outros países. Os EUA são um país importantíssimo. Antes de eu assumir aqui, governos anteriores, tirando o [do ex-presidente Michel] Temer, não tinham qualquer simpatia com o governo americano. Então esse diálogo não era bom. Comigo está bom", disse.

"Sabemos e mantemos contato com o governo americano dos problemas que existem na América Latina; que há interesse, por parte dos EUA, em buscar cada vez mais preservar ou manter a democracia nesses países."

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